21. Isaura Mourinho

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— Estás bem? — A interrogação de Rúben penetrou a minha membrana timpânica, cativando a minha atenção, até então, disposta no arranjo natalício que organizava o centro da mesa de refeições.

— Estou sim. Porque perguntas? — Redargui, vislumbrando-o brevemente com um sorriso.

— Não sei. Não quero que te sintas pressionada pela fotografia que tirei e publiquei nas histórias do Instagram pois a oficialização da nossa relação foi algo que, ainda, nunca abordámos e parece que fui eu que tomei a decisão sozinho. — Um renovar curvar superior dos meus lábios afigurou-se inevitável perante a genuína apreensão do rapaz por quem, freneticamente, palpitava o meu coração.

Suspendi a tarefa de que me ocupava e minimizei a, já escassa, distância existente entre nós para que me pudesse aproximar o suficiente a fim de lhe dispor um beijo nos lábios que, aquando da sua consumação, foi alvo de um imediato aprofundamento da sua parte. Correspondi com veemente intensidade, não refreando um breve sorriso, assim que senti as suas másculas mãos deslizarem pela extensão do meu tronco e suspenderem os seus movimentos nas minhas nádegas. Instigada pela sua iniciativa, pressionei o meu corpo contra o dele, testemunhando o instante em que senti o enrijecimento do seu e um mais elevado nível desregular da sua respiração. Era claro que se não colocássemos um termo naquela progressiva sessão de carinhos, que a mesma se iria converter em algo mais. O pensamento atemorizou-me por instantes e provocou-me desconcertação, resultando num automático recuo da minha parte. Ao observar a sua expressão facial adquirir confusão momentânea, a minha foi contraída com uma tonalidade distinta da que lhe era caraterística e, naquele instante, o moreno compreendeu a razão do meu afastamento súbito, o que somente amplificou o nível de constrangimento que vivenciava.

— Sinto que te provoquei e que, depois, me afastei. Não é justo para ti. — Ele soltou uma fraca risada e atraiu-me para o seu regaço, cuja segurança imediatamente senti penetrar cada poro do meu ser, provocando o consequente descomprimir dos meus músculos rígidos pela minha reação.

— Isaura, injusto é para ti sentires qualquer tipo de desconforto numa situação destas ou em qualquer outra desta intimidade. É sinal para parar imediatamente e está tudo bem, independentemente das provocações que, até ali, existiram. Isso nunca, jamais em algum momento, justificaria obrigar-te a ir em frente numa coisa que é óbvio que te retrai. — O carinho, absurdamente, perfeito e genuíno que destilava do seu monólogo foi acompanhado do beijo que me dispôs na testa.

— Não me retrai, Rúben. Pelo menos o pensamento de o fazer e de o fazer contigo. De todo. Aliás, não me imagino a fazê-lo com mais ninguém. — Por intermédio de um murmúrio, expressão da minha incomensurável timidez, retorqui. — Acho que é mais o nervosismo normal por já não o fazer há imenso tempo que parece que deixei de saber como se faz. Ah, não quero falar sobre isso! — Arremessei-me para o seu peito, daquela forma, e ali ocultando o meu rosto em completas chamas provocadas pelo constrangimento.

— Não há uma forma certa que tens que saber para o fazer, Isaura. As coisas acontecem naturalmente e se for para acontecer connosco, vamos guiar-nos um ao outro. Não te vou cobrar nada, que me faças nada que não estejas preparada para fazer, que não te sintas à vontade para que eu te o faça e tudo mais. Sofrer por antecipação não vai mudar e, tão pouco, tens de te sentir insuficiente ou desconfortável em algo tem tudo para ser bom e te fazer bem, que é a intimidade, independentemente de qual seja, com a pessoa que gostas e queres partilhá-la com.

Careci de alguns instantes para embeber o monólogo do camisola quatro da formação das quinas mas acabei a movimentar positivamente com a cabeça ao mesmo tempo que, vagarosa e timidamente, recuava o mínimo para que pudéssemos voltar a consumar contacto visual.

Senhora de Si | Rúben Dias Onde histórias criam vida. Descubra agora