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DULCE

Surpreendentemente, a quantidade de pessoas esperando na frente do portão de Christopher era ainda maior do que a que tínhamos visto no centro da cidade.

Por sorte, nem uma única alma podia ver através dos vidros escuros das janelas de Alfonso, e Christopher passou despercebido enquanto atravessávamos os portões e ele entrava na casa de Alfonso e Anahi conosco. Enquanto eu segurava o encosto do sofá para poder tirar meus sapatos, eu o observei andar de um lado a outro como um animal preso. Sem saber exatamente o que fazer ou o que dizer em uma situação como aquela, fiquei quieta. Parte da raiva dele tinha sido causada pela traição?
Sentindo meus olhos, ele se virou para mim.

— Sinto muito, Dulce.
Eu sei que disse que conversaríamos, mas ainda não tive notícias de Dan e preciso saber como estão as coisas na casa de Adeline. Balançando a cabeça, deixei de me apoiar no sofá e caminhei até ele.
— Você está louco?
Nem estou pensando nisso agora.
Também estou preocupada com o carinha.
Ele suspirou e esfregou a testa.
Sem poder fazer nada, encontrei os olhos de Anahi.
— Alfonso? — ela chamou quando o marido se juntou a nós na sala de estar.
— O motorista poderia levar Christopher na casa de Adeline?
— Sim, ele ainda não foi embora, Christopher. Se as coisas estão tão ruins na sua casa, não podem estar melhores na casa de Adeline.
— É disso que tenho medo...
Finalmente, seu telefone começou a tocar.
— Dan?
O que está acontecendo? — Ele cobriu os olhos com a mão e soltou um suspiro sofrido. — Sim.
Eles o viram sair?
Ok.
Ok. Tudo bem, traga-o pelo portão.
Estou na casa de Alfonso.
Estarei aí em alguns minutos.
Terminando a ligação, ele se virou para nós.
— Ele está trazendo Aiden.
Aparentemente, as coisas estão ainda piores na casa de Adeline e, quando ele se ofereceu para trazer Aiden de volta para que ela pudesse cuidar de tudo, ela não relutou.
Fui até ele e toquei seu braço.
— Isso é bom, não é?
Você quer que eu vá também, para que eu possa distrair Aiden do que está acontecendo lá fora?
Ele tocou meu rosto, a palma quente contra minha bochecha.
— Só se você prometer me distrair também.

Eu não pude deixar de sorrir; ele andava conseguindo muita coisa de mim ultimamente.

— Talvez possamos pensar em uma solução. Christopher entrou com Aiden nos braços, e Dan logo atrás com uma expressão feroz.
— Olha quem está aqui para vê-lo, grandão — Christopher murmurou para Aiden, cujo rosto estava enterrado em seu pescoço enquanto os pequenos braços o abraçavam firmemente. O pijama que ele usava era lindo, de estampa de carrinhos azuis.
— Oi, Aiden. — Fui até eles, sem saber o que estava acontecendo exatamente ou a gravidade da situação.

Pelo amor de Deus, que dia difícil.
Começou tão promissor, mas se transformou em uma completa bagunça.
Aiden parou de se esconder e me deu um pequeno aceno.

— Olá, Dulce.
Você veio por minha causa?
Meu rosto se iluminou.
— Vim.
Seu pai me perguntou se eu queria ver você, e eu quis na hora.
Como você está?
— Tive um dia difícil.
A mamãe estava bem triste.
Eu não queria deixar ela sozinha, mas ela disse que eu não podia fazer nada.

Ah, droga.
Olhei para Christopher  e vi que ele mantinha a mandíbula cerrada ― e que mandíbula sexy, ele tinha.
Balancei a cabeça e me concentrei no menininho ansioso.

— Todos temos dias difíceis, de vez em quando.
Sabe o que eu faço quando tenho um dia difícil? — Segurando a camisa do pai com a mãozinha, ele só balançou a cabeça para indicar que não sabia.
— Tomo um pouco de sorvete e assisto O Rei Leão ou Zootopia com minha melhor amiga. Eu adoro esses filmes.
— Você vê filmes com Anahi ?
— Vejo, ela adora esses filmes tanto quanto eu.
Ele hesitou um pouco, com os olhos já sonolentos.
Dan deve tê-lo tirado da cama.
— Eu também adoro. — Ele olhou para o pai.
— Papai, posso ver filmes com Dulce agora? Tive um dia bem difícil.
Christopher se forçou a rir, apesar da tensão, e afastou os cabelos de Aiden do rosto.
— Já passou da hora de dormir, Aiden.
— Só um pouquinho, papai.
Por favor?
— O que acha de construirmos um forte bem aqui na sala de estar para assistir filmes nele?

Talvez, se convidarmos seu pai para assistir com a gente, ele não diga não. Os olhos de Aiden se arregalaram e ficaram cheios de esperança quando ele se endireitou nos braços do pai.
Pelo canto do olho, vi Christopher sorrir e Dan balançar a cabeça.

