019| Tudo parou

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「New Orleans」𝗖𝗛𝗢𝗘 𝗔𝗡𝗗𝗥𝗘𝗔 𝗠𝗜𝗞𝗔𝗘𝗟𝗦𝗢𝗡

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「New Orleans」
𝗖𝗛𝗢𝗘 𝗔𝗡𝗗𝗥𝗘𝗔 𝗠𝗜𝗞𝗔𝗘𝗟𝗦𝗢𝗡

A primeira coisa que senti quando acordei foi uma sede insuportável. Era como se um deserto tivesse se instalado dentro de mim. Sede? O que estava acontecendo?

— Hm... — murmurei, piscando os olhos, tentando ajustar minha visão.

— Choe. — a voz grave de meu pai soou próxima, enquanto ele se aproximava da cama onde eu estava deitada.

Olhei ao redor. Todos estavam ali, reunidos no meu quarto. Meu pai, tia Freya, Elijah, Rebekah... e Hope, encostada na parede, com os braços ao redor do próprio corpo. Ela chorava em silêncio, os olhos vermelhos e inchados. Algo estava errado. Muito errado.

— Cadê a mamãe? — perguntei, sentindo meu coração acelerar enquanto me sentava rapidamente na cama.

Todos se entreolharam, mas ninguém respondeu. O silêncio no quarto era tão denso que quase conseguia ouvi-lo.

— Cadê a mamãe? — repeti, dessa vez com a voz mais alta, quase implorando por uma resposta. As luzes do quarto piscaram, refletindo meu estado emocional instável.

Freya tentou falar, mas quem respondeu foi meu pai. Ele se ajoelhou ao lado da cama, os olhos cheios de uma tristeza que eu nunca tinha visto antes. — Ela... se foi, Choe.

Por um momento, as palavras não fizeram sentido. Minha mente se recusava a processar. — O quê? Como assim, se foi? Não, ela está aqui. Cadê ela? Cadê minha mãe?!

Tentei me levantar da cama, mas minhas pernas estavam fracas. Cambaleei, quase caindo, até que Hope se aproximou para me segurar.

— Choe, calma... Você está em transição. — disse ela suavemente, tentando me estabilizar.

— Transição? — repeti, ainda confusa, mas então tudo veio à tona como um raio. As memórias. A luta. O feitiço. O ataque.

— Ela me matou, não matou? — perguntei, olhando para Freya.

— Foi Roman. Ele quebrou o seu pescoço, Choe. — respondeu minha tia, sua voz baixa, carregada de pesar.

Minhas pernas cederam, mas consegui me segurar em uma das colunas do quarto. Olhei para Hope, que ainda estava perto de mim. — E eu não consegui salvar a mamãe... — sussurrei, recuando.

— O quê? — perguntou Hope, os olhos arregalados.

— É minha culpa. — sussurrei, a dor me rasgando por dentro. — É tudo minha culpa.

— Choe, não! Não é sua culpa. — meu pai tentou se aproximar, mas eu me afastei rapidamente.

— É SIM! — gritei, apontando para Hope. — Você disse desde o começo! É minha culpa!

— Choe, por favor... — começou minha irmã, mas eu não a deixei terminar.

— É TUDO MINHA CULPA! — gritei novamente, colocando as mãos na cabeça. Meu corpo tremia, e as luzes continuavam piscando. Eu não conseguia controlar nada, nem mesmo a mim mesma.

— Choe, não havia nada que você pudesse fazer... — tentou Rebekah, dando um passo à frente, mas Marvel a segurou pelo braço.

— EU PODIA TER SALVADO ELA! — berrei. — Eu estava lá! Eu podia ter feito alguma coisa! Eu estava no controle, mas eu... Eu... — minhas palavras foram cortadas por soluços.

— Choe, por favor. Temos que focar na sua transição. Você precisa se alimentar. — disse Elijah, aproximando-se com cautela.

— NÃO! — gritei, e com um movimento involuntário de magia, quebrei o pescoço de todos os vampiros na sala.

Freya e Hope ficaram paralisadas, olhando para mim.

— Choe, o que você está fazendo? — perguntou Freya, a voz tomada pela surpresa e pelo medo.

Hope deu um passo à frente, os olhos marejados. — Choe... Por favor, me escuta...

Antes que ela pudesse terminar, eu usei magia para derrubá-las também. O silêncio voltou, e tudo o que restava era a dor.

Eu saí da casa às pressas, sem rumo, guiada apenas pela sede que queimava dentro de mim. As ruas de New Orleans estavam movimentadas, cheias de sons, cheiros, vozes... Era demais para mim. Eu estava sobrecarregada.

Eu nunca quis isso. Nunca quis ser vampira. Tudo o que eu queria era continuar sendo a híbrida que eu era. Não era uma vida normal, mas era o mais próximo de normalidade que eu poderia alcançar. Hope sempre quis ser como eu, mas agora, eu daria qualquer coisa para ser como ela.

Minha mãe sempre esteve lá para me ajudar, mas agora ela se foi. E eu não sabia como lidar com isso.

Enquanto caminhava, uma mulher desconhecida se aproximou.

— Você está bem? — perguntou ela, olhando para mim com preocupação.

Eu ri baixinho, um riso amargo. — Está tudo errado... É tudo minha culpa.

— O quê? Do que você está falando? Você está perdida? — insistiu a mulher, chegando mais perto. O cheiro de sangue dela era forte, quase insuportável.

— Como posso ajudar? — ela perguntou novamente, inocente.

— Não se mexendo. — sussurrei, o instinto tomando conta de mim.

— O quê? — ela perguntou, confusa.

E então, eu ataquei. O sangue dela era quente, viciante, e eu não consegui parar. Quando percebi o que tinha feito, a mulher estava morta no chão.

Eu havia matado alguém. E com isso, a transição estava completa. Eu era uma vampira.

Mas a sede não diminuía. A cada momento, eu queria mais, e mais.

Continuei pelas ruas, deixando um rastro de destruição para trás. Cada nova vítima me fazia sentir mais culpada, mas ao mesmo tempo, eu não conseguia parar. As palavras da minha mar ecoava na minha cabeça, repetindo–se como um manterá.

"Você é mais forte do que imagina, Choe."

Mas eu não me sentia forte. Eu não me sentia perdida.

E então, tudo parou. Eu parei.

Olhei para as minhas mãos, cobertas de sangue. Eu não sabia quem eu era mais. Tudo o que eu queria era que essa dor acabasse. Mas, no fundo, sabia que ela nunca iria embora

THE NOT PERFECT SISTERS, legaciesOnde histórias criam vida. Descubra agora