Rúben Dias vivia os seus dias concretizado com a escolha que havia feito, escassas semanas antes e que, na sua ótica, lhe tinha permitido dar um mais passo em frente. Contudo, era difícil não pensar no que tinha deixado para trás.
Era-lhe, imensamente, custoso e não tinha qualquer problema em admitir que existiam dias em que o sol brilhava mais do que outros, apesar de este não ser uma assídua presença pela friorenta cidade inglesa de Manchester.
Mesmo assim, o rapaz da Amadora considerava-se realizado.
Apesar de encontrar-se em território que ainda não possuía um completo conhecimento, não se sentia como um indivíduo deslocado. Apreciava o reboliço dos habitantes britânicos, a azáfama rotineira da metrópole e a vivacidade que caracterizava a cidade.
O ambiente no seio do seu grupo de trabalho era tão idêntico àquele que deixara na capital portuguesa, pelo que não era uma missão difícil aclimatar-se. Embebia a grandeza do clube que persistira em tê-lo e que era familiar àquele que, sempre, o teria. Estava familiarizado com as vitórias e a sua celebração, com a derrota e a sua interiorização e reflexão. Conquistara e perdera em Portugal, que saberia como reagir em Inglaterra aquando de tal.Conhecia que subia mais um degrau em direção ao topo mas que, já antes, sobrevoara um céu, igualmente, alto.
O Benfica tinha-lhe ensinado tanto e em como aprender que estava preparado para, em Manchester, o voltar a fazer. Estaria, eternamente, grato ao clube que o formara aos mais diversos níveis e que lhe permitira fomentar as inúmeras qualidades que possuía e que, naturalmente, conhecia como as demonstrar.Era futebol na sua técnica e na sua paixão. Líder em cada competição. Constante aprendiz num desporto que, tanto, lhe diz. Sabia que podia ser mais e procurava por (ser sempre) melhor. Não se permitia permanecer na euforia do que conquistava, ambicionando ir em busca de mais conquistar. E não se lamentava quando possuía a infelicidade de perder, ao invés, trabalhando para não deixar voltar a acontecer.
Alimentava-se do trabalho ao qual, de corpo e alma, se dedicava, da família que amava, de cada amizade que estimava, de um constante desenvolver de si mesmo que o motivava e do amor que, lá no fundo, procurava.
Tornava-se City e, jamais, deixaria de ser Benfica.
Recordava-se de Portugal e não o ia esquecer mas, mal podia esperar, pelo que Manchester lhe poderia oferecer.
E, naquele exato momento, estava a deslumbrar um dos melhores presentes que, daquela sua nova aventura, iria receber.
De fones nos ouvidos e com o seu habitual livro contra o peito, olhava para o lado, quase que como o provocando a sentir-se, propositadamente, ignorado.
Era mais um dia e ela estava ali.
Tão senhora de si.
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Senhora de Si | Rúben Dias
RomanceOnde Isaura, tão senhora de si, permite-se ser de alguém que não dela mesma.