ler
li nos jornais que todo
o amor do mundo que era
nosso estava á beira
da morte
sem acompanhante
abandonado numa ala
úmida & escura
em declínio
por negligência médica
vegetando em
estado terminalli todos os termos de
responsabilidade
até as letrinhas miúdas
e então assinei ao pé da página
autorizando o desligamento
dos aparelhos &
máquinas que tentavam
manter vivo o que já
não fazia mais
parte da nossa
vidali no atestado de óbito
que tudo acabou no dia 23
de setembro às 17:45
na calçada ainda
quente do meio dia em
frente á travessa
de carros que
vêm e vão assim
como nósnão aceito nenhuma
dessas palavras foi o que li
no verso do envelope
da última carta que te enviei
e que você devolveu
alegando que se
não fôssemos para sempre
então de nada valia
o começo ou o
meio ou o
fimeu te odeio li também na
beirada do seu olhar
que continha toda
a raiva de um exército inimigo
posicionado a disparar
e de fato fui o
alvo da sua frieza que
que me corroeu
até a medula
um bombardeio das
suas palavras
afiadasmas eu não te odeio
foi o que li pela barra de notificação
em sua declaração de paz
porque me odiar
seria lembrar de mim e
lembrar de mim
seria me ter em algum lugar
do seu coração mesmo
que no lado mais
sombrio delee quando tudo
terminou o que mais li
foram as letras das
músicas que você me dedicou
e toda poesia brega
que você me inspirou a
escrever incluindo
esta própriali tanto mas tanto
que o resultado não pôde
ser outro que
não o contrário
me tornei
uma completa
analfabeta
para toda expressão
de amor bom
& saudável
para toda coisa que
não envolvesse
você e eumas mais do que isso
li em algum lugar
que se você termina com
alguém e essa
pessoa continua a
te tratar com
o mesmo carinho
e respeito
de antes então quem
perdeu foi
vocêisso me faz crer
que eu não
fui aquela a
perder
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intitulável
PoetryA coragem de admitir não saber titular a própria história, e a ousadia de se declarar intitulável.