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DULCE

Eu li a entrevista.

Eu li a entrevista várias vezes, tentando entender o sentido, mas não; meu nome ainda estava lá e fui acusada ― sem rodeios ― de ter sido a pivô do fim de um casamento.

Como eu poderia ter destruído algo que nem existia?
Será que as pessoas eram tão idiotas assim?

Quando comecei a ler pela quinta vez, Anahi teve que puxar o tablet das minhas mãos, que o seguravam com força.

— Mas que merda é essa? — gritei, mas depois baixei a voz quando as outras pessoas se viraram para me olhar feio.

Eu me inclinei para a frente na cadeira e agarrei as bordas da mesa para me segurar. Então, meu telefone começou a tocar e minha raiva atingiu outro nível.

— Como eles conseguiram meu número?
Anahi suspirou.
— É uma confusão.
— É mais do que uma confusão.
O que diabos eu fiz pra ela?
— Você não fez nada, Dulce.
Eu suspeito que isso seja apenas para tirar os holofotes dela e de Christopher... ou ela está tentando se vingar dele.

Quem sabe?
Desde o divórcio, ela tem feito de tudo.
Você conhece o ditado: não existe publicidade ruim... acho que ela levou isso muito a sério.

Estávamos no centro da cidade, em nosso café favorito, esperando a chegada da nova equipe editorial de Anahi para podermos repassar seus planos para o próximo romance. Mais do que isso, era uma comemoração pelo contrato.
Nós soubemos da entrevista por Megan, a agente de Alfonso, quando ela ligou para avisar Anahi que havia todo um frenesi da mídia em torno dele e que provavelmente eu seria incomodada por telefonemas.

Se eu soubesse que seria assim mesmo, nunca teria saído de casa naquela manhã. Assim que passamos pelos portões, fomos seguidos por paparazzi.

— Talvez ela estivesse esperando voltar com ele.

Sei lá, aparentemente ela estava, segundo ela mesma.
Talvez, se eu não tivesse escalado aquele maldito muro, eles já estariam juntos novamente.
Christopher nunca disse nada sobre uma reconciliação, mas o que eu sei sobre o relacionamento deles, não é?

Eles foram casados por anos e não só isso, eles também têm um filho juntos.

— Não pense assim, Dulce.
Se o destino deles fosse estarem juntos, não importaria quantos muros você pulasse. Respirei fundo e soltei o ar.
— Podemos sair, sabe?
Tenho certeza de que, se ligássemos para Alfonso ou Christopher, eles viriam nos buscar. — Por que eu tenho que fugir?
Eu não fiz nada.
E quero estar nesta reunião, caramba.
Não fiz nada de errado que exija que eu enfie o rabo entre as pernas e fuja desses urubus.
A mesa começou a vibrar novamente, então peguei meu celular e o desliguei; era isso ou enfiá-lo no copo de água na minha frente. Antes que Anahi pudesse falar, seu celular tocou.
Rosnei e levei as mãos à cabeça, frustrada.
— Não, espere, é Christopher.
Você quer atender?
Pensei no que responderia.
Eu não deveria sentir a necessidade, mas infelizmente senti.
— Acho que não quero fazer isso agora — admiti, por fim.

Quando Anahi se retraiu e olhou para o aparelho, acrescentei:
— Não é nada com ele, Anahi.
Só não quero falar sobre isso agora.
Eu quero agir como se nunca tivesse acontecido por, pelo menos, mais algumas horas e me concentrar na reunião.
— Ok, então não vamos atender.
Você está certa.
Ele sabe onde você mora, então você não pode fugir.
— Nesses últimos dias, eu tenho me perguntado de que lado você está, e isso meio que me responde, acho.
Ela me deu um sorriso bobo.
— O que posso dizer?
Eu amo o fato de ele ter feito você se apaixonar por ele tão facilmente, e acho que vocês combinam; ele não vai te deixar partir com facilidade, não importa o que você faça ou diga.
Acho que você está livre da maldição, Dulce Savinon, e não sabe o que fazer consigo mesma.
— Por favor. — Eu bufei.
— Ficarei livre de maldições no dia em que me casar com alguém, usando um vestido branco. Esse é o ponto de inflexão na nossa família. Ninguém chegou lá ainda.
E mesmo assim...

Te odeio, Uckermann | Vondy - Adaptação Onde histórias criam vida. Descubra agora