Requiem For a Dream

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Hey, boa noite.

A música título de chama Lux Æterna, ou Requiem For a Dream, Clint Manssel. (Sim, é a música do filme de mesmo nome).

Enjoy :)

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Detroit, 1998.

A chuva caia fina em Detroit. Ruas desertas pareciam ainda mais tenebrosas, mesmo com a pouca luz proveniente dos decrépitos postes. Pequenos galhos caídos de árvores morrediças serpenteavam o asfalto mais do que cediço.

A adolescente observou as luzes se apagarem aos poucos nas casas que sobraram por ali. Seu corpo tremia em decorrência do frio, mas ela sabia desde o início que a liberdade possuía seu preço. Seus pés descalços por vezes hesitavam por pisar em algum dos galhos espalhados por ali, mas aquilo era infinitamente melhor do que os saltos que maltratavam e feriam seus pés.

Estando no meio em que estava era importante parecer, ao menos um pouco, bonita.

Era meio de uma madrugada qualquer, e apesar da chuva e do frio congelante, sua mente trabalhava com todo o fervor de uma locomotiva. Seu franzino e trêmulo corpo mantinha marcas de Norte à Sul, arroxeados por ser jogada tão bruscamente sobre camas, mesas ou qualquer outro canto que lhe permitisse ganhar o suficiente para sobreviver mais um dia.

Mas, arroxeados também por fazer o que fazia. Por ser uma puta. Por sobreviver.

Normani não se permitia chorar, não mais. Sabia que o mundo era injusto e sabia, também, que sua sorte não dependia do seu esforço. Ela nem ao menos existia para alguém como si. Sorte era o consolo que não se permitia apegar.

Assim como Deus. Ele havia arrancado o Deus que habitava em si, há anos atrás. Ela retirou os cabelos molhados do rosto, sabendo que teria sua vingança algum dia. Talvez o fizesse pagar com o mesmo sangue que ele arrancou de si.

Ela engoliu em seco ao ver o carro parar ao seu lado. Seria o quinto naquela noite, entretanto, não poderia se dar ao luxo de recusar. Recuperou o seu melhor sorriso antes do vidro baixar lentamente e revelar os olhos que jamais esqueceria até o dia de sua morte.

Azuis. Tão azuis que causariam inveja a todos os oceanos.

Normani sentiu como se pudesse ver o céu depois do mais temeroso inverno já vivido por qualquer outra pessoa no planeta, e sabia desde o início que aquela era a sua única porta para uma, talvez, primavera.

- Você está bem?

Ele questionou. Normani franziu o cenho, nunca havia ouvido aquela pergunta antes. Seu sorriso morreu, e a única resposta foi o massacrante silêncio.

Ele suspirou, tendo os olhos escuros e firmes sobre si.

- Entre. Por favor.

Ela assentiu mecanicamente. Sua mente gritava heresias, gritava por hesitar mais algum hematoma.

- Qual o seu nome?

- Normani.

- É... incomum. Mas isso também tem sua beleza, não é?

Ela continuou imóvel.

- Quantos anos você tem?

Ele questionou, vendo os franzinos ombros estreitarem em tensão, como se o corpo dela pudesse reter a si mesmo.

- Dezoito...

- Dezoito?

Ela assentiu.

- Diga a verdade, por favor.

DetroitOnde histórias criam vida. Descubra agora