Jason on
Sempre odiei hospitais.
Nunca frequentei muitos quando era mais novo, e evito agora.
Ainda ouço Sam gritar.
Um monstro.
Um nada.
Uma desgraça.
Ele disse que não queria mais me ver.
Nas noites seguintes, tudo que eu fiz foi procurar pelo palhaço maldito. Revirei Gotham e pelo que parece, Bruce fez o mesmo. Talvez fosse pelo fato de que eu jurei fazer aquele palhaço de merda engolir todos os dentes antes de o mandar em uma viagem só de ida para o inferno.
É a velha rixa.
Eu quero matar o Coringa, Bruce quer o salvar.
Isso não me irrita. Não mais.
Tudo que importa agora é Sam. Como eu vou conseguir o fazer lembrar de tudo. Como vou fazer para que aquele olhar de medo desapareça do rosto dele quando me vê.
Não existe nada que te mate mais do que quando a pessoa que você mais ama te fala o que você mais teme ouvir.
O que você sabe que é verdade sobre você mesmo.
Suspiro.
Tenho passado muito tempo no quarto de Sam enquanto ele dorme. É um dos únicos momentos que ele ainda parece meu. Todo o resto, nossas memórias, conversas e momentos, foram tomados dele. Não posso tocar nele, não posso encher seu rosto de beijos como queria fazer quando o encontrasse, não posso o apertar em um abraço. Não posso ficar muito tempo perto.
Não posso amar o único homem que tentou me entender.
O coringa conseguiu tirar mais um pedaço meu de mim.
Tenho sido paciente. Ele pede para me ver normalmente, por uma ou duas horas. Tentamos acertar alguns detalhes de suas memórias, mas dói como ele me pergunta sobre coisas terríveis que aconteceram com ele. Dói ver como ele pensa que eu seria capaz de fazer aquelas coisas terríveis. Eu digo o que fizemos juntos, dos dias e noites que passamos juntos, mas ele acaba perdendo o foco e me dispensando. É igual conversar com um fantasma, ele está lá, firme e vivo, mas não parece conseguir assimilar as informações.
Ele tem conversado com psiquiatras e psicólogos, e todos eles dizem que Sam precisa de tempo, paciência, e que é só isso que eles podem fazer, já que outros tratamentos não deram resposta. Já que todo o resto não é eficaz. Já que a toxina penetrou tão fundo.
Já se passaram dias e eu ainda não vejo resultado nenhum. Tenho medo de que eu nunca recupere Sam, e que pelo resto da vida ele me veja como um monstro.
— Ja-jay? — olho para Sam. Seus olhos entreabertos e pesados me observam. Confirmo com a cabeça. Sua voz me traz um conforto absurdo, como se fossem os velhos tempos.
— Sim. — respondo sem saber se isso vai o confortar ou o assustar. Ele balança a cabeça e por um segundo eu finjo que isso o conforta e tranquiliza.
— Ainda aqui?
— Sim.
— Você não fica desconfortável na cadeira?
— Não consigo dormir. — tento sorrir mas tenho certeza que saiu como algo trágico. Ele balança a cabeça fechando os olhos e por um segundo tenho certeza que ele voltou a dormir.
— Você pensa muito alto.
— Desculpe, vou diminuir o volume.
— Não seja assim. Não sou eu que estou incomodando o sono alheio.
— Não era a minha intenção.
— Nunca é. — ele sorri, confortável. Meu coração se esquenta. Ele está rindo comigo.
— Se você está incomodado, me mande embora.
— Não te mandei embora nem quando você entrou sangrando no meu apartamento com uma arma, vou te mandar agora que está me fazendo companhia?!
Meu coração trava. Ele realmente disse isso?! Ele realmente se lembra disso?!
— Bom, nunca se sabe... — Digo incerto.
— Eu disse algo que não devia? — ele abre os olhos sonolentos para me olhar. — Odeio quando você se encolhe assim.
Me inclino um pouco para frente, sentindo meu coração pular na boca. Ele não parecesse se apavorar. Pelo contrário, parece esperar pelo movimento.
— Não. Você não disse nada errado. Só estou com medo de que eu te machuque com as minhas palavras.
— Você não poderia.
— Não, eu não poderia. — um sorriso enorme estampa o meu rosto ao mesmo tempo que lágrimas enchem os meus olhos. — Você lembra disso, certo? Que eu nunca te machucaria.
Por um segundo vejo a confusão passar pelo rosto de Sam. Duas memórias se colidindo uma contra a outra. Ele não parece entender o que acontece até que volta a focar o olhar em mim. Tenho medo do que pode acontecer. De que Sam está à minha frente e qual será a sua reação ao perceber que sou eu.
— Não, você nunca me machucaria. — ele sussurra incerto, mas mesmo assim estende a mão. — Meu Jason nunca me machucaria.
Meu coração se enche de um alívio sagrado.
"Meu Jason"
Ele lembra, mesmo que em partes, de mim. De que eu nunca fiz mal para ele e de que eu nunca poderia fazer. Meu Sam está aqui, mesmo que não por completo.
É um começo.
O meu Sam está voltando aos poucos e eu vou estar aqui para ele, para o ajudar. E o mais importante:
Ele vai me deixar estar do lado dele.
— Ei. — Sam estende a mão até o meu rosto. Não vi quando as lágrimas começaram a descer dos meus olhos, mas não consigo as controlar. Um sentimento de alívio cruza o meu peito. — Ei. O que eu fiz de errado?
— Nada. — Tento responder em meio ao meu choro descontrolado. — Você não fez nada.
Ele assente e recolhe a mão. No mesmo instante sinto falta do toque. O momento passou, o outro Sam voltou.
— Uhm... sinto muito. — Sam franziu a testa enquanto me observa. Balanço a cabeça confirmado. Ele parece lutar com algo dentro de seu coração, uma dúvida que corre pela sua cabeça. Nada bom pode vir disso. Ele recolhe a mão e se abraça. — Meu Jason. — ele sussurra mais uma vez e fecha os olhos.
Me encosto na cadeira e espero por algo. Não sei o que dizer ou o que fazer, então apenas o observo.
— Você precisa comer algo. — ele sussurra sonolento. — Eu tenho certeza que você não comeu o dia inteiro.
Sorrio um pouco entre as lágrimas. Eu realmente não comi.
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When It Breaks || Jason Todd
FanfictionSam Allen acabou de se mudar para Gotham, e entre o trabalho exaustivo como garçom de uma boate e lidar com os problemas Gotham trás para seus moradores, ele conhece a emblemática figura do Capuz Vermelho, que começa a ir até ele sempre que está fer...