extra!

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Bruce Wayne on



Estaciono o meu carro em frente ao prédio de Jason.

Entro pelo estacionamento para ver se algo ficou por ali, e o que encontro é a moto de Jason jogada, como uma bicicleta de um garoto na garagem do pai. Caminho até ela, levantando e estacionando o objeto de modo correto. A lataria está arranhada de tantas formas que eu não sei dizer se foi pelo modo como ele saiu da moto ou se foi no trajeto. Não importa, vou levá-la para o concerto e pagar para que arrumem a lataria, mesmo que Jason não vá gostar.

Subo as escadas até o apartamento de Jason vendo se encontro algo, mas nada além de alguns moradores que ficam levemente impressionados ao me verem passar. Chego ao andar de Jay e vejo em sua porta o vaso de planta revirado jogado no chão, o que já me anuncia o pior.

Sam está no hospital. Duas costelas quebradas, tantos hematomas que ninguém se atreveu a contar, cortes e machucados espalhados por todos os lugares que se dá para olhar. E o pior, Sam não acordou ainda, então os médicos não tem certeza absoluta de como seu estado psicólogo pode estar. Estamos lidando com uma situação que pode atingir desde só um pouco afetado até nunca mais ser o mesmo. Torço para o melhor, mas minha experiência me diz que esse não é o caso.

— O senhor é um parente do Jim? — uma velinha ao meu lado me acorda do meu devaneio. Ela aponta para o apartamento de Jason.

— Sim.

— Oh, que bom conhecer alguém, finalmente! — Ela sorri, tirando o um molho de chaves do bolso e começa a tentar acertar o buraco da fechadura com uma chave pintada de verde. — Pobrezinho, sempre muito sozinho. Se não fosse aquele gato, ele ficaria tão solitário! — ela suspira quando o molho escapa da sua mão e cai no chão. — Pobrezinho. Espero que ele melhore logo dessa bebedeira. Está se destruindo…

Sinto um nó se formar na minha garganta. Me ajoelho pegando as chaves e abrindo a porta da senhora, que me agradece e entra para o apartamento. Suspiro e caminho até a porta de Jason.

Em um primeiro momento, a forço para tentar abrir, mas a mesma se encontra trancada.

— Jay?! — bato na porta, mas não recebo nenhuma resposta. — Você está aí? — Nada, de novo. Encosto a cabeça contra a porta, soltando um suspiro pesado. — Você está, não é?! — Foi um erro ter vindo, porque, nem de longe, eu sou a pessoa que Jason quer ver agora. Devo ser o último na fila, na verdade. Suspiro mais uma vez. Sou um completo idiota. — Podemos resolver isso… — começo a frase, sem nenhuma certeza se ele vai me ouvir ou não. — Eu vou resolver tudo isso, Jay. Por favor, abra a porta para conversarmos. Você não precisa ficar sozinho. As coisas não precisam ser assim, Jay. Me deixe entrar, só dessa vez, me deixe entrar e cuidar de você. — peço, praticamente implorando. — por favor… — sussurro.

A porta então se destranca e eu hesito por um segundo, mas entro mesmo assim.

O apartamento se encontra em completa ordem, exceto por alguns materiais médicos em cima da mesa e garrafas de destilados por alguns lugares. Jason está encolhido no sofá e a cena me aperta o coração, eu posso ver que várias lágrimas escorrem pelo seu rosto, e o rosto inchado dele me diz que não são as primeiras. Ele deve estar muito mais do que acabado para estar chorando na minha frente. Me ajoelho ao lado de sua cabeça.

— Ele está bem, Jay. — murmuro, estico a mão para acariciar os cabelos negros de Jason, mas exito ao fazê-lo. — Eu o visitei, e ele está bem. Está estável. — digo, omitindo o resto da informação. Deixo o medo de lado e começo a fazer leves carinhos no cabelo de Jason. — Eu vou dar um jeito e ele vai sair de lá logo, certo?! Eu vou conseguir.

Jason não se mexe, mas as lágrimas param de rolar.

— Me desculpa. — murmuro mais uma vez. — Você estava certo. Eu sou um completo idiota. — Sento no chão cruzando os joelhos e o encarando. — Você estava certo, filho.

