Guardiões - A Colisão

Meu Boneco de Neve e Eu

O toque mágico do inverno deixava o País da Grama mais bonito, o frio e a camada fina branca sobre a grama que verdejava ainda por baixo era simplesmente encantador.

As famílias se reuniam para festejar o fim de mais um ciclo e se uniam passando por cima de seis orgulhos e diferenças. O caloroso amor aquecia o peito e salvava a todos da hipotermia invernal.

O País do Gelo era o que mais tinha ligação com esse período de final de ano.

Quando a Rainha Lizz III deu a luz à um bebê de cabelos vermelhos como fogo todo o país parou para cultuá-lo, os mais velhos diziam que a Rainha havia sido agraciada com um bebê vindo do Panteão Gelado, Plamen, o deus do calor, inteligência e prosperidade havia abençoado o bebê.

A criança foi chamada de Krilati, o nome que significava alado condizia com a expectativa que todos colocaram encima da criança, e as mesmas foram atendidas e por vezes superadas.

Krilati trouxe uma prosperidade jamais vista ao País, suas relações diplomáticas com os outros países vizinhos elevaram tudo em seu reinado. Embora o gelo fosse cruel, Krilati trouxe soluções para isso, aumentando a produtividade das plantações ano após ano. 

Num dia 25 do último mês do ano, Krilati acabou por falecer, todo o país parou para prestarem homenagens e prantear por ele. Se passaram alguns meses e o seu filho primogênito assumiu o trono e proclamou que o luto por seu pai deveria ser transformado em um feriado anual, para relembrarem o quão incrível havia sido sei período em vida e a quantidade de bem feitorias que ele havia proporcionado para gerações.

O país atualmente é comandado por Heili, bisneta de Krilati e em poucos meses de governo as coisas, bem... Não estão sob controle.

--Majestade, vosmecê precisa sair de sua camarinha, o país não irá governar-se sozinho-- A empregada de Heili pede.

--Eu não consigo viver sem ele, Madora, não consigo-- Heile grita chorando, se esperneando na cama como uma criança.

--Já fazem mais de 4 meses, majestade, faça isso pelo legado da sua família e pelo povo-- Madora puxa Heili pelo braço, sua maquiagem estava completamente manchada pelo seu rosto e seus olhos, vermelhos e inchados.

--Ainda dói tanto, não dá pra lidar, eu ainda não consigo acreditar que ele me deixou no altar daquela maneira, fiquei tão envergonhada, traída, me senti impotente...-- Heili desabafa.

--Exatamente por isso vossa senhoria deveria esquecê-lo, mexer na ferida só vai fazer a cicatrização demorar mais-- Madora responde.

--Quer saber?-- Ela enxuga as lágrimas rápido --Você tem toda razão, eu vou seguir em frente--

--Isso só vai fazer bem pra senhora-- Madora sorri.

--Mas é tão difícil...-- Heili fraqueja.

--Essas não são atitudes de um Rainha do Gelo, seja gélida e impetuosa como o frio das montanhas, congele e quebre esse sentimento em mim fragmentos dentro de você. Tem milhares de pessoas muros a fora contanto com sua governante-- Madora responde e sai.

Há quatro meses, Heili havia sido abandonada no altar por seu noivo, um dos nobres da família Strotsk, destruída e se sentindo humilhada, Heili saiu correndo da catedral invernal.

Ainda sim, depois de todos os conselhos e conversas com seus familiares, um enorme pedido de desculpas da família Strotsk, o apoio do povo... Heili ainda se sentia sozinha, como quando foi deixada plantada no altar.

Heili estava decidida a esquecer Tradhtar, seu ex-noivo, ela desceu até a biblioteca real, que ficava abaixo do castelo e lá, procurou nos livros arcanos antigos um feitiço que a ajudasse.

Um deles, escrito pela antiga Rainha Diellore, mais conhecida como A mestra das Nevascas, sua presença era imponente, congelando todos os homens que a vissem, apenas um toque era capaz de congelar o mais quente Golem de Lava.

O livro estava cheio do conhecimento de Diellore, e as informações sobre o item mais poderoso que já havia estado naquelas tundras geladas do País, a Zircônia de Gelo uma das 9 Jóias elementais.

A Opala de Fogo e a Esmeralda Floral perdiam seu brilho diante do poder imensurável da Zircônia, no livro ainda haviam feitiços diversos, como fazer criaturas de gelo, invocação, gelo verdadeiro, mas nada disso interessava Heili, ela queria o último feitiço do livro, o feitiço sobre almas gêmeas.

Com esse feitiço, você poderia produzir sua própria alma gêmea, justamente o que Heili precisava, alguém para poder esquecer Tradhtar.

Heili foi até a sala do feiticeiro do castelo, que não estava lá por hora, antes passou em um dos salões onde a Zircônia estava.

Usando o poder da jóia e o feitiço de e Diellore, Heili invocou sua alma gêmea.

Do meio da fumaça fria surge o seu príncipe, um homem alto, loiro e com a pele azulada e fria. Heili estava tão maravilhada que nem sequer ligou para o fato de seu amado ser feito de neve.

Ele a tirou para dançar, e a mesma aceitou sem pensar duas vezes. O salão central se tornou pequeno diante de tantos sentimentos que não cabiam.

O boneco de neve e Heili estavam enamorados, seus olhos de botão a encantavam e juntos, dançaram a mais bela dança que as paredes feias do País do Gelo haviam presenciado.

O sol, embora fraco, na janela fazia o boneco suar, mas ele não conseguia parar de sentir aquilo juntamente com Heili.

A Rainha usou a Zircônia de Gelo pra mantê-lo gelado para seu bem, para o bem de ambos.

Logo na manhã seguinte, Heili acordou sozinha, apenas com a jóia em sua mão, desceu as escadas e procurou por seu amado, e quando o encontrou, não conseguia acreditar no que via.

O boneco teve a metade debaixo do corpo derretida e se arrastava pela sala do trono assustado com o que restava de si prestes a virar apenas água.

Tomada por um ódio tremendo e junto com a influência da jóia, Heili decide jogar o país e o mundo inteiro num inverno eterno e mortal.

Nenhum raio de sol iria encostar na pele frágil de seu boneco, o mundo era quente demais para ele.