one

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Samuel suspirou.
Seu corpo inteiro pedia repouso após a madrugada que enfrentou no clube em que trabalhava. Se fechasse os olhos por meio segundo, ele ainda conseguia ouvir a música ecoando pela sua cabeça. Ele devia ter três ou quatro horas para descansar antes de entrar no próximo trabalho, agora ele precisava focar em continuar em pé e chegar em casa.

Ainda que os horários de trabalho fossem horríveis, Sam estava contente por estar trabalhando em algo. Ele havia se mudado a pouco tempo para Gotham a procura de algo novo em sua vida, e não era sequer nescessário pensar em como a escolha de cidade foi muito pobre. Gotham tinha seus encantos, como as festas e o aluguel incrivelmente baixo, mas todo o resto não parecia compensar. Traficantes mascarados e heróis fantasiados causavam uma constante dor de cabeça em Samuel. Na primeira semana do mesmo em seu trabalho no clube, Sam limpou cacos de vidro pela maior parte do expediente, cortesia do Homem Morcego. Batman era um bom herói, e ele entendia que o morcego tentava fazer o bem, mas ninguém nunca pensa no lado do trabalhador que vai ficar limpando vidro quebrado no chão de um clube noturno até o sol nascer. Sem contar com o sangue, que sempre espirra nas paredes e mancha a tinta, o que significa ter que dar novas demãos nas paredes.

Era sempre uma dor de cabeça quando se via uma capa reluzindo pelo clube ou um símbolo de morcego em algum lugar.

Mas desde que havia se mudado de Central City, Sam sentia que estava fazendo o certo. Mesmo que a cidade anterior fosse mais segura, ele precisava de um recomeço. E além de todas as loucuras, Gotham sabia como receber alguém que procurava reiniciar.

Sam passou pelo porteiro, que cochilava como um neném, e se arrastou para as escadas. Seu apartamento ficava no quarto andar, e por mais que não fosse sedentário, as escadas ainda o matavam. Tudo ia bem, é claro, e por mais estranho que Gotham fosse, ele estava se adaptando.

— Caralho — Sam travou ao abrir a porta.

— Cala a boca e entra. — Havia um homem encapuzado parado ao lado da janela, apontando um revólver para Sam. É isso. Ele seria assaltado. Pior, ele seria sequestrado. — O que você está esperando? — O encapuzado balançou a arma mais uma vez. Sam suspirou e entrou no apartamento. O homem voltou a olhar pela janela. Sam suspirou, deixando sua cabeça completamente vazia para se permitir ouvir os pensamentos do encapuzado.

"Caralho, eu preciso sair daqui.”

Sam se aproximou do sofá, agora tendo a atenção do encapuzado de volta.

"O que esse idiota tá fazendo? Eu não tenho tempo pada isso, esse ferimento não vai parar de sangrar até eu voltar...”

— Você está machucado? — Sam perguntou, vendo o brilho vermelho do capacete reluzir na iluminação fraca que vinha de fora do apartamento. Agora ele podia ver um enorme ferimento que sangrava, meio escondido na mão do homem. Aquilo ia sujar seu carpete novo...

— O que...? — o encapuzado abaixou a cabeça para onde Sam olhava.

— Eu posso fazer o curativo. — Sam disse de prontidão, ele poderia fazer qualquer coisa contanto que não levasse um tiro. — Eu tenho um kit de sutura, se você quiser esperar meio segundo, eu faço um curativo que aguente até você ir para onde precisa...

O encapuzado continuou segurando a arma apontada para Sam, exitando por um momento.

— Rápido. E não tenta nenhuma gracinha. — Ele fez um sinal com a arma, indicando para que o mesmo se movesse.

Sam correu pelo apartamento, indo direto para seu quarto. A bagunça indicava que o homem já havia procurado algo ali, e pelo que parecia, não era algo de valor. Talvez fosse o próprio kit que o mesmo procurava.
Samuel agarrou a pequena maleta escondida de baixo da cama e voltou para a sala. Graças as visitas de um certo amigo que sempre andava machucado,  Sam tinha suturas e curativos de sobra.

— Você pode sentar? No sofá... — Sam perguntou assim que retornou a sala. O mascarado voltou sua atenção para o sofá e sentou no mesmo. Sam caminhou até lá. O encapuzado tirou a mão da frente da ferida assim que Sam chegou perto, e o mesmo pode ver o tamanho do estrago. O que ser que ele estava fazendo antes de invadir o apartamento, estava fazendo com pessoas seriamente perigosas. Sam abriu o kit e começou a limpar o ferimento.

— Por que você tem um kit de sutura? — O encapuzado perguntou, a arma ainda apontava para Sam.

— É Gotham. — Sam deu de ombros, esperando que a resposta bastasse. Seus olhos percorreram rapidamente o traje e ele pode ver o morcego vermelho escondido pela jaqueta que o mascarado usava.

Samuel continuou limpando o ferimento, por mais que o medo de levar um tiro fosse enorme, o símbolo de morcego fez com que sentisse uma calma estranha, que não era nada natural da situação. Talvez fosse o que o símbolo abrangia ou talvez ele realmente estava ficando totalmente maluco da cabeça e agora era a hora que ele deveria decretar insanidade, mas aquilo o deixa o calmo de um jeito assustador.

— É... Gotham afinal. — O mascarado repetiu, abaixando a arma que segurava, ainda mantendo a mesma por perto, para um saque rápido caso precisasse.

[…]

— O Capuz vermelho esteve na sua casa e você está tranquilo assim? — Barry perguntou, com os olhos arregalados.

— Nós não sabemos se era realmente ele. — Sam rolou os olhos terminando de colocar a última mesa no chão.

— E quem mais usa um capacete vermelho e tem um símbolo de morcego? — Barry voltou para o balcão com o amigo.

— O que você sequer está fazendo aqui?

— Eu ouvi do ataque perto do seu apartamento e vim correndo. — Barry sorriu orgulhoso com o trocadilho que havia feito. — Ainda não aprovo a ideia de você morar aqui.

— Que ataque?

— Fábrica de químicos.

— Então realmente era o Capuz Vermelho?! — Sam disse surpreso.

— Não muda de assunto. Tem bilhões de cidades para você escolher, e você escolheu Gotham? — Barry perguntou. — Qual é, Sam! Você tem diploma em ciência da computação e trabalha como garçom.

— É uma realidade. — Sam deu de ombros organizando os copos. — Eu precisava recomeçar e você sabe bem disso. — Sam suspirou, seus dias em Central City realmente estavam contados antes que ele viesse parar em Gotham.

— Me promete que vai tomar cuidado.

— Eu vou.

— Me promete mesmo. Você tem mania de se arriscar sem motivo nenhum. — Barry apertou as duas mãos. — Por favor.

— Eu prometo, Barry Allen. — Sam sorriu para o amigo. — Não vou fazer nada estúpido e imprudente e vou estar sempre seguro.

— Obrigado. — Barry sorriu. — Você sabe que eu estou a uma ligação de distância, não é?

— Até menos. — Sam piscou.

— Amo você, Sam.

— Também amo você, Barry. — Sam sorriu para o amigo e em um piscar de olhos Barry havia sumido.

When It Breaks || Jason ToddOnde histórias criam vida. Descubra agora