Domingo era sinónimo de despertar sem alarme, de extravasar o plano dietético saudável e mental elaborado semanalmente e, também, ainda que não sempre, dia de passear e desfrutar do primeiro da semana que era dedicado, maioritariamente, ao descanso.
Abandonei o profundo sono a que me havia entregue às onze horas da noite anterior às onze horas daquela manhã. Tinha dormido doze horas e sentia-me rejuvenescida. Distendi os braços e as pernas e saltitei para o tapete felpudo, logo mergulhando os pés no interior dos meus chinelos, também, revestidos de pelugem macia e alusivos à época natalícia que, cada vez mais, se aproximava. Os pijamas eram próprios do inverno e alegóricos ao clássico da Disney, o Rei Leão, e um dos meus prediletos, bem como as meias cujo limite terminava ligeiramente acima do tornozelo e que tinham como estampa o célere casal de leões. Envolvi-me no meu robe de seda rosa, e que já contava com alguns anos de utilização constante, e resgatei o meu iPhone da superfície da mesa de cabeceira, observando-o, ainda, totalmente, munido da sua bateria, apesar do meu uso de quinze minutos antes de dormir.
No entanto, o sorriso que rasgou nos meus lábios encontrava a sua justificação na mensagem de texto cujo remetente era o internacional português e que se exibia no ecrã da inovação tecnológica. Devido às definições selecionadas por mim, o conteúdo redigido por Rúben não era possível de se ver, no entanto, o sistema iOS anunciava a entrada de novo texto na caixa de mensagens. Não hesitei em proceder ao desbloqueio facial e, consequentemente, à leitura das palavras do moreno que, na realidade, era o concretizar de uma promessa que o próprio me havia feito aquando de uma das inúmeras vezes em que já tínhamos estado juntos e a desfrutar da companhia um do outro.
Dada o meu claro, e mais do que vocalizado, gosto pela época festiva que se aproximava – as decorações do meu quarto, que contabilizavam um par de luzes de natal acima da minha cama, bem como um pai natal no canto superior direito da secretária organizada, um boneco de neve na mesa de cabeceira junto do porta-retratos e uma pequena árvore decorativa no recanto do meu espaço pessoal eram um dos inúmeros exemplos dessa mesmo afeição às festividades natalícias –, o antigo profissional do Sport Lisboa e Benfica tinha-me garantido que seria o meu fiel escudeiro numa visita pormenorizada e prolongadas às diversas lojas da cidade inglesa, que já expunham todos os seus produtos alusivos à época nas suas montras e pela extensão dos seus estabelecimentos, invitando as pessoas a entrar e apreciar o que se encontrava à sua disponibilidade de aquisição. Naquele domingo, Rúben Dias – e caso a minha resposta se afigurasse positiva –, pretendia concretizar aqueles seus intentos.
Deixei claro que as minhas intenções harmonizavam com as suas, logo que lhe enviei o meu sim. Denotei que eram oito da manhã aquando me remetera a comunicação textual, o que significava que já estava a pé ainda num horário anterior. Conhecia que o período da manhã daquele domingo era dedicado ao treino de recuperação pós partida disputada no dia anterior e que o Manchester City levara a melhor, no seu próprio reduto, contra a equipa mais portuguesa da Premier League e comandada pelo antigo treinador de Rúben, Bruno Lage. O camisola três era o primeiro a chegar ao centro de estágios e o último a sair do mesmo. Era-lhe tão intrínseco. E a disciplina que possuía para com a sua própria pessoa e enquanto profissional de futebol eram inspiradores.
Coloquei o dispositivo móvel no interior do bolso do meu robe e abandonei o meu quarto, logo adentrando no extenso, ornamentado e iluminado corredor, também, ele repleto de decorações natalícias, ainda que não em demasia pois, apesar de, simplesmente, adorar o Natal era capaz de ver o que era demais era como o que era de menos e que o equilíbrio deveria ser um mote para todos os aspetos da vida, aquele trivial inclusive. No entanto, dada essa mesma minha veia de criança para a época do mês de dezembro, o meu clã conhecia que era imperativo que o lar tivesse munido de enfeites que se aproximassem das comemorações futuras e que nos auxiliassem a embrenhar no espírito, visto sermos todos apreciadores do que se avizinhava. O meu progressivo caminhar na direção da cozinha – de cujo interior emanava um aprazível aroma a bolachas de chocolate e chocolate quente –, foi acompanhado com o vagaroso percorrer do meu azul pelos conjuntos de luzes ou figuras alusivas à festa anual cristã e com o consequente sorriso que moldava a minha boca perante o que ocupava o meu campo visual.
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Senhora de Si | Rúben Dias
RomanceOnde Isaura, tão senhora de si, permite-se ser de alguém que não dela mesma.