13. Isaura Mourinho

414 18 1
                                    

       A sonolência envolvia cada poro do meu ser devido ao jantar que desfrutáramos após o término da partilha futebolística entre as formações portuguesa e espanhola. A ida ao relvado por parte dos membros do departamento médico incitou-me a acompanhá-los e a deter o inigualável privilégio de privar com alguns dos melhores jogadores a nível mundial na sua posição tática. Portei-me como uma senhora ao lado de Cristiano Ronaldo aquando do pousar para os registos fotográficos concretizados por Jonathan mas converti-me numa autêntica criança, despojando-me da compostura, assim que Sérgio Ramos minimizou a distância entre nós e atraiu-me para um abraço terno ao mesmo tempo que me informava num espanhol perfeito e, naturalmente, atraente que obtivera conhecimento acerca da minha admiração e suporte pelo seu percurso profissional, expressando a sua genuína gratidão para comigo e o que sentia.

       Detinha a perfeita consciência de que aquela aproximação e intervenção do (segundo) melhor defesa-central do mundo tinham dedo daquele que, na minha ótica, agora era o (meu) primeiro. Tinha-lhe dirigido o mais genuíno dos sorrisos que possuía para oferecer e reprimi o desejo que era portadora de arremessar-se para o seu atlético e seguro peito, aninhando-me no seu abraço. No entanto, era imperativo que me mantivesse afastada pois só assim era capaz de conservar a racionalidade e o natural encadeamento dos meus pensamentos. Com Rúben, e com tudo o que ele me era capaz de proporcionar, vedavam-me os sentidos, somente me permitindo sentir.

       Por aquela razão, permaneci envolta em aprazíveis diálogos com os restantes membros do staff do Manchester City, bem como dos familiares do camisola três, no decorrer do jantar e nos trajetos percorridos de ida e volta, que me proporcionaram (sor)risos e inúmeras e pequenas grandes aprendizagens com o modo como dialogavam, o que narravam, o que, até, aconselhavam. Enfim, toda uma panóplia de memórias para reter e palavras e lições para embeber.

       — Isaura, estamos a chegar a casa do Rúben. — Jonathan, o mais velho dos presentes no interior da carrinha cujo volante era dominado pelo ex-capitão dos diversos escalões de formação do clube objeto de fundação por Cosme Damião, e o membro do departamento médico com quem mais familiarmente me relacionava – apesar de ser imensamente apreciadora da amizade e do convívio dos restantes e da família citizen em geral –, antecipou, provocando o automático descerrar das minhas pálpebras.

       À excepção de Rúben, porque dirigia o seu foco para a estrada que percorríamos, os restantes do sexo masculino vislumbravam-me com sorrisos humorados, muito possivelmente, pelo meu atual posicionamento e pela fraqueza que demonstrara para com a sonolência e o cansaço. Depositava a responsabilidade no meu apetite mais do que saciado e, por isso, do meu estômago abarrotado, bem como da viagem de carro durante a noite. Aquelas últimas eram um dos gatilhos para mim no que respeitava à rotina de sono. Tinha a mesma tática dos bebés para adormecer.

       Todavia, encontrava-me mais do resoluta a afugentar aquela crise de abertura dos olhos pois havia acordado com ambas as minhas famílias a realizar outra vídeochamada, ainda que breve. Só desejava conhecer deles e vê-los pois sentia sempre a falta de todos, independentemente do tempo em que estivesse ausente do conforto proporcionado pelo seio das minhas pessoas preferidas. Remeti uma mensagem para o grupo de WhatsApp que partilhava com o meu pai, Michelle e Carter a comunicar-lhes a iminente chegada ao conforto do lar do amadorense.

Assim que o próprio imobilizou a viatura no parque frontal exterior após os progenitores terem inserido o seu automóvel numa das duas garagens contíguas da habitação, aguardei pelo momento propício para abandonar o interior da carrinha, e que se revelou ser aquele ao que Jonathan e Marcus saíram, pois os restantes situavam-se no banco da frente e eu estava no de trás com os outros dois mas tinha sido a primeira a entrar pelo que, naturalmente, naquele momento tornava-me a última a sair.

Senhora de Si | Rúben Dias Onde histórias criam vida. Descubra agora