a lombar
do meu nariz
seu tamanho chamativo
e formato pouco curvilíneo
me levaram a invejar
o pequeno botão que outras
garotas tinham no rosto
quão minúsculos e
delicados eram em sua feminilidade
como eu queria que fosse eu
ah como eu queria
chegava doer a cartilagem
de tanto esmagar com os dedos
um castigo merecido
por ter um nariz tão exibido
mas quanto mais eu
tentava escondê-lo mais ele
se enchia de presunção
sem vergonha de se mostrar
inteiro e imperfeito
até hoje por vezes me
pego distraída com a mão sobre
o nariz de tão acostumada
que já estive em tentar
moldá-lo à minha própria maneira
amolecendo a argila que
outro oleiro já havia modelado
num gesto familiar
de negação de identidade
rejeitando minha
originalidade- relevo entre olhos
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intitulável
PoetryA coragem de admitir não saber titular a própria história, e a ousadia de se declarar intitulável.