Sam on
— E o que eu posso pegar para você? — digo assim que percebo um homem sentado no bar.
— Uma cerveja. — ele diz olhando para pista de dança e eu pego a mesma, também pegando o dinheiro que ele deixou no balcão. — Noite agitada?
— Sim. — entrego a cerveja. — Aniversário de casamento da Harley e da Hera. — aponto com o queixo para uma mesa no mezanino onde as mulheres se encontram, estourando um champanhe. — Sempre fica cheio quando uma das figurinhas aparece por aqui. — Coloco em ordem os copos para o Barman possa pegar. — E você? Foi um dia agitado?
— Não. — Ele me olha, dando um sorriso simples e encantador. Ele tem olhos claros, meio difíceis de serem descritos com uma luz que pisca e oscila, mas tenho certeza de que são claros como um mar. Ele tem cabelos negros escuros e um rosto forte. Eu diria um gato, mas tem algo além da beleza que me chama atenção. Algo familiar que me força a o encarar com mais atenção. — Noite de folga.
— Isso é ótimo. — Entrego uma cerveja para um homem que acaba de encostar no balcão com uma nota de dinheiro balançando. — Espero que você possa ficar para o show da Canário Negro. É um especial de aniversário para as meninas.
— Não posso perder! — Ele pisca para mim e eu sorrio gentil. É sempre normal que um cliente dê em cima dos garçons, e somos sempre orientados a sermos gentis sempre, não importa o quão lindo o cliente seja. Nunca se sabe quando um cliente vai ter uma arma. É Gotham. Deixo de lado meus pensamentos e me volto pada outros clientes.
[…]
Limpo o balcão. A noite acabou bem. Não houve nenhum momento preocupante e isso me alegra. Odeio limpar a bagunça depois. As meninas deram uma gorgeta generosa para todos os garçons da noite e pagaram uma rodada para todos do que quisessem. Eu prefiro não pensar muito sobre de onde as meninas conseguiram esse dinheiro.
Fecho o caixa do bar e coloco o dinheiro dentro de um envelope, colocando o mesmo em uma bandeja em cima do balcão e a pegando. Todos os fins de noite na boate são marcados do mesmo jeito. Os funcionários fecham os caixas e colocam todo o dinheiro em envelopes e depois em uma enorme bandeja, que no fim acaba indo para o escritório no andar de cima, o funcionário encarregado do dia senta com o gerente e conta todo o dinheiro novamente.
Não sei muito bem quem é o dono do lugar, mas sei que não é bom mexer com ele. Me disseram que ele é um dos figurões de Gotham, que comanda muita coisa e sabe exatamente quanto a boate faz, então sabe quanto e se roubam dele.
Sigo andando com a bandeja recheada de envelopes pelo clube. Alguns garçons estão limpando mesas e outros estão limpando o chão e o mesanino. Subo as escadas para o segundo andar.
Quando finalmente chego ao fim da escada, bato na porta de vidro do escritório, ouvindo um "entre” meio abafado lá dentro. Empurro a porta, dando de cara com dois homens. Um é o Senhor Heathcliff, que gerência a boate e conta o dinheiro, e mais um homem, que eu não conheço. Um homem rechonchudo, com uma bengala em sua frente.
— Senhor Heathcliff, os caixas de hoje. — Digo colocando a bandeja na mesa, entre os dois homem. Posso olhar melhor agora para o outro homem, que tem um nariz longo pontudo e uma cicatriz no rosto.
— Bom, bom, Dave. Bem na hora. — o homem diz olhando para o senhor Heathcliff. Eu olho para o homem e depois para o gerente, que está com os óculos quadrados na ponta do nariz.
— Devo...? — aponto para a porta.
— Pode ficar, Samuel, me serve um uísque duplo com gelo. — o homem diz, me olhando e eu sinto um arrepio subir pela minha espinha.
Sem questionar nada, vou até o carrinho no canto da sala e pego um copo, servindo uma dose. Como ele poderia sequer saber meu nome?! Não me lembro de ter conhecido ele em qualquer momento, sendo que fui contratado diretamente pelo senhor Heathcliff.
