Part 1, Infernum.
3:00 am.
Os olhos verdes fixaram-se novamente na decoração não tão higiênica feita com garrafas de vidro e madeira velha na parede do bar. O jovem atendente mexia-se rapidamente, tentando suprir todos os pedidos feitos, e ela não ligava.
Ele retirou os cabelos pretos que insistiam em cair em sua testa, por vezes tentando lança-la um sorriso sedutor, mas ela continuava não lhe dando a mínima atenção. Ela estava ocupada demais com a garrafa de cerveja e os pensamentos torpes para cogitar desviar o foco deles.
A calça jeans, a blusa preta lisa, os coturnos desamarrados e a jaqueta de couro davam a impressão de que moda era uma das suas últimas preocupações - e realmente era. Ele se perguntava como uma mulher tão bonita poderia estar num lugar como aquele, mas o ambiente era irrelevante se houvesse uma cerveja gelada para aliviar-lhe a sede.
Ela fez uma careta, como se algo desagradável passasse por sua mente, antes de suspirar e passar as mãos pelos cabelos castanhos escuros.
- Outra.
Ela murmurou, enquanto depositava a garrafa vazia no balcão.
Ele obedeceu.
Ele sentiu-se mortalmente frustrado quando não recebera nem ao menos um olhar dela. Ela parecia entediada demais para pensar em lhe dar alguma atenção.
Ela tomou mais um gole.
Ela olhou no relógio.
- Espera por alguém?
Ele questionou, finalmente recebendo um olhar daqueles furtivos olhos que mais pareciam esmeraldas. Ela riu, desviando a atenção para a garrafa novamente.
- Gostaria de estar.
Ela murmurou, e ele achou a rouquidão da voz dela um charme.
- Coração partido?
Ele questionou, e ela arqueou uma sobrancelha.
- O que sabe sobre corações partidos?
Ela questionou ironicamente. Ele riu.
- Eu sou um atendente de bar. Quem mais pode saber de corações partidos do que eu?
Ela sorriu, apreciando o sarcasmo do rapaz.
- Sim, para a sua pergunta.
Ele suspirou.
- Então ele fez você pegar o seu carro e vir parar num bar qualquer, numa estrada de Ohio?
Ela riu ironicamente.
- Ele...
- O que há de errado?
Ela o olhou fixamente.
- Ele não existe.
Ele franziu o cenho, confuso.
- Mas, você disse que ele havia partido seu coração, como pode não existir?
Ela suspirou.
- Você disse que ele havia partido meu coração. Eu apenas confirmei que meu coração havia sido partido.
- E então?
- Ele não existe.
- Por que não? Como não?
Ele questionou, confuso, enquanto jogava o guardanapo que enxugava os copos sobre o ombro direito e cruzava os braços. Ela tomou mais um gole da gélida bebida.

VOCÊ ESTÁ LENDO
Detroit
AcciónPoder. Cinco letras, uma obsessão. Em um lugar onde o pecado é rotina, onde tudo tem um preço, há aqueles que fariam tudo para obtê-lo. Os fins podem justificar os meios, mas os meios poderiam justificar os fins? Essa era a pergunta em questão.