Cordas

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Anne e Felp se revezavam numa vigília noturna para cuidar de Rush, que ardia em febre. Os outros optaram por levá-lo às montanhas para ser cuidado pelos druidas, mas Anne queria cuidar de seu amigo, e temia que a viagem o prejudicasse. Luiza tinha saído para procurar Ricardo e avisar o que havia acontecido com a equipe.

A noite de quem havia lutado não foi menos sofrida. Bella rolada de um lado para o outro em sua cama, suando, tendo visões fragmentadas vindo e voltando enquanto seu braço infeccionava, saindo uma mancha escura que cresceu tentaculosa.
A dor de quando os tentáculos da mancha se espalhavam era aguda, como se aquilo devorasse sua carne enquanto se tornava parte de si.

Três batidas quase derrubam sua porta, era Maggie com um semblante assustado.

—Olha, eu sei que você vai achar isso muito bizarro, mas eu preciso te mostrar—
Maggie diz tirando sua blusa e mostrando suas costas, que tinham uma marca enorme, bem maior que a de Bella.

Parecem com as marcas daqueles esquisitos, será que aconteceu com o Seth também?— Bella pergunta e ambas vão até o quarto dele.

Ao fechar o punho para bater os grunhidos de Seth adentram os ouvidos de ambas. O golpe que havia perfurado a barriga do mesmo estava completamente inchado, escorrendo algo estranho, um líquido escurecido com cheiro de podre e as marcas negras começaram a crescer envolta.

—Foram aqueles desgraçados, eles fizeram algum coisa com a gente.— Maggie fala mostrando sua marca também.

—Deve ser algum tipo de infecção, acho que a Anne pode ajudar a gente— Seth diz se levantando devagar.

—A minha irmã já está cuidando do Rush, ela já está cansada o suficiente, não precisa de mais 3 doentes. Nós somos os mais fortes, não podemos dar trabalho pra eles— Bella diz com a mão sobre o peito de Seth, o impedindo de avançar para fora do quarto.

Seth sente uma ânsia como um golpe em seu estômago, vomitando aquela mesma coisa viscosa e preta que escorria do seu machucado.

—Seth, tá tudo bem aí?— Anne bate à porta. —Felp tá na sala com o Rush, queria conversar com você se não for muito incômodo—

Os três congelam, Bella segura a porta enquanto Maggie ajuda Seth que estava caído.
Bella diz para eles não falarem nada, apenas movendo seus lábios. O silêncio tomou conta daquele corredor e do quarto. Eles conseguiam ouvir o barulho do sangue circulando e o coração batendo. Aquele som de silêncio agoniante, quando você escuta apenas suas vísceras se movendo dentro de si.

Anne aguarda a resposta mas sem sucesso, pensa consigo que talvez ele estivesse dormindo, sente um sentimento de gratidão ao lembrar de que ele se jogou na frente de algo por ela e sai, esboçando um leve sorriso no rosto.
Suas sapatilhas batem na madeira do corredor, cada vez mais longe.

—Ninguém pode saber o que está rolando. Não estamos mais sobre o domínio do Rhavi, mas a Léa não hesitaria em deter qualquer coisa que ameace o bem-estar do Reino é isso inclui a gente— Bella sussurra.

Atrás dos dois amigos, Bella avista dois pontos de luz vermelha, vindo de debaixo da cama de Seth. A princípio, ela pensou em ser algum tipo de vagalume estranho, mas foi percebendo aquilo lhe encarando, e por um momento, ela ficou imóvel.

Com um arrepio que subia da planta dos pés ao topo da cabeça, é um suor que escorria pela sua espinha ela enxerga uma mão grande, com dedos finos e unhas afiadas, que bateu na madeira quase que como uma melodia pavorosa.

O som das unhas batendo pairou pelo quarto, Seth e Maggie viraram assustados. A mão virou para cima e usou a cama como apoio para sair das sombras.

Não dava para dizer se o quarto escuro com aquela criatura magra se erguermos devagar era mais ou menos assustador. Cada vez que ele se mexia, seus ossos estalavam e rangiam. Aquele som seco fazia os três se arrepiarem.

Ele balança o pescoço numa espécie de alongamento, bem na frente da janela, enquanto o vento balançava as cortinas finas.

—F-foi você? O que você fez com a gente?— Maggie questiona se virando depressa.

—Koupturres. A personificação da corrupção. Vou direto ao ponto, mandei meus subordinados injetarem um veneno desenvolvido por mim, preciso de vocês e compreendo que em condições normais vocês não aceitariam. Eu tenho o antídoto e prometo dar assim que terminarem esse favor para mim. Caso não queiram o veneno vai matar vocês e não haverá ninguém pra defender seus amiguinhos frágeis— Koupturres desdenha enquanto o vento assobia quarto à dentro.

Os três sabiam que apesar de todo esforço e de não serem tão frágeis assim, Anne, Felp, Luiza e Rush não segurariam as pontas sem os mais fortes do grupo. O equilíbrio dos reinos estaria perdido.

Eles tinham ciência que seus amigos eram e seriam capazes de feitos grandiosos, mas que por enquanto, a decisão de sucesso ou falha era unicamente deles.

—Nós aceitamos— Maggie aperta a mão de Seth que acena que aceita também. Bella fica receosa. Mas virada de chave lhe dá uma ideia.

Demônios não são seres naturais. A humanidade e o sobrenatural sempre andaram lado a lado, surgindo parcialmente juntos.

Medo, Agonia, Ira, Vício, Corrupção...
Todo sentimento que emana negatividade é a fonte de surgimento de um demônio. E como todo demônio, para selar um acordo ele necessita de fazer...

—Um pacto!— a voz de Bella corta o quarto quase como uma flecha —Eu proponho um pacto, prometa que irá nos dar o antídoto assim que terminarmos o serviço e que não vai mais nos perseguir—

—Perfeito!— Ele estende a mão e Bella aperta. Faíscas e um cheiro de enxofre exalam do cumprimento. —Vamos partir agora, quanto antes melhor—

—Seth, a Anne me pediu pra te perguntar se— Felp abre a porta de uma vez.

Ele paralisa ao ver sua amiga selando um pacto com uma criatura esguia e alta. Os três amigos olham para o rosto do garoto com a mesma expressão de choque. Sem piscar.

Eles evaporam em uma fumaça negra e penas de corvos. Deixando tatuado na retina do garoto aqueles olhos vermelhos e sorriso amarelado do demônio.

Guardiões - A ColisãoOnde histórias criam vida. Descubra agora