Aquele ano passou voando. Não houve muito além do que já foi descrito, na realidade. Oscar passou a degustar muito mais da sua vida e de sua paixão, mas só. 2023 havia sido, interessantemente, um período de sossego e alívio para o jovem Andrade, que antes vivia sempre oprimido pelas forças diabólicas do pai. Se formaria no dia seguinte, e tinha certeza absoluta de que Eduardo estaria na cerimônia. Como havia se encontrado com ele há longos 20 dias, em uma reunião não muito confortável, queria agora chamá-lo para a sua casa, após a sua formatura. Mas apenas ele; sem nenhum dos outros — os outros viriam no dia seguinte, dia 17.
Arrumou-se prontamente para comparecer ao último dia de aula. Como o esperado, nada muito relevante ou especial aconteceu, fora os discursos inspirados de professores burgueses falando muitas coisas enervadas sobre o futuro dos alunos. Oscar não pensava muito sobre seu futuro. Só sabia que queria seguir uma carreira artística, e preferencialmente ter Eduardo a seu lado.
Chegando em casa, leu e fez coisas supérfluas. Pelas 22h, deitou-se. Pensava em seu acompanhante, e nele apenas. Via seu rosto, mas não focava muito na face dele. Prestou atenção nas curvas do pescoço, e depois no abdômen, e depois nas pernas… Uma euforia erótica, sentenciada pelo próprio deus greco-romano, desenvoltou-se lentamente. Conseguia pensar apenas naquele corpo… E subitamente, suas mãos se estenderam para o abismo sem regras da superfície debaixo dos cobertores, se direcionando para partes cada vez mais inferiores no seu corpo… Até que ele ouviu a maçaneta da porta sendo aberta, rapidamente retornando à sua posição normal.
Era Felipe, seu irmão. Imediatamente, respirou fundo e disse:
— Oi, Felipe.
— Oi, Oscar! Você vai se formar amanhã, não vai?
— Vou sim…
— Fico feliz por você!
— Hm, mas é claro. Você não vai ter que se submeter pro irmão pelo resto das férias.
— Ei!
— Já vejo o tanto de conversa em que você vai me meter…
— A culpa não é minha se eu não tenho opiniões horríveis sobre tudo!
— Isso é mentira, as minhas opiniões são ótimas…
— Discordo!
— Isso é uma autocracia, discordar é um crime punido com… cócegas! — Pulou para espalhar cócegas pelo corpo do irmão, que não conseguiu parar de rir.
Eventualmente, Felipe saiu do quarto de Oscar, o que permitiu a ele mais privacidade para que pensasse de forma calorosa em seu parceiro. No meio desses devaneios, dormiu.

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A Modos
RomansaOscar Andrade é um jovem poeta, maltratado pela vida. Eduardo Carvalho é um aspirante a músico, introspectivo aos excessos. Quando ambos se conhecem, um laço se forma entre os dois, que se estende aos seus amigos. Capa por Ester Araujo. Novos capítu...