não se apaixone por mim
não se atreva a me olhar com essas
pupilas dilatadas
arranque as asas das suas
borboletas antes que tenham a
chance de alçar vôo
não sonhe comigo à noite
não pense em mim ao dia
não queira me querer porque
eu vou arrasar você
eu vou te mostrar o lado feio
que nunca te contaram
sobre todos os contos de fadas
eu habitarei sua mente
tão certo como fogo não foge
para longe da fumaça
eu me derramarei em todas as
garrafas que você virar
numa vã tentativa de me esquecer
eu tocarei sua pele feito
ferro em brasas para que jamais
consiga se olhar novamente
no espelho sem me ver
encarnada em suas entranhas
como uma tatuagem que
se arrependeu de ter feito e que agora
tenta esconder colocando
outras por cima mas
que comigo são tão parecidas
porque eu estarei a cada
esquina e cômodo e ponto de ônibus
um fantasma a te assombrar
porque eu serei o gosto
de todas as bocas que você beijar e
terei a forma de todos os
corpos que entrar
porque eu te reduzirei à cinzas
e lembranças agridoces
fazendo efêmera a sua eternidade
e caótica a sua paz e é
por isso que peço para que
não se apaixone por mim nem me
ame verdadeiramente
porque deixarei um rasgo em
seu peito que não poderá
ser remendado
porque não sei amar
mas principalmente porque
não quero ser para você
o amor que um dia
alguém foi
para mim
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intitulável
PoetryA coragem de admitir não saber titular a própria história, e a ousadia de se declarar intitulável.