Jason on
Descemos até o porão onde o Flash se encontra. Ele está sentado no chão, analisando um enorme paredão de aço.
— Não sei como abrir. — Ele suspira. — Posso tentar acertar um raio nele, mas não sei se o que está atrás vai aguentar a explosão.
Ando uns passos até tocar o paredão. É aço, sem dúvida. Existe um recorte que indica ter sido moldado por último, o que deve significar que esse pedaço é menos resistente e vai lutar menos contra o corte.
— Tenho um aparelho para esses casos. — Batman diz. — Asa noturna, busque no Batmóvel.
Dick assente e corre. Eu passo a mão pela tinta vermelha seca por cima do paredão. É um sorriso bizarro, com dentes pontiagudos e olhos no com tinta escorrida, como se estivesse chorando. Começo uma prece rápida. Não sou religioso, mas com certeza me tornarei se Sam estiver vivo e bem do outro lado. Dick volta com a pequena máquina na mão e com pouco tempo cortamos o paredão em um formato de porta, que cai com um estrondo no chão.
O local do outro lado é vazio, e não posso ver sequer um palmo a minha frente. O lugar inteiro está tomado por uma fumaça densa. Todos nós entramos, ouvindo nossos passos ecoarem pela sala. Piso em alguns instrumentos de cirurgia ensanguentados, estremecendo cada vez que algum deles faz um barulho. Batman revira os cantos com uma lanterna até que para em um corpo no chão. Um corpo jogado e desacordado.
Não
Não
Não
Corro até o corpo, sentindo minhas mãos tremerem e minhas pernas falharem. Me ajoelho com tudo no chão, agarrando a cabeça inconsciente e colocando no meu colo.
Sam.
Arranco meu capacete com toda a força como se estivesse colado ao meu rosto e olho para ele. O ar que estava nos meus pulmões fogem. Seu rosto parece pacífico, como se estivesse em um sono calmo. Ele está gelado, e isso me assusta ainda mais. Para todo lugar que olho, posso ver manchas de sangue cobrindo machucados enormes. Seu rosto possuí tantos hematomas que seria fácil não reconhecer ele. Seguro Sam próximo ao meu corpo. Estou ajoelhado em uma poça de sangue, vendo que agora começa a escorrer sangue por entre meus dedos e meu corpo inteiro é tomado pelo pânico. Ele soa frio, o corpo inteiro está tão gelado quanto uma pedra de gelo, seu rosto está pálido, sendo que a única coisa que mantém o meu fio de sanidade intacto é uma fraca respiração que sinto vindo dele. Seus batimentos cardíacos, por mais que fracos, continuam ali. Tento colocar a linha de pensamentos no lugar mas não consigo. Ele está ferido, perto de morto e a culpa é minha.
Bruce puxa o corpo inconsciente de Sam dos meus braços e eu sinto vontade de levantar e o agarrar de volta, mas vejo como o corpo está extremamente machucado e não consigo me mover. É minha culpa. Só minha. Eu me odeio para caralho.
Tento respirar mas tudo que acontece são lágrimas que escorrendo e deixam minha visão embaralhada. Foi em um lugar como esse o que aconteceu comigo, e se eu prestar atenção o suficiente, posso ouvir os passos e a risada do lado de fora. Escondo o meu rosto com as mãos. Não é o mesmo lugar, mas parece como, e não posso sequer pensar em o que pode ter acontecido aqui. O que ele pode ter feito com Sam.
Levanto os olhos e vejo uma mão estendida ao meu lado. Agarro a mesma e me ergo, prendendo Dick em um abraço apertado. Ele não reage de primeira, mas logo me retribui o abraço.
— Eu sinto muito, Jay.
— É minha culpa.
— Não é… — Ele responde sussurrando.
Uso ele como apoio quando ele começa a caminhar. Meu corpo vai tropeçando no caminho para fora dali, eu sinto cada parte de mim tremer e casa fibra do meu corpo entrar em curto. Tudo parece estar gritando a verdade. A culpa é minha. Dick para na frente de sua moto, e arremessa a chave da minha para Tim antes que ele coloque o capacete em mim. Não vi quando Bruce foi embora, nem quando Barry foi, e não sei o que fazer. Minha cabeça não consegue entrar em foco com um só pensamento. Tudo gira entorno do corpo de Sam no chão, gelado. Seu sangue ainda mancha minha memória. A maneira como escorria por entre os meus dedos e como ele parecia tão pacífico, tão calmo… tão...
Morto.
Não vi quando chegamos a caverna, mas apenas concordo com a cabeça quando ouço Steph dizer baixinho que preciso trocar de roupa para chegar ao hospital. Ela me diz que Barry já está lá e que já se apresentou como responsável por Sam, que ele está sendo tratado agora e que tudo vai ficar bem, mas não consigo acreditar, não consigo pensar que tudo vai ficar bem porque não vai. Sam está machucado e eu não posso ajudar porque não sei nem o que aquele sociopata fez. Eu sei os níveis que ele pode chegar e me assusta o que ele pode ter feito com Sam. Até onde ele pode ter levado Sam?! Qual é o limiar entre sanidade e loucura que Sam foi exposto?!
Vejo Tim chegar, e antes que ele pense direito, o derrubo da moto e monto, dando partida em direção a saída da caverna. Ouço os gritos pedindo para que eu volte, mas acelero ainda mais. O vento gelado bate em meu rosto, por um segundo aliviando meus pensamentos, mas logo se tornando uma dor cortante a medida que acelero. É a porra da minha culpa.
Eu não deveria ter arrastado Sam para o caos da minha vida. Eu roubei qualquer que fosse a chance dele de ter uma vida normal, de manter sua sanidade no lugar. É minha culpa.
Acelero mais ainda, cortando por entre carros e caminhões que aparecem pela frente.
Eu errei em achar que eu poderia ter algo assim. Um amor. Eu nunca vou poder ter isso. Nunca vou ser normal porque ele nunca vai deixar. Eu sou algo marcado para a desgraça eterna e ele prova todas as vezes que eu tento ter algo que essa é a verdade. Eu nunca vou ser feliz e essa é a minha certeza.
Chego na frente do meu apartamento e praticamente chuto a moto para sair dela, deixando ela jogada no estacionamento. Subo correndo as escadas e uso a chave reserva para abrir a porta depois de várias tentativas. Tudo que consigo fazer é rastejar pateticamente até o sofá, deixando que ele me engula. Como pude ser tão idiota?! Como pude ser tão burro?! Eu arrastei Sam para a própria cova e nunca vou me perdoar por isso.
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When It Breaks || Jason Todd
FanfictionSam Allen acabou de se mudar para Gotham, e entre o trabalho exaustivo como garçom de uma boate e lidar com os problemas Gotham trás para seus moradores, ele conhece a emblemática figura do Capuz Vermelho, que começa a ir até ele sempre que está fer...