XXII

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Estamos aqui, novamente, de frente para a Árvore Malaskya. Pude ver Skyler pelo canto do olho, nos observando. Sinto falta dele, não da pessoa que ele se tornou, mas do meu amigo.

Malu me ajudou a descer e pegar minhas coisas.

-Viajaremos de novo, meninos. Boa saúde a Fada Melanie. - Desejou o líder, agradeci com um sorriso franco.

Eles se foram para um caminho diferente, dessa vez, acho que voltarão as suas terras. Assim que saíram do nosso campo de visão, todos olharam meio preocupados para mim.

-O que foi?

-Não podemos te deixar sozinha, você está fraca e até mesmo a rainha pode ir atrás de você. - Malu disse.

Eu não havia parado para pensar nisso, ela tem razão.

-Você pode ficar na minha cabana. - Sugeriu Gio.

-Eu acho uma boa ideia. - Alexy disse, Malu concentiu.

-Se todos acham que é o melhor, então eu fico. 

Gio imediatamente me abraçou fortemente, com felicidade por não ter que ficar sozinha. - Vem, eu vou te levar até lá. - Ela pegou suas malas e as minhas também, ela é incrivelmente forte quando quer.

Nos despedimos de Alexy e Malu e demos meia-volta. Passamos bem ao lado de Skyler, eu tive vontade de falar com ele, mas me segurei. Apenas o olhei enquanto andávamos, sendo retribuída com um gelo. Fingi não ter percebido e continuei o caminho.

Chegamos a cabana de Gio, era uma casa na árvore, que nem as de crianças. 

-Bem-vinda ao meu lar doce lar! - Ela abriu a porta, mostrando o interior da casa. 

Tinham muitos pássaros e borboletas entrando e saindo pelas janelas, ela já mencionou há alguns anos que deixava comida para eles, para se sentirem seguros.

Ela deixou nossas coisas no chão e se direcionou ao armário, pegando um pacote de alpiste e derramando um pouco na borda da janela.

-Eu gosto de pintar eles.

Ela soltou essa frase, puxando uma corda ao seu lado, que consequentemente, abriu o forro que cobria o teto. Havia uma grande pintura do céu, com os mesmo pássaros e borboletas de sua casa. Eu fiquei encantada, sabia que ela pintava, mas não que era tão bem.

-É lindo! 

Ela sorriu e guardou o alpiste no armário, logo pegando uma folha na gaveta de baixo. Ela me entregou, era um desenho nosso quando éramos crianças. 

Eu senti vontade de chorar, Gio era tão importante para mim, e eu para ela. Eu a abracei, e agradeci por estar ao meu lado sempre.

Ela me abraçou forte antes de sair dos meu braços e me chamar até seu quarto. Ela abriu a porta a apontou para uma das duas camas que tinham lá, arrumando-a com alguns lençóis e almofadas de coração.

-Você deve estar cansada, pode dormir.

-Você não está?

-Estou com mais fome do que sono. - Nós rimos.

Ela foi para a cozinha e eu me ajeitei para dormir. Deitei na cama, cobri meu corpo e olhei para a parede. Queria não demonstrar, mas estava desesperada. Agora que minhas asas caíram, eu não tenho forças para lutar, nem com um guarda real, nem em uma guerra. Se Paymin não estivesse ali, para me ajudar, eu estaria morta. Na hora, aceitei minha morte, mas agora percebo o quanto tenho medo de morrer.

Fechei os olhos, tentando esquecer de tudo por um momento. Já devo ter feito isso mais de cinco vezes, e só essa semana, isso me preocupa. E bem, mais uma vez estou preocupada, é um poço sem fim, aonde caio, caio, e apenas caio. Cairei até minha morte.

(...)

Acabei dormindo, percebendo apenas quando acordei de manhã cedo. Me sentei na cama e esperei meu corpo se ajustar. Gio entrou no quarto com um pano de prato no ombro e toda suja.

-Caiu em uma poça de lama? 

-Percebi que cozinhar não é uma especialidade minha.

Eu ri, me levantando da cama para ajudá-la. Fomos até a cozinha, e seu estado estava pior do que o da cacheada.

-Eu também estou percebendo. 

Eu ri mais ainda, e peguei um pano para limpar toda a sujeira que ela fez. Logo tomei o controle da situação, peguei a colher de madeira e continuei cozinhando o macarrão com molho de tomate que ela tentava fazer. Terminei rapidamente e servi em dois potes.

-Nossa, você fez em alguns minutos o que eu não fiz em uma hora.

Eu sorri, e nos sentamos na mesa para comer. Gio parecia uma criança em muitos aspectos, mas em comer e se sujar era o principal. Acho que ela é assim, pois amadureceu rápido demais. As vezes conversamos sobre sua infância, ela me diz que seus pais eram ausentes, e ela tinha que fazer as coisas sozinhas. Talvez, ela esteja tentando aproveitar o que não pôde, agora.

-Ei, o que acha de tentarmos usar a espada? - Ela interrompe meus pensamentos. - Pode te ajudar a ganhar forças.

-Acho que sim, ok.

Por fim, terminamos de comer e pegamos as espadas que Alyce nos deu. Descemos da árvore, nos posicionando na grama alta.

-Eu sou melhor do que você, sabe disso não é? - Eu a provoquei.

-É o que veremos. - Ela soltou um sorriso ardiloso e veio ao meu encontro.

Nós lutávamos e nos defendíamos. Ela era boa, realmente, quase me acertou diversas vezes. Eu me senti mais forte por estar treinando, acho que a força das fadas não vem totalmente de suas asas, e sim de seu esforço. Comecei a agilizar e me senti mais disposta do que antes, me determinei a ganhar essa pequena batalha. 

Continuei me esforçando, até que sinto a ponta da espada alcançar meu ombro.

-Eu ganhei! Eu ganhei! - Ela saiu pulando, vitoriosa.

Eu ri baixo e larguei a espada no chão, deitando-me também. Ela logo deita ao meu lado, ainda se vangloriando por ter ganhado.

Ficamos apenas ali, olhando para o céu azul e os pássaros que rodavam sua casa. Após alguns minutos, ofegante e respirando fundo, ela olha para mim e eu para ela.

-Outra rodada? - Ela pergunta.

-Agora.


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