VIOLET BETHENCOURT — Garlendia
Me lembro perfeitamente do dia em que a notícia que minha mãe havia se contaminado, se espalhou pelo castelo. A rainha havia assinado seu leito de morte, porque no final das contas a peste não tinha cura, nem justificativa ou tratamento, apenas sabíamos que era infecciosa.
Nesse dia eu estava atirando arco e flecha com os meus dois irmãos, Castiel e William. A evacuaram para uma casa no campo, sem uma despedida porque tinha que ser assim e nós deixou três cartas, até então eu nunca abri a minha, mas eu decidira que havia chegado a hora de um basta.
No salão de banquete, comi minha última refeição aqui, minhas orelhas de feérica começando a zumbir com a discussão dos machos na mesa, minha mãe colocaria ordem nos meus irmãos e pai rapidamente se estivesse aqui.
— Não iremos deixar que ela vá sozinha!—
Castiel era o mais velho, preocupado com o meu bem estar agora, mas se preocupava mais em encher a cara de vinho nas horas vagas. Sua pele negra estava cercada pelo brilho do fogo.
— E entregá-la a aqueles nojentos, enlouqueceu papai? —
Willian era o segundo mais velho, também preocupado, mas também se preocupava mais com quem seria o próximo na sua cama. Seus olhos de carvão eram sem fim.
Não me levem a mal, eu os amos, por sermos tão unidos e parecidos, eu falo com sinceridade como são, meu avô gosta de me dizer que sou bem sincera.
— Eu não tenho mais cabeça para vocês dois, está decidido. —
O macho mais velho que agora apoiava a mão na testa, era o rei de Garlendia, mas eu gostava de chamá-lo de papai. Estava começando a ficar velho aos 700 anos, pequenos fios brancos começavam a surgir no cabelo crespo e o luto ainda o assombrava.
Pegando um guardanapo eu limpei o canto da minha boca antes de prosseguir.
— A ideia foi minha, vocês dois que estão agindo como bárbaros espumando na comida, irei a Vergas e ponto. —
Os feéricos arregalaram os olhos movendo em minha direção e eu pisquei os olhos com o cenho levantado, será que eram surdos?
Papai agarrou a taça e tomou um gole como se odiasse a minha ideia tanto quanto meus irmãos, mas eu tinha uma carta na manga ninguém em Verga conhecia a princesa do reino inimigo.
— Iremos com você. —
Eu virei minha cabeça tão rápido para Cas que achei que quebraria o pescoço. Willian concordou.
— Sabe que a seguiremos até o fim do mundo, não estamos duvidando que possa fazer isto, sabemos que é capaz, apenas será um reforço. —
Droga Willian, a morte da nossa mãe ainda era muito recente para discursos moralistas. Cas olhou do nosso pai para mim e falou.
— Não iremos perder mais uma rainha. —
Foi assim que nós três acabamos em cavalos antes do sol nascer em direção a Vergas. Era uma viagem de 2 dias para atravessar a fronteira, o que seria mais difícil sem tantos recursos, nosso disfarce seria de uma família fugindo da peste, mas não tem muito a onde ir, a peste chega uma hora ou outra.
Ela corria primeiro pelas veias, as deixando negras como a de um sombrio, então a febre, a dor de cabeça insuportável, os tremores, os olhos negros e por fim o último estágio que era a morte, seu coração se desligava quando estava a beira da loucura. Ninguém sabe quando surgiu ou de onde, a muitas histórias e lendas, mas eu não acredito em nada.
Ela começou a assombrar os reinos vizinhos, até infectar as pessoas de Garlendia. Eu só sei que desde que nasci ela existe.
— Willian, eu acho melhor você seguir como soldado doque cantor. —
Disse Castiel antes de dar um chute no pé de Willian que havia começado a cantar assim que o sol nasceu.
Eu balancei a cabeça, minha cabeça doía e meus músculos também.
— Se ele seguisse como cantor, provavelmente passaria fome. —
Will olhou para atrás, onde eu estava e fingiu uma cara indignada.
— Violet você sempre foi mal assim? —
Eu levantei o queixo sorrindo.
— Dizem que são os genes. —
Cas soltou um suspiro.
— Seremos sacos de batata se ela for igual a mamãe.—
Willian gargalhou, aquela risada cheia dele que eu não escutava a um mês.
— Ela tem as sardas do papai! —
Era oque me diferenciava dos meus irmãos e os meus olhos verdes, mas tínhamos a mesma pele rica, orelhas pontudas e cabelos castanhos.
— Parem de agir como se eu não estivesse aqui!
Ambos olharam pra trás e falaram com si mesmo.
— Está escutando algo irmão? —
— Não mesmo e você irmão? —
— Talvez estejamos loucos. —
Eu iria ficar louca no final dessa viagem, mas era bom que eles estivessem brincando, seria bastante tediante cavalgar por dois dias sozinha, já que eles iriam me ignorar, eu puxei um livro de uma das minhas mochilas, esperaria que esse romance fosse bom.
Não foi bom, era igual a todos os outros, protagonistas femininas que tinham o mesmo final, acabavam casadas ou mortas. Ajudei meus irmãos a fazerem o acampamento numa clareira, se fôssemos mais rápidos e não ficássemos brincando o caminho todo chegaríamos talvez ao entardecer do próximo dia.
William fritava o peixe que eu peguei com uma flecha na fogueira, as fêmeas no meu reino tinham o mesmo treinamento que os machos, principalmente as da nobreza.
Para Garlendia as fêmeas eram as líderes, os símbolos de união, força e determinação. Eu vinha de uma linhagem de rainhas poderosas.
Meus irmãos não queriam o trono sabiam que não era deles, quando eu voltasse de Verga com a minha missão cumprida, seria questões de poucos anos para minha sucessão e já havia feito minha descida, não poderia mais envelhecer e tinha minha vida imortal, quase ri com isso. Onde estava está imortalidade quando se tratava da peste?
Eu estava penteando meu grande cabelo ao lado de Cas que amolava uma espada, eu não podia chegar igual uma selvagem, por mais que as histórias de lá fossem sobre serem monstros, vocês já devem saber que eu não confio em histórias.
— Quanto tempo acha que precisa Vi? —
Começando a fazer uma trança do lado direito eu respondi ao meu irmão.
— Um semana ou menos. —
Willian enfim levantou a cabeça chocado.
— Não temos pressa, vamos esperar o tempo que for Vi. —
Eu endireitei minha postura quando terminei a trança.
— Mas eu tenho. —
O que era verdade, a peste estava chegando aos cidadãos mais rápido que podíamos evitar e se eu tiver que fazer qualquer coisa para evitar isso.
— Matar pode ser... —
Eu encarei Cas, ele já havia ido para guerra, mas isso não mudava minha opinião, tive anos de treinamento para isso.
— Eu não me importo, eu irei matar o rei. —
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𝖬𝖮𝖱𝖳𝖤 𝖠𝖮 𝖱𝖤𝖨𝖭𝖠𝖣𝖮
Fantasy❝ Para salvar seu povo da peste que devasta o reino, Violet a princesa de Garlendia está destinada a matar o rei de Vergas. Junto com os irmãos, ela descobrirá um mundo cheio de criaturas místicas, cultura e política. Oque acontece quando você pass...