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DULCE

Às vezes, leva anos para que sua vida mude. Em alguns casos, uma vida.

Você acorda certa manhã, olha em volta e de repente percebe que tudo mudou.
As pessoas que você pensou que eram seus amigos, entes queridos... eles se foram há muito tempo.
Sua vida não é a mesma.
O tempo passou e você nem percebeu nada.

No entanto, às vezes... às vezes, pode mudar bem na frente dos seus olhos. Só é preciso um piscar de olhos. Em um momento, você acha que pode lidar com qualquer coisa que a vida apresentar a você... e no seguinte... bem, para falar de um jeito bonitinho... você está ferrado.

Enquanto eu estava sentada sozinha no quintal da Anahi, esses eram os pensamentos que tomavam minha mente.
Que eu estava ferrada.
Que eu tinha ferrado com tudo.
De verdade.
Deixei Anahi e Alfonso dentro de casa depois de lhes contar as notícias e saí porque "a noite estava linda e eu tinha que observar as estrelas"... o que na realidade significava que eu precisava tomar um ar fresco e fazer o melhor que pudesse para garantir a mim mesma que tudo ficaria bem e que eu deveria apenas respirar. Quando Anahi se levantou para se juntar a mim, pelo canto do olho, vi Alfonso  segurando a mão dela com delicadeza e balançando a cabeça. Não achei que ele fosse capaz de mantê-la ali dentro por muito tempo, mas valorizava o fato de ele estar tentando, de qualquer forma. Tendo respirado com sucesso por pelo menos alguns minutos sem ter um ataque cardíaco repentino, olhei para trás para ver se Anahi e Alfonso ainda estavam de pé.

Eles estavam.
E estavam dançando.
Sem música.

Ainda não sei o que naquela cena atingiu meu coração com tanta força, mas me lembro da forte dor que senti no peito. Não me interpretem mal, não era ciúme. Eu não queria nada além de felicidade para eles, mas talvez fosse a primeira vez que eu tivesse desejado que alguém me abraçasse, me olhasse como Alfonso  estava olhando para Anahi. Os dedos dele estavam brincando com o cabelo dela enquanto a cabeça de Anahi descansava em seu peito. Olhos fechados. Não havia música. Nada além dos dois no mundo. Então, por um breve momento, eu quis o mesmo para mim. A sensação de segurança de que havia alguém ali para segurá-lo quando a gravidade fosse demais para aguentar por conta própria, que havia alguém em quem confiar o suficiente para se soltar. Só por um momento, eu queria que alguém me segurasse e me dissesse que tudo ficaria bem, que meus medos eram desnecessários.

Quando ouvi música vindo de perto, hesitei apenas por um momento antes de me levantar do chão e subir cuidadosamente o muro que ficava entre mim e Christopher Uckermann. Ao seguir o caminho de pedra, parei de me mover quando o vi em pé na frente das portas de vidro me observando. Era uma versão ligeiramente diferente do Christopher Uckermann que eu tinha visto naquela primeira noite com Anahi: camisa de botões, mangas arregaçadas, calça preta... a única diferença era que ele não parecia estar tentando entender alguma coisa. O oposto, na verdade. Enquanto nos encarávamos, parecia que ele tinha entendido tudo. Ele era tudo o que uma garota poderia querer. Sem falar que ele era o papai mais gostoso. Sentindo um calafrio repentino nos ossos, envolvi meus braços com as mãos e continuei caminhando em direção a ele. Ele não desviou o olhar do meu quando abriu a porta para mim. Antes que ele pudesse dizer qualquer coisa, dei um passo à frente, me inclinei e o beijei.

Não foi um beijo do tipo "eu quero trepar com você loucamente", mesmo que não me importasse em fazer exatamente isso. Foi um... tipo diferente.
Um tipo que eu não queria citar.
Ah, inferno.
Bem. Foi um beijo doce.
O tipo de beijo que eu evitava.
Ele não me parou.
Ficou lá, seus lábios se movendo muito suavemente contra os meus quando fiz o meu melhor para acalmar meu coração aos berros. Quando o braço dele tocou minha cintura com delicadeza, para me afastar ou me puxar ― eu não poderia arriscar ―, me afastei dos seus lábios e comecei a ouvir a música novamente.

Te odeio, Uckermann | Vondy - Adaptação Onde histórias criam vida. Descubra agora