A Flor de Cravo

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Quando o clarão que entrou pela minha janela, me acordou, agradeci por já ser dia feito e a madrugada de suplício ter acabado

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Quando o clarão que entrou pela minha janela, me acordou, agradeci por já ser dia feito e a madrugada de suplício ter acabado. Não sei exatamente o que Ethan fez, mas Polly com certeza ultrapassou qualquer limite de noção essa noite. Eles fizeram a noite inteira, e como fizeram. Meus fones duraram apenas uma parte da madrugada, o restante tive que usar os travesseiros como tampões de ouvido.

Suspiro cansada e levo o olhar a minha cômoda, buscando por minha foto com Spencer como fazia todas as manhãs, mas ao ver o espaço em que ela ficava, vazio, lembro que Polly confiscou, e a essa altura já deve ter ateado fogo.

Ontem cheguei tão cansada e com ajuda do álcool, dormi logo após colocar minha playlist para tocar. Confesso que foi surpreendente. Após saber o que havia realmente acontecido com Spencer, imaginei que teria uma noite de dor e sofrimento, mas, por sorte, bebi o suficiente para anestesiar tudo.

Bem, o mesmo eu já não podia dizer dessa manhã. Lembrar de tudo fez doer como se fosse físico. Torci para que tudo não passasse de uma grande mentira, mas ainda doía. "Talvez Polly tenha exagerado, talvez ela só tenha dito isso para que eu o esquecesse!" Desejei em pensamento, mas, se isso fosse verdade, seria a primeira vez que Polly mentiria para mim, o que tornava a hipótese bem remota.

Estava deitada de lado, abraçada ao travesseiro, mas o desconforto de tudo me faz deitar de costas, esticando todo o corpo. Se eu passasse o dia aqui, seria devastador, perderia completamente meu sábado, me sentindo a pior mulher do mundo.

Olho para o móvel ao lado da minha cômoda, e observo os ingressos para o evento internacional de flores na Califórnia. Esse evento havia se tornado uma tradição por aqui, há mais de 50 anos, e desde pequena eu o frequentava, afinal era filha de um botânico reconhecido na área.

"Que saudades, pai!"

Sinto melancolia me lembrando dele. Toda vez que íamos a esse evento, era nosso raro momento pai e filha. Minha mãe nunca quis ir, sempre dizia achar melhor nos esperar com o jantar pronto, afinal, almoçávamos religiosamente no evento.

Sorrio me lembrando de como meu pai amava me mostrar cada espécie de flor e plantas, me contando exatamente como eram realizados os plantios e os cultivos de cada uma delas. Jamais me esquecerei da primeira vez que avistei o corredor de hortênsias, era uma planta fascinante,  tão diferente das demais, era um dia mágico para mim, onde eu desfrutava do melhor da sua companhia.

Meu pai nos deixou há alguns anos, foi vítima de um enfarto fulminante que o roubou de nós prematuramente. Nessa época, eu já estava com Spencer, e a morte do meu pai, fez com que eu me apagasse ainda mais a ele. Spencer me deu muita força, foi paciente, cuidadoso e muito carinhoso. Lembro que naquela ocasião tive certeza que não poderia ter uma vida sem ele.

Respiro fundo e engulo o choro que se forma em minha garganta. Definitivamente eu precisava sair daquela cama, até minha lembrança do meu pai me levava ao Spencer. "Céus, estou doente!"

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