Coloco o copo com gelo na mesa a frente do homem e olho para o gerente, perguntando silenciosamente se ele também aceitaria um copo. Ele concorda e eu pego, colocando a dose em sua frente e volto a ficar parado ao lado da mesa, com as mãos ao lado do corpo. Não quero dar nenhum sinal de ameaça ao homem, nunca se sabe quem tem uma arma e quem não.
— Vocês não vão contar isso? — o homem olha para a bandeja. — Estou aqui só para ter certeza que ftudo está saindo do jeito que realmente precisa. Sabe como são ordens.
Heathcliff me olha por cima dos óculos e depois olha para a bandeja e eu concordo, me sentando perto da mesa e começando a abrir um pacote. Contamos o dinheiro todo, pacote por pacote, e ao final juntamos todo em uma bolsinha, que o gerente entrega ao homem de nariz pontudo, que agora sorri. Tento ao máximo não parecer assustado com o clima silencioso que a sala está. A presença do homem faz com que todo o ar da sala fique pesado.
— Muito bom. — Ele guarda o pacote dentro do smoking que ele usa, e eu continuo sentado. Minhas mãos estão suando. — Vou deixar o Falcone sabendo que as noites por aqui continuam muito bem movimentadas, como ele espera, e que o serviço continua na altura. — ele diz a última parte olhando para mim com um sorriso cruel, talvez percebendo meu esforço em não parecer assustado. — Boa noite, Dave. — Ele se levanta com a ajuda da bengala. — Boa noite, Samuel.
— B-boa noite, senhor... — Respondo sem ter muita certeza se deveria ou não chamar o mesmo de senhor. Ele parece satisfeito com o título, sorri e sai da sala.
Fico parado encarando a mesa por alguns segundos. Sabe aquela sensação de medo quando você conhece alguém, e mesmo que não saiba quem é, você sabe que a pessoa é perigosa? Esse é o sentimento. Pode até não ser real, mas não quero testar.
"Esse inferno de lugar nunca deixa de ser uma merda.” escuto o pensamento do senhor Heathcliff. Ele parece pacífico, olhando para o copo em sua frente.
— Pinguim maldito. — Heathcliff diz alguma coisa depois de um longo momento de silêncio, ele me olha e posso ver a chama de ódio queimando dentro de si. — Se eu não precisasse da merda desse emprego, eu mandaria ele e aquele Falcone desgraçado irem se fuder.
Eu tento sorrir sem graça. Todos os nomes que eles dizem não significam nada para mim, mas eu sei que não podem ser grande coisa.
— Me serve mais uma antes de ir? — Heathcliff me pede e eu me coloco de pé, pegando o copo em cima da mesa e indo até o carrinho.
— O que ele queria? — Pergunto, servindo a dose.
— O pinguim? Aquele idiota veio me avisar que o Falcone decidiu que a boate vai entrar no esquema das redes malucas dele. Primeiro foi a abaixo de zero, depois a sereia rosa, e agora nós. — eu coloco o copo em sua frente. — Eu não sei o que eles estão tramando, mas eu sei que ele vai colocar o pessoal dele aqui dentro. Já até me falou que amanhã vão vir olhar o porão, se tem espaço o suficiente para alguma coisa. Não prestei atenção. — Heathcliff tirou os óculos e coçou a cabeça. Seu cabelo agora estava grisalho, começando a apresentar entradas de calvície. — Eles vão me deixar maluco. — ele me olha, com um sorriso torto. — Não vou te prender mais, pode ir, Sam, até depois.
— Até, senhor. — Sorrio desajeitado e saio da sala.
Alguns poucos garçons agora conversam na aérea reservada e eu evito ficar muito tempo parado. Pego minhas coisas e começo a andar para casa. Gotham de madrugada é um perigo, seja você quem for. O caminho até a minha casa não é muito longo, mas eu não confio muito em andar de vagar até lá.
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When It Breaks || Jason Todd
FanfictionSam Allen acabou de se mudar para Gotham, e entre o trabalho exaustivo como garçom de uma boate e lidar com os problemas Gotham trás para seus moradores, ele conhece a emblemática figura do Capuz Vermelho, que começa a ir até ele sempre que está fer...