após minha formatura
ainda de beca entrei na minha
antiga sala de aula
me sentei no lugar que costumava
assombrada pela nostalgia
atordoada ao perceber que não
voltaria mais a frequentar
aquele lugar hostil
onde passei praticamente toda
a infância e adolescência
em busca de uma saída
sem saber o que aconteceria depois
que eu enfim saísse
sem bússola nem seta abri
os livros em agonia
para onde vou agora? os perguntei
mas em resposta apenas
fecharam a capa na minha cara
me levantei agitada
até o largo quadro negro
apanhei o giz e
feito velas de aniversário o
assoprei num murmuro
o que é que faço com a minha vida?
mas a poeira baixou e a
pergunta permaneceu no ar
o desespero me engoliu
saí procurando
dentro da mochila e da biblioteca
no pátio e na cantina
me ensine a crescer! ecoou meu
grito entre os corredores vazios
será que alguém pode me
apontar para que lado fica o paraíso
depois que o inferno acaba?
será que alguém é
capaz de me ensinar menos sobre o passado dos outros e
mais sobre como
viver o meu futuro?
há como a linha do equador
me apontar o caminho?
se após minha formatura
não me sinto formada
nem preparada para coisa alguma
se passei mais de uma
década aqui e até agora não
descobri quem sou
será que
algum dia
vou?
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intitulável
PoetryA coragem de admitir não saber titular a própria história, e a ousadia de se declarar intitulável.