17. Isaura Mourinho

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Os nossos lábios moviam-se numa sincronia inigualável e proporcionavam-me uma sensação inqualificável. Era arrebatador. Simplesmente encantador e de fazer desejar por mais. Dele e do que me tinha para oferecer e que conhecia ser tanto e tudo. Porque Rúben Dias não sabia ser menos do que isso.

       A sua língua revirava os cantos da minha boca, explorando-os e assinalando-os como seus. A sua vontade harmonizava com a minha e era expressa no sôfrego modo como me beijava e na idêntica sofreguidão com que me tocava, mesmo que as suas mãos não deixassem a minha cintura. Só nos afastámos assim que a carência por ar fez questão de se manifestar, impelindo-nos a um movimento curto e para trás, provocando o instantâneo colidir das nossas órbitas de uma tonalidade dissemelhante.

       Numa altura daquelas, já era mais do que previsível que as maçãs do meu rosto se encontrassem, duplamente, tingidas de uma coloração rosa, não só pelo momento anterior ocorrido mas, sobretudo, pelo seu significado. Vislumbrava-me com os seus lábios curvados num sorriso que exalava satisfação e toda uma emoção que correspondia, integralmente, à minha. Voltei a minimizar a distância existente entre nós e a devolver os meus braços ao redor do seu atlético pescoço, daquele modo, posicionando-me mesmo frontalmente a si e tendo uma mira que me aprazia por completo, que era a de toda a sua graciosa face.

       — Acho que foste feito tão devagarinho de tão perfeitinho que és, Rúben Dias. — Gracejei, ocultando o meu rosto na curvatura do seu pescoço assim que ele soltou uma gargalhada.

       — O elogio deixou-me contente mas tu fizeste com que surgisse uma certa imagem na minha mente dos meus pais que eu preferia não ter imaginado. — Foi a sua vez de motejar, conduzindo-me, também, a um gargalhar.

       — Desculpa. — Pressionei os meus lábios contra a sua região temporal, visto que a minha posição era propícia àquela índole de carinho. — Mas é que eu nem sei explicar... — Por intermédio de um murmúrio, acrescentei, optando por fixar o meu olhar num ponto determinado do espaço exterior que não o encantador castanho dele que, aquando daquela minha adição foi, imediatamente, em busca do meu azul.

       — Não sabes explicar o quê? — Era nítido que atuava deliberadamente para que escutasses as exatas palavras pretendidas por si mas ditas por mim.

       — Tu sabes, Rúben... — Concedi liberdade a um involuntário suspiro de autêntico enamoro, que não foi desconsiderado por si. Exerceu uma reação ao mesmo através do intensificar do nosso contacto físico com o leve puxão mais para si, tornando-nos ainda mais próximos um do outro.

Já as minhas pernas encontravam-se ao redor da sua cintura e os meus braços foram devolvidos a uma das suas anteriores posições, e uma das minhas favoritas: para o redor do pescoço dele. Elevou, ainda que ligeiramente, o seu rosto na direção do meu e voltámos a observar-nos com intensidade e genuinidade. As suas encantadoras órbitas percorriam vagarosa e atentamente cada traço meu, o que provocou a inflamação de todos eles. No entanto, não quebrei o contacto visual consumado. Ao invés, prossegui a olhá-lo para que ele visse que era tão correspondido quanto eu me sentia correspondida.

       — Eu sei. — Acabou por proferir, corroborando o que ambos nos encontrávamos a sentir. — Eu sei. — Repetiu, tomando a minha bochecha num beijo que não cessou mas, sim, teve a sua continuação pela região da minha têmpora, ali então cessando os seus movimentos. — E é uma sensação tão boa, não é?

        — Indiscritível. E acho que não é pelo sentimento ou, somente, pelo sentimento mas, sim e sobretudo, por quem o dá. — Retorqui, apreciando o ambiente que nos torneava e apreciando o facto de que os presentes, à excepção de um ou dois indivíduos, apresentavam-se alheios a Rúben e a atenção que, naturalmente, captava a cada espaço que frequentava.

Senhora de Si | Rúben Dias Onde histórias criam vida. Descubra agora