— All I want for Christmas is you! — Despida da minha timidez e resignada para com a minha ausência de habilidade para o canto, somente cantava mas estava bem longe de encantar, trauteei o refrão do clássico natalício de Mariah Carey, acompanhando o tom melodioso da sua voz, bem como a do canadiano, Justin Bieber – e por quem, em tempos, fora uma acérrima fã, denominando-me como uma belieber. Na realidade, ainda me considerava como tal, embora o meu nível de dedicação ao cantor não se comparasse, sequer, ao de quanto tinha treze anos. No entanto, sempre que o próprio apresentava produções e outros projetos seus, apreciava acompanhar e recordar com carinho e nostalgia os tempos em que fora feliz na sua comunidade de fãs, não obstante a expectável toxicidade existente. Ainda assim, procurara sempre permanecer distante da mesma e somente desfrutar do lado positivo da coisa, e que havia sido na sua maioria daquele modo.
Rúben, que dominava o volante do seu sumptuoso Mercedes, só (sor)ria com as figuras que eu fazia, ao mesmo tempo que intercalava o encantador castanho dos seus olhos, sempre que via tal como possível, entre mim e a estrada que percorríamos em direção ao centro da cidade de Manchester, onde se localizava em massa as decorações natalícias e os estabelecimentos que, também, as ofereciam.
— Olha que eu já conheci bastante gente que tem um gosto imenso pelo Natal, mas nunca ninguém como tu! — Proferiu em observação, fazendo-me soltar uma frouxa risada.
— Sou uma autêntica criança em ponto maior, não sou? — Testei-o, exibindo um erguer dos meus ombros e um sorrisinho de lado, assim que ele me vislumbrou com uma expressão culpada nos atraentes traços faciais e que me concedia uma silenciosa resposta afirmativa à questão, propositadamente, colocada por mim. — I know, mas fazer o quê? A grande parte da minha família materna, sobretudo a minha mãe e a minha tia avó, sempre foram grandes apreciadoras da época e eu apaixonei-me também. Na realidade, detesto Paris durante o restante do ano mas no Natal, confesso que tem até outro encanto, que não sinto nos outros meses todos. Adoro passar os dias 24 e 25 lá. — Acrescentei, em revelação.
— É uma faceta tua bastante espontânea pelo que te fica bem. Mas, na verdade, o que é que não te fica bem mesmo, Isaura Mourinho? — Ofertou-me uma piscadela antes de devolver as suas órbitas ao seu anterior ponto determinado, e que era o caminho em frente.
— Oh, que lamechas, Rúben Dias! — Não desperdicei a oportunidade de escarnecer, no entanto, sentindo o lado esquerdo do meu peito, completamente, aquecido perante as suas anteriores palavras de carinho e enamoro.
— Quer dizer, uma pessoa é honesto e ainda sou gozado. Para a próxima, vou-me manter calado. — Gargalhei com o seu exacerbado e premeditado drama.
— Que drama queen, centralão. Nem parece que és todo um durão dentro do quadrado mágico. — Voltei a escarnecer, soltando um grito agudo, prosseguido de uma gargalhada, quando a mão direita dele, até então repousada na minha perna esquerda coberta pela collant de vidro, apertou-me a coxa. Não me magoara, de todo, ao invés despontou-me uma sensação de bem estar e agitação positiva no baixo ventre.
Não era segredo algum que me derretia por completo a cada toque seu, pois a intrínseca intensidade e naturalidade no seu ato de tocar pareciam ter sido feitas somente para mim. Gostava imenso dessa sensação e realidade. E queria-o só para mim. Com o internacional português, descobria uma sensação de ciúme e ligeira possessividade que nunca sentira antes na relação anterior partilhada com outrem e a única até então.
A parte mais libertina e sôfrega dos meus pensamentos ansiava pelo movimento superior da sua mão e pelo concretizar das fantasias que o meu interior ruminava desde que conhecera o futebolista e descobrira um interesse distinto no próprio. No entanto, impeli-me a pontapear aquela índole de introspecções para o mais longínquo lugar da minha mente, pois não era o momento propício a permitir que se, e me, fizessem sentir.
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Senhora de Si | Rúben Dias
RomanceOnde Isaura, tão senhora de si, permite-se ser de alguém que não dela mesma.