08. Isaura Mourinho

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Na manhã do dia seguinte, saltitei do conforto dos lençóis da minha cómoda cama ainda nem o incómodo ruído provocado pelo meu relógio despertador havia-se difundido pelo interior do meu espaço pessoal, impelindo-me a abandonar o profundo descanso. Antecipei-me a ele e desativei-o, devolvendo o aparelho electrónico à superfície da mesa de cabeceira, beneficiando do facto de ele estar em minha posse para observar o horário e realizando cálculos mentais breves, distribuir o tempo entre as tarefas que ainda detinha em mãos.

       Num primeiro momento, dirigi-me para a casa de banho, clamando-a como minha por um período de cerca de vinte minutos, onde realizei a minha higiene aos mais diversos níveis, procedi à secagem dos meus longos e acastanhados fios e realizei uma maquilhagem, imensamente, simples que se consubstanciava na aplicação da base adequada à tonalidade da minha pele morena, ainda que numa quantidade bastante reduzida e leve para que as minhas sardas naturais pudessem conservar o seu papel de destaque, um cor nas pálpebras, para evidenciar o azul das minhas órbitas e um rímel para rematar o processo curto. Apesar de ser apreciadora dos produtos cosméticos relativos ao embelezamento da face, confessava não ser, de todo, alguém que possuísse mestria no manuseamento dos mesmos e na combinação das diversas cores disponíveis, das palletes das mais diversas dimensões e com distintas funções ou outros envolventes. No entanto, e em certas e determinadas ocasiões, apreciava enveredar por algo diferente pois concedia-me um look, verdadeiramente, distinto, ainda que fosse mais apreciadora do meu natural.

       Enverguei o conjunto que selecionara na noite anterior e abandonei a parte interna do aposento apenas para conceder o meu lugar à minha madrasta que era a segunda residente da moradia já envolta na condição desperta. Trocámos as nossas corriqueiras saudações e prossegui para o meu quarto, onde averiguei ter comigo os meus essenciais haveres para a viagem que iria realizar ao meu país berço, apesar de não o conhecer pormenorizadamente, e por motivos profissionais – não obstante, no meu mais íntimo, deter a perfeita consciência de que razões pessoais, também, justificavam, na realidade na sua maioria, o entusiasmo para aquela curta aventura. Ao asseverar-me de que a bagagem albergava o necessário, ativei a sua segurança via o cadeado, colocando a pequena chave no interior da minha bolsa do dinheiro e transportei-a para a divisão da sala de estar, onde permaneceria até que o transporte do Manchester City me viesse buscar, tal como o faria com os membros do departamento médico que acompanharia Rúben, o próprio jogador e a sua família, caso o próprio possuísse alguma consigo. No caso do internacional português, conhecia que se encontrava na companhia do seu único irmão, mais velho por somente dois anos.

       — Bom dia, pirralha. — Um ligeiro sobressalto afigurou-se inevitável assim que a voz do meu progenitor irrompeu-me pela membrana timpânica, anunciando a sua presença no interior da divisão idónea à confecção de cada refeição.

       — Credo, pai, já estás fora da cama a esta hora? Que eu saiba, ainda tinhas pouco mais de uma hora para descansares. O que aconteceu? — Questionei, aproximando-me com o intuito de lhe colocar o habitual beijo na bochecha. Retribuiu com o seu, sempre, bem-vindo carinho na minha testa.

— É verdade. — Admitiu. — No entanto, não é todos os dias que a minha filha vai viajar e eu vou ficar sem ela durante uns dias. — (Sor)ri com o seu drama exacerbado.

— Pai, eu já fiz viagens muito maiores. Como aquelas em que só vinha cá de férias e, depois, voltava para a França por um período indeterminado de tempo e, agora, aquelas em que só volto lá para férias mas costumo ficar bastante semanas. Agora, são só uns diazitos. — Procurei tranquilizar a sua inerente preocupação paternal. — Para além disso, eu e o Rúben temos praticamente a mesma idade, pelo que se já se torna mais confortável. O seu irmão, também, é pouco mais velho do que nós. Só estou mais receosa para conhecer a família dele pois podem não gostar dos meus pratos culinários mas...

Senhora de Si | Rúben Dias Onde histórias criam vida. Descubra agora