não é que eu não me ame
só acho que entre bilhões de pessoas
seja muito odioso ser eu
se eu pudesse escolher a dedo
quem gostaria de ser
eu tiraria mais partes minhas
do que conseguiria repor com a de outros
feito um transplante de
semblante sem cirurgião plástico
eu precisaria de um
semideus ou quem sabe um mágico
é deprimente ter de me contentar com
o que tenho como aconselham os emocionalmente razoáveis
porque sinceramente
com múltiplas possibilidades
eu tinha mesmo que nascer sendo eu?
como se tivesse sido criada
com resultados aleatórios de
uma roleta de loteria
apostando na sorte e azarando tudo
será que estou pedindo
demais e reclamando de barriga cheia
como dizem os humildemente
modestos ao querer ser
qualquer outro alguém?
alguém que não se esconda atrás de
maquiagem & falsa confiança
nem troque de personalidade para
cada situação apresentada
tipo roupas em cabides esperando serem
convidadas a eventos desmarcados
será que é ambição a
minha querer não desejar ser
nenhum desses centenas de milhões
que se destacam mesmo
estando entre centenas de milhões
visto que sou invisível até aos
meus próprios olhos
que só trabalham em função de
me apontar o que não tenho?
talvez a inveja me convença
de que tenho mais do que mereço
então eu aceito o que me foi dado não
porque eu o almeje de fato
mas porque entre tantas opções
colocadas nesse mundo
aceitar é a única
que me resta
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intitulável
PoetryA coragem de admitir não saber titular a própria história, e a ousadia de se declarar intitulável.