Guardiões - A Colisão

Evil

O vento gelado assobiava por entre as árvores, derrubando as folhas que caíam silenciosamente e se amontoavam a cada barreira de vento.

Vivendo nos escombros do lixão o clone de Felp continuava sobrevivendo mesmo após os eventos catastróficos com Hell.

Enquanto escavava de joelhos mais bugigangas e restos de comida o chão se racha.
Um brilho alaranjado, quente e sombrio encontrou as pupilas sem vida do ser.
Aproximando-se agachado, uma mão com unhas gigantescas e afiadas sai da fenda, o clone ainda tenta fugir, mas é pego pela perna.

As unhas cravam em sua pele, não podendo gritar ele apenas se contorce cravando as unhas na terra suja, lutando pela fagulha de vida que foi lhe dada.

Ele é puxado, quem o agarrou não queria saber sobre o tamanho do espaço, pedaços de pele e carne ficavam por entre as rochas, estalo de ossos que moíam pela velocidade que descia.

Ele e a mão chegam em um bolsão oco, totalmente destruído pela descida o clone ainda tenta se arrastar para longe, mas já era tarde.

Koupturres, um demônio há muito aprisionado dentro do núcleo fervente de Magiterra havia libertado um fragmento de sua alma para tentar retornar ao plano material e ter a possibilidade de absorver a magia e essência de cada ser vivo, se tornando cada vez mais poderoso.

Entrando pelos machucados, olhos e boca, o clone chora pela tamanha dor, o fragmento da alma era grande demais para o clone suportar, a barriga dele rasga e o corte aumenta na vertical, partindo-o em dois.

Mas Koupturres não se dá por vencido facilmente, ele usa seu poder regenerativo para recriar os pedaços, fazendo assim dois clones.

O lado direito recebeu uma parte de uma alma absorvida por Koupturres, nos primórdios, a jovem pálida de olhos verdes-esmeralda acordou, com a mão esquerda totalmente negra, a pele rachada, sendo perfurada por vários espinhos que vinham de dentro da carne.

Era o corpo de Scarlett, mas a consciência era um misto do Clone de Felp e Koupturres.

O lado esquerdo recebeu uma outra parte de alma absorvida por Koupturres, um pouco antes de ser aprisionado pelas fadas responsáveis pelo sistema solar da Magiterra. O cabelo encaracolado e a aparência mórbida, mesmo que ainda em vida, davam um semblante ainda mais sério e maldoso ao clone, sua mão direita enorme exalava uma aura roxa perversa.

Khaos levantou, sem nem ao menos se perguntar aonde ou oque estava fazendo, só queria juntar mais pessoas pro plano perverso de Koupturres.

Apesar de não aparentar, Scarlett estava ainda mais interessada nisso, os desejos sanguinários do demônio estavam mistos com as frustrações e sofrimento da garota quando viva.

As marcas de corrupção cobriam praticamente todo o corpo moribundo dos garotos mortos-vivos e era isso que aconteceria com quem cruzasse o caminho deles, a corrupção os consumiria até sucumbirem.

O dia havia raiado, e os raios queimavam a pele dos dois, uma dor insuportável, que queimava da pele até os ossos, eles se esconderam na mata por um tempo, até o entardecer, quando as sombras cobriam grande parte das áreas e o sol se tornava mais fraco.

--Tem alguém em mente?-- Scarlett perguntou --Só precisa aguentar receber mais uma parcela da alma dele--

Escos quase esquecidos borbulham na mente dos "irmãos" de sangue onix.
Uma arena, gritos, excitação, sangue, lutas... Era uma lembrança antiga, que reverberava da mente de Felp, agora nos clones.

Havia um garoto alto na competição na arena, era alto, de pele âmbar-escura, seus cabelos cobriam os olhos e tinha poucas palavras.

--O garoto da areia-- os dois dizem ao mesmo tempo, Scarlett perguntando e Khaos afirmando.

--Sabe que pra chegar no Reino da Pedra à pé levaríamos dias, certo?Semanas até...-- Scarlett desdenha.

--Não se chegarmos até ele sem sair do lugar-- um corvo negro surge da mão com necroze de Khaos.

Cortando os ares à noroeste, o corvo voa em direção ao Império das Rochas, capital do Reino.

Sandy, o garoto misterioso da competição para ser guardião, mas que foi derrotado no começo por Maggie, estava voltando para casa com um cervo que havia caçado para o jantar.

A ave negra rodopia pelos céus noturnos na direção do dorso de Sandy, o giro transformara a ave em uma broca, que rasga um buraco nas costas do garoto, que solta um enorme grito.

O corvo amaldiçoado preenche o buraco em suas costas, quanto mais se mexia, mais o garoto berrava. Um pentagrama se forma no chão, com Sandy no centro.

A corrupção se espalha, em direção à boca, pedaços se juntam de um lábio ao outro, como uma costura, tapando-a para não despertar atenção dos moradores que estavam de portas fechadas.

Com o pentagrama completo, Koupturres ergue sua garra do chão rasgando o peito de Sandy, infectando-o com mais um dos fragmentos de sua alma.

Sandy é completamente desligado, e o demônio se apodera completamente.
O garoto se levanta e se vira em direção ao País da Grama, para se juntar aos seus novos parceiros de corrupção, mas um berro o para.

--Sandy!-- uma voz feminina enrijece seu corpo --Mamãe estava tão preocupada por você não ter voltado da caça, o que aconteceu? Que sangue é esse na sua roupa e no chão? Cadê o cervo?--

O irmão se vira, assustando a garota que cai no chão. O semblante mórbido, os olhos sem vida e a boca totalmente tapada e negra.

Ele endurece as mãos, a areia que a envolve fica tão condensada que se transforma em dois enormes punhos de rocha.

Sandy estava pronto para esmagar sua irmã com seus punhos, mas a mesma se defende com uma barreira elétrica, afastando-o e o fazendo perder equilíbrio. Samara tem finalmente sua chance de fugir.

Desinteressado, Sandy simplesmente se vira e continua sua caminhada, usando areia e rochas para se mover mais rápido pelas cidades, desertos, prados e florestas. Deixando uma fenda por onde quer que passasse.

Samara vê seu irmão indo para o sudeste, e volta para casa para contar à sua mãe o que havia se passado.

A garota se decidiu, arrumou sua mochila, colocou uma roupa que a protegesse, beijou a testa de sua mãe e saiu.

Colocou em sua cabeça e em seu coração que só retornaria com seu irmão, não poderia deixar uma parte de si ir assim, precisava saber o que tinha acontecido com Sandy.