Segredos Mascarados

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Os túneis que levariam os garotos até o esconderijo da Aliança eram ingrimes e escuros.

Os sons da água pingante e os guinchos dos ratos eram as únicas coisas que se podiam escutar, junto com um forte odor de esgoto.

Felp não queria falar para Fernando, mas estava com um mal pressentimento sobre aquilo. O lugar era sujo demais pra ser usado como passagem, no mínimo o chão ainda teria rastros de pegadas em meio ao lodo, mas não havia nada.

Ao chegarem em um pequeno cubículo eles batem em uma porta de ferro à frente.

--Você tem certeza de que isso é seguro?-- Felp pergunta depois de Fernando bater.

--Não tem como saber se não tentar-- Fernando responde.

A porta se abre, um barulho enorme se faz, o estalar das ferrugens revelam a velhice de tudo ali.

Um ser estranho com o rosto coberto e trajados totalmente de preto guiou os dois. Felp estava assustado com tudo e olhava envolta o tempo inteiro, já Fernando estava centrado e olhando para frente sempre.

Uma única luz se acende acima dos dois garotos e risadas são ouvidas ao fundo.

--Finalmente vocês vieram ao nosso encontro, meus bebês-- Falou uma voz feminina.

--Não era um menino e uma menina? Ali tem dois garotos...-- Uma voz masculina grave diz.

--Nós não conhecemos pra saber como ele se descobriu, somos péssimas pessoas mas não somos preconceituosos-- A voz feminina responde.

--Ah não, de forma alguma, eu não sou a filha de vocês-- Felp fala balançando os braços.

--Esses garoto sou eu de outra realidade...-- Fernando é interrompido.

--Nós tínhamos cientistas renomados da capital trabalhando para nós com essa hipótese, fascinante nosso filho ter descoberto isso-- A mulher falou.

--Saiam logo da escuridão, quero ver o rosto dos meus malditos pais-- Fernando fala irritado.

As luzes se ligam e Fernando vê seus pais pela primeira vez na vida. Sua mãe estava com um vestido todo vermelho e seu pai com um terno totalmente azul, ambos mascarados assim como todos da Aliança dos Vilões.

--Eu imagino o tamanho ódio que você sente por nós, mas no entendo essa obsessão em nos procurar-- A mãe fala.

--Pra entender por quê eu passei por tantos momentos horríveis, pra descobrir quem eu realmente sou-- Fernando fala baixo.

--Bem, nossa meta como casal sempre foi ter tudo, somos gananciosos e queremos cada vez mais... O esforço nunca te leva a lugar nenhum, se força de vontade fosse o suficiente os mais pobres seriam a elite, mas o esforço deles é apenas pra sobreviver num sistema que só favorece os mais ricos-- O pai fala.

--E nossa meta não é nos igualarmos à eles, e sim, sermos a elite da elite, empobrecer os ricos e aí sim ter um sistema igualitário e com duas crianças nos tomando tempo só nos atrapalharia-- A mãe fala.

--Isso não é desculpa pra ter jogado a gente na rua, vocês não tem nem nunca tiveram um pingo de amor por nós dois-- Fernando grita.

--Não demos amor nem carinho, mas sempre cuidamos de vocês. Levávamos comida e remédio enquanto vocês dormiam, roupas e lençóis para se proteger do frio, sempre estivemos lá-- O pai responde calmo.

--Nós vivíamos numa caixa de papelão, eu apanhava quase todos os dias nas ruas, trabalhei numa mina de carvão pra ter o que comer com a Amora, é doentio ouvir que vocês sempre estiveram lá, por quê é mentira...-- Fernando se ajoelha chorando.

--Vem Fernando, vamos embora, isso tá sendo demais pra você-- Felp fala tentando puxar Fernando.

--Não vamos conseguir dialogar enquanto o garoto se focar apenas na sua dor e ignorar a dos outros...-- A mãe fala.

--Não tenho nada para ignorar, vocês nunca sentiram nada por nós-- Fernando continua.

--Olha aqui, eu não faço ideia de tudo que você viveu, seus pais tiveram os motivos deles e embora tenha uma motivação justa, os fins não justificam os meios, eles erraram e você tá certo em não gostar deles, mas ser odioso dessa maneira não te leva a nada-- Felp fala na frente de Fernando.

--Se você defende é igual a eles-- Fernando diz.

--A minha mãe matou o meu pai pra me protegerem, você acha que eu não sei do que estou falando? Ainda dói muito, mas eu perdoei por quê eles tiveram motivos e eu perdoei ela. Não podemos mudar o passado, mas podemos fazer o presente ser menos dolorido, vamos embora logo, você não está em condições de falar com eles dois-- Felp fala puxando Fernando embora.

Os dois saem ainda mais silenciosos do que antes, Felp perguntava a si mesmo o que se passava com Fernando. Todo o seu ódio era até certo ponto compreensível mas o garoto a todo momento parecia que iria sair de controle.

A sede de vingança contra seus pais que o abandonaram crescia a cada instante, mais e mais. Com sua intuição aguçada Felp sentia que algo estava transbordando e prestes a derramar, ele sentia algo em Fernando que era difícil de explicar.

Os dois chegaram aonde os snaidrauG ficavam e os Guardiões também estavam lá.

Fernando passou por todos sem falar ao menos uma palavra.

--O que aconteceu lá, Felp?-- Maggie pergunta.

--Foi horrível, isso só deixou o Fernando pior... E eu tô falando como se conhecesse ele há anos-- Felp suspira sentado ao lado de Maggie.

--Como são os meus pais, garoto?-- Amora pergunta.

--Não deu pra ver, mas eles são altos, se vestem de uma forma estranha e usam umas máscaras. Eles falaram que sempre estiveram cuidando de vocês, mas ter filhos atrapalharia o plano deles-- Felp responde.

--Qual plano exatamente?-- Zack perguntou.

--Eles querem um sistema justo, sem pobres e sem ricos, para todos serem iguais-- Felp diz.

--Olhando assim até parecem nobres-- Lúcia fala.

--Nem parece que patrocinam experiências em humanos, destruíram cidades inteiras, são sanguinários e já fizeram milhões de pessoas sofrerem... Tudo por ganância-- Aurora ironiza.

--De todos os snaidrauG 6 são experimentos de lugares que eles são parceiros e os que não são, são filhos deles. Eles estragaram as nossas vidas-- Moonboy diz.

--Que experimentos, exatamente?-- Luiza pergunta.

--Eu e o Zack somos de um laboratório que fazia testes de humanos e animais. Lúcia e Aurora do convento que produz armas humanas sem consciência, Lotto também só que ele foi pra um colégio militar. E o Gab, nosso treinador era de uma produtora de clones no Sul-- Moonboy responde.

--E você?-- Rush pergunta à Margareth.

--Eu era obrigada a lutar todos os dias pra não morrer-- Margareth responde.

--Infelizmente eu também, sua cicatriz também foi seu pai quem fez?-- Maggie pergunta.

--Não, foi minha querida mãezinha. Meu pai é o benevolente que cuidou de mim-- A garota responde.

Os garotos continuam conversando enquanto o sol cai no horizonte.

Guardiões - A ColisãoOnde histórias criam vida. Descubra agora