Senhora de Si | Rúben Dias

22. Rúben Dias

       Observar Isaura tão confortável na comodidade dos meus aposentos, aos quais eu próprio ainda me estava a familiarizar com, auxiliava numa ainda mais clara imagem de um futuro que, já facilmente, conjecturava em que a tinha do meu lado naquele papel, possivelmente outro, caso consumássemos o matrimónio que, um dia mais tarde, desejava contrair, acalentava o lado esquerdo do meu peito, que batia fortemente pela rapariga na minha frente.

Um involuntário e divertido sorriso arvorou na minha boca ao observar a postura dela. O resplandecente azul das suas órbitas intercalava entre o recipiente oval existente ainda no interior das elevadas temperaturas do forno elétrico, numa mirada vigilante que, com idêntica velocidade, transformava-se numa enamorada quando os seus olhos movimentavam-se para as gelatinas ainda a repousar na superfície do balcão de um bonito granito. Os limites dos seus lábios movimentaram-se superiormente, exibindo o meu sorriso predileto, e que lhe pertencia. Afigurava-se absorta nos seus próprios pensamentos enquanto aparentava ainda estar a assimilar o que, instantes antes, se acabara de passar: o meu pedido de namoro, alvo de aceitação pela própria.

— Estás assim tão surpreendida por te ter pedido para namorares comigo? Achavas que nunca ia acontecer? — Procurei resgatá-la de regresso para a realidade através do gracejo.

No momento imediatamente posterior, fixou a minha figura, humedecendo os lábios, assim que as suas perlas vaguearam por toda a minha composição física, naquela que era uma clara apreciação, realizada sem qualquer pudor e, diria eu, quase inconscientemente pois quando alcançou o meu rosto e observou o sorriso travesso e satisfeito que eu próprio trajava, diante do facto de que ela estava obviamente a "comer-me com os olhos", as suas bochechas contraíram uma tonalidade distinta daquela que lhe era característica.

       — O que é que me estavas a perguntar? — Optou por, propositadamente, ignorar o seu anterior comportamento. — Ah, já sei! E não, não fiquei surpreendida com o pedido em si, pois esperava e ansiava que chegasse em breve mas, sim, pela forma como se realizou. Foi mesmo bonito e original.

— Ainda pensei em pedir-te em namoro no meio do autocarro 37. — Perante a minha confidência gargalhou, contagiando-me. — Mas, provavelmente, seria demasiado público e não tão nosso pois, certamente, chamaria toda a atenção e, por isso, preferi algo que, também, estivesse relacionado connosco.

— Foi perfeito, Rubs. — Avançou a largos passos na minha direção, envolvendo os seus esguios braços ao redor da minha cintura, assim que a distância entre nós manifestou-se inexistente. Instigou-me a um beijo sem, verdadeiramente, o dar até que fiz questão de pausar a provocação ao tomar de assalto a sua boca. Num primeiro instante, afigurou-se ligeiramente assoberbada pela intensidade do meu contacto mas, logo depois, correspondeu identicamente.

A vez de ficar surpreso pertenceu-me, assim que as suas mãos imiscuíram-se no interior da minha camisola, friccionando levemente os seus dedos pela extensão das minhas atléticas costas. Não era uma estreia aquela sua índole de toque físico. No entanto, a sensualidade que depositava no mesmo era um indício de algo que, até então, tínhamos conservado cativo no mais ínfimo dos nossos desejos e pensamentos libertinos. Alcançou os meus abdominais, ali dispondo um carinho, antes de a sua mão direita deslizar ligeiramente mais para baixo e roçar a bainha das minhas calças de fato de treino, como que ameaçando retira-las ou invadir o seu interior a qualquer momento. O pensamento agitou-me por completo e somente contribuiu para a perda do controlo que eu já não considerava possuir.

       — O que achas da ideia de ficares cá em casa hoje? — Afastei as nossas bocas para instigar ao convite, não esperando pela sua resposta para voltar a conhecer o inigualável sabor do seu beijo. Concordou em não conceder-me uma reação imediata verbal até porque o modo como correspondi ao meu carinho era suficientemente elucidativa da sua vontade, e que correspondia à minha.