estou enojada de mim não consigo permanecer por
mais de cinco minutos no
mesmo cômodo que eu
meu estômago
embrulha & revira
quando me olho no espelho
um bolo se forma na
garganta a cada vez que
abro a boca para falar algo que
é tipicamente meu minha voz me faz querer
perder a audição
tenho nojo de quem sou
tenho vontade de arrancar minha
pele em tiras só para não ter
que sentir o visgo do
meu próprio toque
vomito desgosto
e decepção apenas
em lembrar do meu passado
enfadonho & vergonhoso
sinto ânsia do rastro
remelento que
deixo por onde quer
que eu passe
as moscas me rodopiam
há mofo rastejando sobre minha
carne apodrecida
teia & poeira
os vermes não tardaram
a me degenerar
eu até me jogaria fora
mas meu cadáver já estava em
decomposição quando
a terra se recusou
a me aceitar
talvez seja por isso que
não nos enterram
ao sofrer a primeira morte
aquela que só
mata por dentro e
conserva o de fora
ninguém se
atreveria a tocar numa
alma assim tão
desalmada
não é por nada que
nem a sepultura me quis
você veio do pó o chão
se abriu para me
cuspir mas ao pó não voltará
porque eu me tornei
sujeira e até a cova
regurgitou ao
me engolir- repulsa
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intitulável
PoetryA coragem de admitir não saber titular a própria história, e a ousadia de se declarar intitulável.