Senhora de Si | Rúben Dias

15. Isaura Mourinho

       Procurei, arduamente, manter cativas as lágrimas sob a cortina do meu azul, assim que os braços cansados da minha avó envolveram o meu corpo e cingiram-me contra si. No entanto, assim que os seus lábios pressionaram o topo da minha cabeça a minha primeira gota fluiu pela extensão da minha bochecha, o que a conduziu ao intensificar do nosso aperto.

— Bem me parecia que a tua mãe e tu estavam a tramar alguma coisa. Ela não sabe não dar nas vistas. — Gargalhei por entre o pranto a que me tinha, involuntariamente, submetido.

— Como foi que a avó começou a desconfiar? — Questionei, quebrando o nosso contacto físico e consumando um visual com a anciã.

       — Porque a mulher passou o dia, constantemente, a questionar-me se eu estava em casa e quando lhe disse que ia sair com a tua madrinha para irmos às compras, começou a questionar-me sobre quando chegaria e para lhe indo mantendo informada. — Revelou, enquanto as suas mãos de fada, dotadas de um inigualável sentimento de segurança e familiaridade que nunca me cansava de recordar, expurgavam os vestígios do líquido incolor e salgado que ainda brotava das minhas órbitas, apesar de com uma mais diminuta intensidade. — Eu sei que a minha filha, naturalmente, se preocupa comigo mas, hoje, estava verdadeiramente estranha. Então, diz à tua velha avó, o que te traz a Portugal?

— Estou cá em trabalho! — Não camuflei o entusiasmado ao mencionar a minha atividade profissional que significava para mim muito mais do que tal. — Como sabe, estou a trabalhar no departamento culinário de um clube de futebol inglês. O campeonato interno foi suspenso temporariamente devido ao compromisso com as seleções nacionais e eu vim a acompanhar um jogador enquanto ele recupera de lesão. Fui nomeada chef temporária enquanto por cá estamos. — A minha narrativa fez-me, por fim, recordar da presença de Rúben na nossa retaguarda que, por sua vez, não se mostrava, em nada, incomodado ou desconfortável pela involuntária e indesejada desconsideração que tinha feito dele e da sua companhia para focar em sanar a saudade que nutria pela mais velha. — Por falar em jogador, avó, este é o Rúben. Rúben, esta é a minha avó materna, Maria Gabriela. — Por fim, procedi às apresentações, não evitando que uma coloração rosa se fixasse nas minhas bochechas, assim que a aposentada docente universitária intercalou os seus olhos, de uma tonalidade idêntica à minha, entre mim e o camisola três e um sorriso cúmplice irrompia-lhe nos lábios.

— É um gosto conhecê-la, Dona Maria Gabriela. — O nascido no mês de maio foi o primeiro a proferir ao mesmo tempo que tomava a iniciativa de atrair a progenitora da minha para um abraço que ela não hesitou em corresponder com similar simpatia.

— Rapaz, pareces uma parede de tão musculoso que és. — A minha gargalhada afigurou-se inevitável aquando da intervenção da minha avó, naquela que era uma reação motivada pela sua tão intrínseca espontaneidade, bem como da ligeira inibição que envolveu o tão, sempre, seguro de si, Rúben Dias. — Acredito que já mudaste de lugar preferido para te deitar, não é, netinha? — Por pouco, não me atrapalhei com a minha própria saliva com aquele seu acrescento.

— Vó! — Censurei, provocando-lhe uma gargalhada, que antecedeu o sorriso que amplificou nos seus lábios e que era povoado pela satisfação por observar-se bem sucedida na sua missão de despontar a minha inibição.

— É, igualmente, um gosto conhecer-te, Rúben. — Por fim, despojou-se da sua faceta, deliberadamente, envergada para nos constranger a ambos, e correspondeu aos votos do internacional português, que lhe exibiu um bonito curvar dos seus convidativos lábios. — Obrigado por a teres trazido até a mim, apesar de estarem por cá em trabalho e, acredito, com os dias contados e preenchidos com coisas necessárias.

— Não tem que me agradecer. Fi-lo com todo o gosto e apreço que tenho pela sua neta. — As palavras do único irmão de Ivan acalentaram o lado esquerdo do meu peito.