Capítulo 27: A última batalha.

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VIOLET BETHENCOURT. — Castelo de Garlendia.

Quando pisei nos degraus da minha casa eu notei que o vento havia mudado de direção, não havia nenhum guarda e nenhum criado a vista.

Encontrei roupas para Raj no quarto de Willian, caminhei sobre o salão de baile vazio, onde já havia visto tanta alegria, parecia meio descascado, mas eu daria ótima festas com Raj agora.

Atravessando os portões da sala do trono, lá estava ele ao lado do trono, olhando para a janela com a mão sobre a cadeira de ouro e veludo. Nossas pegadas deixavam sangue pelo caminho.

— Você o trouxe, mas não em uma bandeja. —

Sua voz estava mais cansada e velha doque antes, isso me machucou de certa forma, ele tinha me ensinado tanta coisa.

— Está decepcionado? —

Ele sorriu tirando a mão da cadeira e virando para mim, as rugas dos milhares de anos bem aparentes quando ele deu um sorriso de canto.

— Nunca joguei com alguém tão bom quanto você, querida. —

Raj tentou me impedir de andar até meu avô.

Ele não pode me machucar mais. —

O lobo respirou fundo se acalmando, eu cheguei mais perto olhando para o trono da minha mãe que agora seria meu.

Havia algumas flores mortas envolta dele, igual nosso solo.

— Foi uma luta justa, você ganhou. —

Ele disse sorrindo, como se estivesse orgulhoso, que justiça foi essa? Matando pessoas como se fossem peças de tabuleiro.

— Matar Raj não é a cura da peste, não é? —

— Eu queria que fosse, mas era a solução dê muitos problemas criança. —

Se Nyate virasse rainha ela estaria a mercê de Garlendia, era mais um truque do meu avô tornando Nyate manipulável para fazer o que ele quisesse, ele não gostava de Vergas e era preconceituoso o suficiente para aceitar uma guerra e não um tratado de paz, mesmo que custasse a vida de uma criança.

— Quando você foi ao oráculo vovô, o que você viu? —

O jogo ainda não havia acabado, eu estava dançando a beira de um precipício.

— Lembro das palavras que atormentam meus pesadelos. " A consolidação dos reinos salvará uma nação do erro cometido, a rainha será a esperança para aquilo perdido." É bem bonito não acha?—

A inquietante confusão da minha cabeça parou por um minuto, aquele silêncio exorbitante onde você não sente nada ou pensa nada.

Então você visualiza melhor o que está a sua frente. Um misógino.

— Como a peste poderia ser um erro cometido? —

— Nunca se perguntou porque ganhamos as guerras contra Vergas? Porque somos maior que qualquer reino? Eu fiz isto quando ainda era consorte da sua avó, ainda existiam Deuses na terra criança, eu encontrei uma, nós fizemos um acordo e ela me deu o poder de controlar uma doença sem cura. Nós éramos imbatíveis, mas um dia, alguém conseguiu matá-la! Nunca achei que Deuses podiam morrer, então a peste saiu do meu controle. Mas sempre foi uma linda arma de controle. —

Nunca foi minha responsabilidade, as mortes das pessoas... nunca foi minha culpa, eu nunca tive culpa nisto...

Mas ele teve.

— Sua filha, seu neto, sua família, como pode? —

— Quanto mais a gente envelhece, mais a gente aprende o que tem que ser feito pela nossa coroa não acha? Você mesma já teve que fazer algo. —

Eu matei Carmella, eu matei Nyate, matei muitos outros.

— Um rei e uma rainha sabe quando perder —

A nossa coroa de esmeraldas surgiu atrás dele e o feérico a pós no banco do trono. Eu nem se quer me mexi.

— Existem mais deuses andando pela terra? —

Ele sorriu, como se minha pergunta tivesse sido inteligente.

— Não algum que você tenha que se preocupar, o mundo é grande, nunca se sabe quais criaturas ainda estão vivas. —

Ele tinha razão.

— Sinto muito, mas não vou poder te convidar para a minha coroação. —

Eu não dei a opção dele responder, uma pequena faca que eu havia conseguido tirar do meu bolso em meio a conversa voou na direção da sua garganta, um corte qualquer em um feérico poderia se curar, mas não na veia certa.

Sua mão foi em direção a garganta enquanto se engasgava, o sangue caia de suas roupas para o chão, pelo bem maior Violet, ele derramou muito mais sangue da sua família doque você.

Ele ficou de joelhos uma última vez para mim e caiu no chão com um barulho molhado, seu sangue se acumulou nas escadas do trono. A cada gotejar do sangue Bethencourt eu dei um passo em direção a coroa.

A pegando em minha mão eu pude sentir o poder dela se infiltrando nas minhas veias, eu me sentei na cadeira e segurei a coroa de frente para mim.

Sangue da minha família escorria pelo caminho até aqui, eu estava destinada a matar no final, mas não a matar um inocente, na minha frente Raj estava sorrindo de canto.

Eu levantei meu queixo dando um pequeno sorriso também, o lobo pós um pé na frente do outro e se ajoelhou.

— Um rei não se curva perante uma rainha. —

Ele nunca havia se curvado para mim, mas algo quente no meu peito crescia.

— Um lobo reconhece quando está de frente para sua rainha. —

Meu parceiro, meu companheiro de batalha e meu rei. Eu me levantei deixando a coroa no trono.

— Ainda temos um mundo para mudar, não acha? —

Raj me encontrou no meio do caminho colocando as mãos na minha cintura e eu enlacei meus braços na sua garganta.

— Oi trombadinha. —

— Engraçadinho. —

Raj juntou a testa na minha e ficamos em silêncio.

Eu te amo.

— Eu te amo muito mais.

𝖬𝖮𝖱𝖳𝖤 𝖠𝖮 𝖱𝖤𝖨𝖭𝖠𝖣𝖮Onde histórias criam vida. Descubra agora