Jason abre os olhos pesados e me encara. Seus olhos estão vermelhos e inchados. Ele se senta. Por um segundo imprevisível, me pergunto o que pode acontecer e me preparo para o pior. Me preparo para qualquer grito que ele decida começar a dar, ou talvez para que ele só decida pular em cima de mim e começar a me bater, mas ele apenas se levanta, silenciosamente e caminha até o banheiro. Me levanto. Não é o ideal, mas é alguma coisa. Passo os olhos pela sala, começando a juntar cacos e garrafas em um canto. Sei que Jason não vai gostar que eu mexa na bagunça dele, mas não importa, vou fazer isso de qualquer jeito, e se eu não suspeitasse do que ele guarda no apartamento, até pagaria alguém que limpasse. Jason provavelmente odiaria isso ainda mais. Faço um montinho rápido com alguns cacos e garrafas.

Não sou um bom pai, sei disso. Tentei ser um para Dick e falhei, tentei concertar com Jason e piorei ainda mais. Tentei de novo com Tim e posso dizer que não fui muito bem sucedido, por mais que não tenha tido um resultado tão ruim, e agora tenho tentando meu máximo com Damian, mas não pareço me sair tão bem. Mas tento concertar cada uma dessas relações, tento fazer tudo que posso para que vejam que aprendi com os meus erros, que estou tentando mudar e que eles podem confiar em mim, mas ainda sim não consigo mostrar a Jason isso. Ele não consegue acreditar em mim, confiar em mim como costumava. Não posso julgar ele por isso, mas não anula o fato de que me machuca.

— O que você está fazendo?! — Jason pergunta. Olho para ele, que está parado com outras roupas e um rosto lavado. Termino com o meu montinho e bato as mãos nos quadris. Ele me observa e eu posso ver a interrogação em seu rosto.

— Vamos? Meu carro está na porta. — Digo, começando a caminhar antes que ele me interrogue. Ele me segue.

Sentamos no carro. Jason não me olha. Pelo contrário, ele parece encarar qualquer coisa que não seja eu. Escolhi o caminho mais longo até o hospital, por mais que eu saiba que Jason percebeu. Eu dou mais uma volta.

— Você já comeu? — pergunto virando o carro. Jason nega com a cabeça. Viro mais uma vez e estamos em frente ao cais de Gotham. Sinto os olhos azuis me olharem. Estendo o braço para o banco de trás e alcanço um saco de fastfood, estendendo na visão de Jason. O mesmo suspira e desce do carro, caminhando até a frete e se sentando no capô. Desço e me sento ao lado dele, colocando o saco de comida entre nós.

Jason retira o sanduíche e começa a mastigar a contra gosto. Suspiro. É uma tradição nossa, ou pelo menos costumava ser. Olho para o horizonte, tentando me tranquilizar.

— O quão ruim está?

— Ele ainda não acordou.

Sinto um suspiro forte vindo do meu lado. Uma respiração profunda. Ele está se controlando para não voltar a chorar.

— Não é sua culpa. — Pondero um pouco. — É minha, Jason. É minha culpa e só minha. Se depois… — as palavras falham ao quase saírem da minha boca. Não sei se estou pronto. — Se depois disso tudo, quando ele melhorar, e eu me certificar que ele está bem… que vocês estão bem, você quiser que eu suma da sua vida. Eu… eu farei isso…

Hesitação.

Meu coração tropeça no meu peito. Silêncio. Apenas isso que recebo, e não posso julgar. Eu realmente estraguei tudo dessa vez.

— Não vou me forçar mais na sua vida. Não te farei mais mal. Você merece paz Jason, e se esse é o preço, eu…

— Ah, só cala a boca. — Jason diz, mas sua voz não parece irritada. — Só… vamos ver como tudo segue, ok?

Eu concordo e ele volta a comer.

Ele não disse que me quer fora de sua vida, e por mais que ele não tenha dito que me quer nela, me apego a esperança de que meu filho não irá me tirar como uma espinha.

Seguro um sorriso.

Talvez ele não me odeie por completo.

When It Breaks || Jason ToddOnde histórias criam vida. Descubra agora