Hey, boa noite.
A música título de hoje é I Know You, da Skylar Grey.
Enjoy.
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Camila prendeu o ar sem esforço enquanto seu corpo rodopiava de forma rítmica, mesmo sem o som.
A saia rosada, junto ao collant, e sapatilhas da mesma cor lhe faziam parecer ainda menor. Os cabelos pendiam num coque firme no alto da cabeça.
A prática do ballet havia sido interrompida aos dezesseis anos, por questões puramente acadêmicas. E por se envolver com Daniel, também.
Assim como o tênis, o ballet era utilizado como forma de manter a leveza e delicadeza de cada um de seus movimentos. A graciosidade era tão importante quanto a força.
Camila era uma mulher respeitada, e admirada. Precisava se portar como tal.
Observou o próprio reflexo solitário naquela sala enquanto executava um jeté seguido de um rond de jambe milimetricamente perfeitos. Seu rosto mal parecia demonstrar o esforço que o corpo fazia, a expressão mantinha a seriedade de forma quase serena.
Tomou uma respiração profunda antes do en dehors, e curvou seu corpo para frente numa graciosidade que era praticamente profissional.
Seus pés doíam levemente, estava horas ali. Todas as maneiras de expressão de Camila eram solitárias, ela era seu próprio público, e talvez por isso a perfeição fosse tão cobrada.
Andou até a bolsa acima de uma das cadeiras no canto da sala e retirou os grampos do cabelo, podendo, finalmente, solta-lo. Retirou as sapatilhas e a saia, trocando-a pela calça jeans preta e tênis de mesma cor.
Guardou as roupas dentro da bolsa e acenou levemente para Arthur enquanto deixava o centro do Ballet Renaissance.
Colocou os óculos escuros e a bolsa com as roupas no banco do passageiro, seguindo até a cafeteria mais próxima. Era, aproximadamente, 10:00 da manhã.
Desceu do carro e ativou o alarme enquanto entrava no Starbucks. Sentou-se numa mesa próxima à janela enquanto folheava o cardápio.
Na noite anterior, Lauren havia entrado, e para variar, elas acabaram transando na cama de Camila. Haviam dormido depois, sem maiores acontecimentos.
E era isso.
Lauren vinha até si, elas transavam, dormiam e ela ia embora depois. Era sempre assim.
Camila suspirou, perguntando-se por quanto tempo aguentaria aquilo. Ter apenas as migalhas dela era torturante, ainda mais a querendo por inteiro.
Mas uma das virtudes de Camila era a paciência. Só não sabia se valeria a pena esperar por algo totalmente incerto.
E além do mais, Camila sabia que deveria abrir mão de Daniel e de vários de seus luxos se quisesse ter Lauren, afinal, se queria ter ela apenas para si, a regra se aplicava ao outro lado da moeda, também.
Ela engoliu em seco. Estaria disposta a abrir mão de quase tudo?
Sim, ela estava.
Era o inferno como aquela mulher havia transformado sua vida perfeita e linear numa estrada cheia de curvas em meio a uma tempestade. Perto de Lauren, toda a perfeição era medíocre.
Camila fechou o cardápio mal lido e seguiu até o balcão, pedindo uma xícara de café meio amargo e dois donuts de chocolate e creme.
Sentou-se novamente e esperou seu pedido enquanto via o habitual céu nublado de Detroit.

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Detroit
AksiPoder. Cinco letras, uma obsessão. Em um lugar onde o pecado é rotina, onde tudo tem um preço, há aqueles que fariam tudo para obtê-lo. Os fins podem justificar os meios, mas os meios poderiam justificar os fins? Essa era a pergunta em questão.