001. O Salto da Teamleader

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— Espero que você entenda a gravidade disso, Srta. Cunningham — a voz irritante da orientadora soou. Parecia como um pequeno sino no fundo da cabeça da garota. Seus olhos azuis encontraram a mulher, que ajeitou seus óculos no rosto, parecendo perceber o quão perdida Chrissy estava. E isso preocupava Chrissy, afinal, seria só uma questão de tempo para que todas as outras pessoas percebessem o quão fodida ela estava.

Suspirou, apanhando sua mochila no chão. Aquela era a terceira semana que ia até a orientadora depois de ter sido pega vomitando nos banheiros da escola.

Esperava, no entanto, que seus pais não ficassem sabendo de todo aquele problema em que parecia estar se metendo. Aquela era a condição onde a diretora havia imposto: ir para a orientadora uma vez na semana, para que seus pais não ficassem sabendo dos seus problemas alimentares.

— Eu agradeço, Mrs. Kelly. — iniciou Chrissy, de forma gentil, como sempre costumava falar com todas as pessoas da escola. Era sua obrigação como líder de torcida, agir daquela forma. Afinal, era conhecida como a Rainha de Hawkins por um motivo, certo? Reinados vinham de gentileza. Amor vindo de seus súditos. Sua mãe sempre dizia isso, após descobrir sobre seu namoro com Jason e seu título na escola.

Mamãe... A lembrança de sua mãe a fazia tremer. Inicialmente, por ser por causa da mulher que estava tendo todos aqueles problemas. Começando com um "você está comendo demais, porquinha" e finalizando com um "vou precisar ajustar todas as suas roupas, para que sua bunda gorda caiba nelas antes do final do campeonato". E, de repente, crises de ansiedade tomaram conta da garota. E ela se sentia exausta.

— Mas eu preciso ir — continuou, como se a imagem de sua mãe nunca a tivesse atormentado de verdade. — Eu me sinto bem hoje... Eu só preciso descansar e preciso estudar para a prova da senhora O'donnesslls.

— Mas a prova não é na quarta? — Mrs. Kelly indagou, desconfiada.

— Sim — mentiu Chrissy, sempre educada. — Mas eu preciso me preparar... Sabe, eu pretendo tentar Austin ou Stanford, ou qualquer outra boa faculdade. E eu preciso estudar.

Uma sobrancelha erguida em sinal de descrença. Mas Mrs. Kelly não insistiu. Todo o seu PHD em psicopedagogia a havia ensinado a não exigir daqueles alunos mais do que poderia. Além de que, uma reclamação a mais para a Diretora Linewood poderia prejudicar todo o trabalho realizado até ali. Mrs. Kelly suspirou.

— Eu vou permitir que vá — adiantou, com um tom gentil. Às vezes, Chrissy se perguntava se na faculdade ela aprendia a usar aquele tipo de tom. — Mas eu preciso que seja sincera, Chrissy. Eu não estou deixando-a ir por acreditar no que disse... Estou deixando-a ir para que se sinta à vontade para me dizer a verdade. Nenhuma conversa tida nesta sala sairá daqui. Esta é uma questão sigilosa e profissional. E eu preciso que me ajude a ajudar você.

— Não se preocupe, Mrs. Kelly... Como diria todos, eu tenho tudo o que preciso, o que mais eu poderia pedir?

E com essas palavras, Chrissy deixou a sala, antes que Mrs. Kelly fizesse mais uma inquisição para saber como se sentia sobre aquilo, para que abrisse seus sentimentos conturbados. Mas Chrissy não sabia sobre seus sentimentos. Apenas tinha a sensação de que estava morrendo aos poucos, translúcida, como um fantasma que sorria e acenava para todos. E aquilo a estava sufocando cada dia mais.

Não foi difícil encontrar Eddie Munson no refeitório com seus colegas de clube. Afinal, o garoto estava em cima da mesa, fazendo sinais e monólogos sobre qualquer coisa que Chrissy realmente não se importava. E o que mais a incomodava era que os esquisitões pareciam muito mais felizes dos que os comuns e populares daquele lugar. Em uma mesa mais afastada, Jason resmungava sobre eles, insatisfeito por não terem expulsado Munson do colégio. E ela não precisava estar sentada ao lado do namorado para saber... Ela conseguia escutar seus pensamentos imundos vez ou outra, como se pudesse ler sua mente.

Os Lábios de Vênus (Eddie & Chrissy)Onde histórias criam vida. Descubra agora