14. Isaura Mourinho

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Impeli-me a abandonar o profundo descanso mediante um suave toque no meu ombro, que compreendi ser um leve agitar, muito possivelmente para acordar. As minhas pálpebras descerraram e confrontei a figura de Bernardete que me observava com um breve sorriso nos seus lábios. Retribui, quase, automaticamente, uma vez que a sonolência ainda envolvia cada poro do meu ser de modo intenso. No entanto, assim que uma respiração regulada penetrou a minha membrana timpânica, virei o meu rosto e desvendei a figura, completamente, adormecida do camisola três no meu lado. O seu tonificado braço direito encontrava-se a proteger a minha cintura enquanto o esquerdo apresentava-se estendido para cima. O seu retrato pacífico e amoroso acalentou o lado esquerdo do meu peito mas fui capaz de reprimir o suspiro de autêntico enamoro que rogava pela sua liberdade. Era a presença da sua progenitora que me impedira de o fazer.

— Não vos queria acordar, querida, mas acho que ficam mais confortáveis na cama. — A esposa de João murmurou audivelmente. Reagi mediante um outro espontâneo aceno de cabeça pois todos os meus movimentos pareciam ainda enevoados pelo sono.

— É melhor. — Encontrei a minha voz para pronunciar em concordância. — Está tudo bem consigo? — Questionei o seu estado desperto.

— Sim, está tudo bem, querida. — Dirigiu-me um sorriso que transportava a sua gratidão pela apreensão manifesta, naturalmente, por mim. — Apesar de as temperaturas estarem a mudar e a diminuir, ainda assim está uma noite quente. Vim em busca de um copo de água. — Meneou na direção da cozinha, ainda desprovida de qualquer luminosidade, o que me conduziu à conclusão de que a mais velha tinha vindo diretamente da escadaria para junto de nós, após denotar as nossas figuras adormecidas. — Façam como entenderem, mas como ainda é cedo e faltam cerca de três horas para acordarem, acho que ficariam melhor na cama.

E com aquela última recomendação, ofertou-me a visão das suas costas e partiu na direção do seu destino definitivo. Na companhia do sorriso que, até então, contivera, sacudi com o atlético porte do moreno, sustendo a respiração. Já o tinha tocado mas, daquele modo, parecia ainda mais íntimo e intenso. Os músculos eram mais do que visíveis mesmo sem qualquer esforço da sua parte, o que me levava a indagar acerca do período de tempo que ele desfrutava por entre as máquinas de esforço físico e musculação dos diversos ginásios a que possuía acesso. Não tinha uma noção precisa mas podia deduzir, mais do que certamente, que eram inúmeras horas do seu dia. Para além das diversas sessões diárias de treino que realizava no seio do seu grupo de trabalho.

— Rúben. — Evoquei de modo terno e minimizado em termos de volume, desejando que ele despertasse. Mas a sua imobilidade fez-me ter vontade de emborcar a cabeça no seu peito e devolver os meus pensamentos ao controlo do meu subconsciente. Mas concedia razão à mulher que havia dado a vida ao jogador que repousava, pacificamente, do meu lado. Apesar de o sofá ser dotado de um conforto considerável, ainda assim, o do colchão da cama era inigualável. — Rúben, homem, acorda! — Sacudi com maior firmeza o seu corpo, finalmente, alcançando com sucesso o pretendido primitivamente por mim.

O encantador castanho das suas órbitas capturou o azul das minhas até que apreciou o espaço ao nosso redor. Um esgar do seu rosto afigurou-se inevitável e ele pareceu compreendeu o cenário que nos envolvia.

— Merda, quando adormeceste, também, o fiz e não te levei para o quarto. — Censurou-se pelo declamar da derrota para o sono

— Não faz mal, Rúben. — Exibi um erguer dos meus ombros, numa desvalorização da situação. — Fazemo-lo agora. Ainda é cedo e acho que ficaremos bem mais confortáveis na cama, apesar de não ter razões de queixa deste sofá.

— Gosto desta tua faceta de me acordar de madrugada para me levar para a cama. — A sua provocação rendeu-lhe um golpe no tonificado braço, ainda que sem imprimir vigor suficiente que lhe provocasse qualquer dano físico.

Senhora de Si | Rúben Dias Onde histórias criam vida. Descubra agora