31/03/2023

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Mesmo tendo passado somente seis dias, ambos se extasiaram no último dia do mês, pois se reencontraram. Oscar fez questão de arrumar-se prontamente, e estava estranhamente mais nervoso do que o normal. Ouviu algumas músicas que seu amante havia lhe recomendado no fone, até que escutou, do hall de entrada, o tilintar da campainha, ressonando graciosamente em seus ouvidos. Correu para o primeiro andar e abriu a porta, permanecendo estático por alguns segundos, enquanto contemplava a beleza do visitante. Após um longo devaneio, Eduardo entrou e fechou a porta. Trazia, como de costume, seu violão. Ambos entrelaçaram seus braços e se redirecionaram até o quarto de Oscar, enquanto conversavam sobre conceitos vazios.
    A partir de então, os dois se dedicaram a seus respectivos ofícios artísticos: um planejava canções manejando o violão enquanto que o outro escrevia, eventualmente escapando os olhos para seu grande objeto de inspiração.
    Aquele dia, de fato, era menos usual. Ambos se isolavam, mesmo estando no mesmo ambiente, pois apenas a presença silenciosa de um agradava o outro, e vice-versa. Com o tempo, os dois eventualmente cruzaram os olhos e cessaram todas as suas atividades. Se fitavam com fulgor inimaginável, uma forçosa eloquência que interrompia o andamento da produtividade e erguia o simples contato visual.
    Dentro de minutos, agarraram-se um no outro, aproximaram seus narizes de modo que a respiração dos dois pudesse ser ouvida e sentida, os fluviais suspiros poéticos que se estratificavam de um pulmão a outro. Logo, um beijo desabrochou. Deitaram juntos.
    — Mas então, você tem pensado na faculdade? — perguntou Eduardo. Os dois se olharam.
    Oscar gargalhou, mais pela aleatoriedade do assunto do que pela pergunta. Logo depois, respondeu:
    — Não tenho pensado muito nisso, sinceramente. Só sei que vou fazer Letras. E obviamente cursar a mesma universidade que você — Sorriu, enquanto acariciava os cabelos do amante.
    — Para! Você vai me atazanar até na universidade?
    — Ah, pelo resto da sua vida!
    — Meu Deus!
    Oscar parou de deleitar-se em carícias. Ao invés disso, entrelaçou seus dedos nos de Eduardo, fundindo suas mãos em um cordão amoroso que ligava-nos. Permaneciam se observando e sorrindo, apenas para apreciar a felicidade de estarem juntos. Se aconchegaram um no outro.
    — Oscar…
    — Hm?
    — Você tá com cheiro de perfume caro — Ambos riram.
    — Pelo menos eu tenho a consciência de me arrumar decentemente pra receber meu namorado — ironizou.
    — Ei! Eu me arrumei, viu!
    — Ah, em que mundo? Você literalmente foi me visitar vestindo pantufas de velho — Eduardo corou. Era verdade.
    — Bom, achei que isso ia aquecer o clima… — Agarrou-se no tórax do parceiro.
    — Uau, você quis me excitar parecendo um velho de 80 anos? Que mau gosto…
    — Cala a boca! 
    Dentro de um instante, se perderam em uma conversa, fluindo em falas banais, mas prazerosas, sobre a vida, a morte, e até cascas de banana. Mesmo passando horas, para eles aquelas conversas eram completas em simples segundos. O tempo era mais valoroso, mais saboroso, mais rápido. Contudo, beirando as infelizes 20 horas, Eduardo recebeu uma notificação. Tinha que sair. 
    Os dois se despediram e Oscar prosseguiu a noite mais inspirado. Foi imediatamente conversar. Entrou silenciosamente no quarto de seu irmão e deitou-se ao seu lado. Observou seu rosto juvenil, até quebrar o silêncio:
    — Oi, Felipe.
    — Oi, Oscar.
    — Como vai?
    — Um pouco entediado… e triste, eu acho.
    — Triste? Aconteceu alguma coisa?
    — Não, não, é só que… eu fiquei triste agora que o Eduardo saiu…
    — O quê? — Oscar riu. — Mas você nunca nem falou com ele direito!
    — Eu sei, mas… é que… ele é…
    — Ah, não… É impressão minha ou o meu irmãozinho se envolveu numa mega paixão platônica com o meu namorado?
    — N-Não… — corou. — Ok, talvez sim.
    Oscar gargalhou:
    — Eu não acredito!
    — Mas… Oscar…
    — Hm?
    — Não fala nada pra ele, ok?
    — Mas é claro, meu docinho… — começou a dedilhar os cachos fogosos do menino. — Isso é… tão fofo…
    — Mas é constrangedor…
    — É, mas… é fofo.
    — Cala a boca!
    Ambos riram, e depois se abraçaram. Após isso, começaram a conversar sobre outros tópicos, até que Oscar despertou uma vontade para ler e decidiu devorar um livro, enquanto que Felipe passou a conversar indefinidamente com os amigos no seu celular.

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