— Mas não sei construir um forte, Dulce. Nunca fiz isso antes.
E você?
— Claro que já, mas acho que não consigo construir sem sua ajuda.
Pode me ajudar?
— Sim, eu posso fazer isso. — Ele tocou o rosto do pai para chamar sua atenção.
— Podemos construir uma barraca, papai? Você pode assistir com a gente.
Se a Dulce  começar a chorar de novo, você pode me ajudar a abraçá-la e dizer que ela está sendo boba.
Christopher riu e concordou.
— Certo.
Faremos isso. — Ele colocou Aiden no chão e, assim que seus pezinhos o tocaram, ele começou a ir para seu quarto.
— Vou pegar meu travesseiro preferido!
— Vou pegar os lençóis. — Enquanto eu passava por Christopher, ele segurou meu braço e me parou.
Ergui a sobrancelha e olhei para ele.
— Seu fetiche de novo?
Ele se inclinou e me beijou.
O toque suave dos seus lábios e o agradecimento com intimidade me deixaram louca quando sua língua entrou furtivamente na minha boca.
Quando me dei conta do que estava acontecendo, acabou.
— Obrigado por estar aqui, Dulce.
Estar com a gente — ele disse com uma voz rouca.
Aiden chegou correndo com dois travesseiros na mão.
— Eu trouxe meu outro travesseiro favorito para você, Dulce.
— Obrigada, pequeno humano — eu disse baixinho.
Ele cuidadosamente colocou os travesseiros no sofá e pegou minha mão.
— Vamos lá, eu vou te mostrar onde estão os lençóis. — Ele me puxou para longe do seu pai e parou na entrada do corredor.
— Papai, você vai nos ajudar?
— Eu tenho que falar com Dan antes que ele saia.
Volto logo depois disso.
— Você não quer assistir a um filme com a gente, Dan?
— Eu tenho que ir, grandão.
Você vai cuidar do seu pai e de Dulce  por mim, não é?
Aiden estufou o peito e fez que sim.
— Sim.
Eu vou fazer um bom trabalho.

Com essa promessa, ele me puxou para seu quarto para que pudéssemos escolher entre seus lençóis favoritos.
Depois de vasculhar vários conjuntos, escolhemos dois azul-claros, um verde que quase combinava com a cor dos seus olhos, um vermelho e um branco com trens vermelhos e pretos.
Também roubamos alguns travesseiros da cama do seu pai.
Quando voltamos, nem Christopher nem Dan estavam lá.
Aiden jogou tudo que estava segurando no chão e me ajudou com os meus.

— Você pode abaixar as almofadas?
Vamos empilhar todas no sofá para ficarmos mais altos.
Vou ver onde seu pai está.
— Dulce ...
você acha que ele deixa a gente tomar sorvete?
— Hummm. — Estreitei os olhos para parecer que estava pensando muito sobre aquilo.
— Eu vou perguntar, mas acho ele diria que é um pouco tarde para tomar sorvete.
Aiden cruzou os braços sobre o peito, imitando minha posição, e inclinou a cabeça para o lado.
— Sim, eu acho que você está certa.
Mas ele não diria não se a gente pedisse amanhã!
E talvez a mamãe possa ir também.
— Sim.
Você está certo.
Amanhã vamos perguntar a ele.

Ajudei-o a subir no sofá para que ele pudesse jogar as almofadas no chão e segui em direção à porta da frente, onde eu ouvia a voz de Christopher.

— Ei — assobiei, chamando a atenção dos dois homens muito zangados.
— Ele já está preocupado; por que não falam mais baixo?
A carranca de Dan se aprofundou, mas ele não disse nada.
Christopher estava no telefone e parecia prestes a perder a paciência.
— O que está acontecendo? — perguntei a Dan.
— Adeline — ele resmungou, seu tom deixando clara sua opinião sobre a ex de Christopher.
— Adeline, não vou fazer um acordo com você.
Eu não me importo com como isso afeta sua carreira.
Você deveria ter pensado antes de decidir que seria uma boa ideia me trair com um diretor para conseguir um papel.
Olhei para Dan e engoli as palavras que ameaçavam sair.

Putz, cara.

No instante seguinte, o corpo inteiro de Christopher ficou tenso. Eu praticamente podia ver a veia pulsando em seu pescoço.
Ele fechou os olhos para respirar fundo, o que não pareceu relaxá-lo.

— Você não fará isso com Aiden.
Você não vai fazer com que ele passe por isso. — Dulce! — Aiden gritou meu nome, e a cabeça de Christopher se virou em direção ao som.
— Desculpa.
Já vou — murmurei, e seus olhos suavizaram quando me viram.

Eu corri de volta para Aiden sem dizer mais nada.

O que estava acontecendo, afinal?

Te odeio, Uckermann | Vondy - Adaptação Onde histórias criam vida. Descubra agora