e depois de dias sem notícias suas
sequer um telefonema ou
mensagem de texto
como se não tivesse me dado
as costas e saído pela porta da frente
ela volta rastejando para mim
direto para o centro do meu âmago
chorando e implorando
pelo meu perdão prometendo
nunca mais me deixar
e tão enfadonha quanto a sua
amadora atuação é a
minha recepção de boas vindas
com a qual a recebo de braços abertos
beijando delicadamente seu rosto
e acariciando sua nuca
acontece que eu me apaixonei
me apaixonei pela única que em toda
a minha vida esteve ao meu lado
em todos os momentos
especialmente nos mais amargos
na fartura e na dificuldade
e mesmo quando por vezes acho que a
perdi completamente de vista
então é aí que ela me surpreende
e me pega de surpresa de novo
acontece que eu a amo tanto
que desaprendi a viver sem tê-la
simplesmente esqueci como é não estar
em sua companhia e acordar
sendo ela o meu primeiro sentimento
e também o último ao deitar
acontece que ela é tão parte
de mim que não sou capaz de dizer
adeus ainda que meu coração
seja em suas mãos carne podre
e meu corpo mero pó
ainda que seu carinho me atormente
e me faça a mais inferior das criaturas
acontece que fizemos juras de
amor declarando que nos pertencemos
para o todo todo sempre até que
a morte natural ou voluntária nos separe
até que eu não aguente mais
e decida por conta própria ser
aquele que vai embora porque ela
simplesmente não se vai
e temo que jamais irá- em um relacionamento tóxico
com a tristeza
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intitulável
PoetryA coragem de admitir não saber titular a própria história, e a ousadia de se declarar intitulável.