Perfection

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A segunda música titulo de hoje é Perfection, na versão do Clint Manssel. Mas vocês podem achar o original na versão do Tchaikovsky também.

Enjoy :)

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Daniel fitou os papéis a sua frente. A garrafa de whisky jazia vazia sobre o carpete de seu escritório, assim como sua gravata.

Sabia que ela seria liberada naquela manhã, e sabia também que o julgamento seria realizado dali a dois dias. Era sua função representa-la, mas a verdade era que não conseguiria observar-lhe a face sem transformar-se num rompante de lágrimas.

Camila havia sido o grande amor de sua vida, mas a verdade é que só existia um grande e doloroso vácuo onde Daniel acreditava ser repleto com a mesma ternura da face de seus dezesseis anos, quando a viu pela primeira vez, há quase dez anos no passado.

A verdade doía como nunca. Camila nunca o havia amado, era apenas a ilusão de um fremito não compartilhado. Uma vibração solitária, um som seco, hostil.

Seu coração parecia ter sido quebrado de tantas maneiras que os cacos espalhavam-se dentro de si, e tudo doía. Daniel nunca havia experimentado algo tão dilacerante quanto aquela sensação.

Aquela menina, aquele pequeno ser de luz carregava também a escuridão dentro de si. A escuridão que acabava de lhe destruir completamente.

Não havia, ali, motivo nenhum para continuar existindo.

Desceu as escadas em passos débeis, pegando a chave de seu carro na bancada e seguindo até o mesmo. Entrou, acelerando com toda o frenesi de seu desespero, sem saber que era observado, ao longe, por Camila.

O taxi já havia ido embora quando a morena gritou o nome de Daniel, mal sendo ouvida. A noite sem estrelas era impiedosa quando Camila deixou a mansão dos Humbert em disparada, rezando para qualquer Deus existente para conseguir chegar a tempo.

Discou o número de Adam, sentindo a agonia tomar conta de si. Ninguém parecia saber sobre o paradeiro de Daniel, e aquilo a estava sufocando ainda mais. Precisava encontra-lo.

Pediu para que Dylan o rastreasse, e quando recebeu as coordenadas exatas, acelerou ao ponto de ultrapassar todos os sinais vermelhos que via. Todos haviam se transformado em borrões.

Quando Camila finalmente chegou até a ponte Ambassador, pôde ver a imagem que jamais esqueceria em toda a sua vida.

Daniel estava em pé na parte externa da estrutura de proteção, agarrando-se às vigas. O vento forte batia contra seu rosto, bagunçando o seu cabelo, tão habitualmente arrumado.

Camila largou o carro de qualquer maneira, ouvindo buzinas e xingamentos atrás de si. Mas não se importou, não naquele momento.

Daniel observou o rio correr abaixo de si. Estava determinado no momento em que saiu de casa, mas ver aquele rosto sempre era o seu bálsamo. Sempre era o abraço terno dentro da escuridão.

- Daniel! Por favor, não!

Camila implorou, mas ele nada fazia além de fita-la. As lágrimas grossas escorriam por seu rosto, e naquele momento, o aglomerado de pessoas começava a se formar. Era a última coisa que Daniel queria naquele momento.

Ele fitou Camila. O rosto dela já estava banhado em lágrimas assim como o seu. Doía como o inferno, mas Daniel sabia que nunca poderia viver em um mundo em que ela não fosse sua.

A amava. Camila havia sido o amor de toda a sua vida, e Daniel sabia que a amava desde o momento que a havia visto. Tinha sido amor à primeira vista, à última vista, às vistas de todo o sempre.

E então como o que sentia dentro de si, o vácuo lhe acolheu como um velho amigo. A morte lhe enlaçou com a calmaria contrária de seu coração destruído pela única pessoa que poderia uni-lo novamente.

Daniel aceitou seu fim de braços abertos, silenciosamente e de forma indolor. A morte, afinal, havia sido muito mais piedosa do que o amor.

Camila caiu em seus joelhos no chão. Inconsolável, destruída, repleta pela culpa que sentiria por toda uma vida. Tudo era silêncio, tudo era dor.

Adam e Gabriela chegaram a tempo de ver tudo, mas ali não havia espaço para nada além do arrebatador choque pela perda.

O corpo de Daniel foi achado um pouco mais de um dia depois. Sua morte foi destaque na imprensa, e mais uma vez o nome de Camila foi citado inúmeras vezes, a viúva de Daniel Humbert.

Apenas Camila sabia o porquê Daniel havia se entregado a morte, e levaria aquele segredo consigo pelo resto da vida. Deveria ao menos o respeito a ele.

Daniel foi velado e sepultado sucintamente. Família, amigos próximos e apenas isso. Uma chuva fina se estendia enquanto o túmulo foi deixado aos poucos, um a um. Camila foi a última a ficar.

No momento em que saiu, pôde finalmente dar o luto a quem havia perdido a única pessoa que foi capaz de amar.

Normani ajoelhou-se em frente ao túmulo do grande amor de sua vida, e ali, chorou todas as lágrimas que pertenciam a ele.

E apenas a ele.

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Qualquer coisa falem comigo no curiouscat.me/normxnix ou @normxnix.

Bom dia

Xx

DetroitOnde histórias criam vida. Descubra agora