006. O Segredo de Vênus

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O domingo se passou tão miserável quanto um domingo poderia se passar. Eddie Munson não sabia exatamente como lidar com aquilo e a ajuda de sua guitarra havia sido crucial para isso.

Uma sensação de impotência o fazia querer pegar sua van e correr para a casa de Chrissy Cunningham para saber como ela estava. Queria correr até a casa de Carver e socar a cara do bastardo. Mas ele sabia que Wayne estava certo. A melhor opção era Eddie ficar longe daquilo tudo.

Mas isso o fazia se sentir mais covarde ainda. Principalmente, quando a ligação de Chrissy não veio. Eddie, no fim, só soube que estava em casa por Wayne, quando o mais velho ligou para ele durante a noite, para checar como as coisas estavam.

Quando a segunda-feira chegou, ele cogitou não aparecer na escola. Se esconder talvez fosse a melhor opção, principalmente, quando tinha um mau humor tão nefasto que parecia que soltaria fogo pela boca a qualquer instante.

Dustin Henderson estava de bom humor, no entanto. Ele tagarelava sobre sua namorada Suzie e sobre a necessidade de passar um bom tempo com ela. E, se dependesse de Eddie, ele mandaria Dustin para longe, para Suzie, com um chute.

— Se eu fosse você — ele disse entre uma aula ou outra, não se lembrando exatamente de qual. — Eu calaria a boca e ficaria longe de mim.

Dustin o fitou, seus pequenos olhos apertados se abriram em espanto. De todas as vezes em que vira Eddie irritado, nenhuma delas ele pretendeu ser grosseiro com o garoto, exceto por aquela.

Então, quando o horário do almoço soou, Eddie se arrastou para longe da sala, cogitando nem ao menos se sentar com seus amigos. Ele não queria ter que ver a cara maldita de Jason Carver e sua namorada troféu desfilando por aí.

Isso se Chrissy realmente tivesse ido para a escola. Ele não a havia visto até então, nem mesmo na aula de Álgebra que eles tinham juntos no primeiro horário pela manhã, na segunda. Suspirou.

Quando alcançou o refeitório, havia apenas o caos de grupos que colidiam, todos se odiando como sempre. Eddie se sentou na cabeceira da mesa onde ele e seus amigos sempre sentavam, no centro do refeitório. Não muito distante do time. E ele não queria olhar em direção à mesa do time de basquete, principalmente, quando poderia encontrar os olhos de Jason e acabar perdendo o controle sobre seu comportamento. Mas Jason Carver não estava lá.

Nem Chrissy.

E uma leve sensação de desespero tomou o rapaz. O sentimento de que Jason Carver poderia ter feito algo com ela, machucado ela para valer desta vez. E ele não estava lá para ajudá-la.

— Munson — a voz soou, puxando-o do oceano de desespero que engoliu ele. Ele resfolegou, olhando para cima, para ver Brenda Hamilton logo atrás dele, imponente com suas longas pernas negras e torneadas, tranças escuras soltas ao redor do rosto, sobre os ombros e um uniforme de Cheerleader verde, o mesmo que Chrissy sempre usava na escola. Ela cruzou os braços sobre o peito, seus grandes olhos castanhos fitando-o, duros. Brenda era uma grande definição de beleza no Hawkins High School, ela era a definição da deusa de Ébano. — Uma palavrinha com você.

Eddie respirou fundo, bufando em chateação. Ele não queria ter que explicar nada para a amiga de Chrissy sobre como ele ajudou ela a se esconder de Jason. Mas era a única chance de ele descobrir onde Chrissy havia se metido.

Ele se levantou, caminhando até o refeitório e entrando para a fila, ignorando Brenda que o seguiu. Ela provavelmente ficaria mal falada por apenas andar ao seu lado.

— Você não devia andar comigo, pode cair seu status social — ele zombou, apanhando uma maçã. Brenda bufou em deboche.

— Eu sou negra, Munson. Meu status social já é defasado demais — ela disse, jogando as tranças por cima do ombro e Eddie quase sorriu.

— O que você quer?

— Não aqui — ela disse, de forma dura. — Me encontre na arquibancada. Acredito que temos muito o que conversar sobre Chrissy.

Eddie não precisou de muito mais. Brenda simplesmente deu as costas, caminhando para fora do refeitório. Ele, por outro lado, permaneceu na fila e pegou seu lanche, um sanduíche de atum, uma coca cola e algumas barras de cereal. Ele seguiu para fora, direto para a arquibancada, onde Brenda já o aguardava, sentada com um pote de Yogurt e duas maçãs. Ela meneou a cabeça para que ele se sentasse ao seu lado e ele o fez.

— O que você quer? — tornou a perguntar, impaciente. — Onde está Chrissy?

— Eu iria te perguntar a mesma coisa — admitiu Brenda, soltando um suspiro frustrado. Quase dramático. — Depois que recebi seu recado, não vi mais Chrissy, ela só desapareceu. Eu esperava que ela estivesse com você, não com Jason...

Eddie riu sem humor.

— Provável — disse. E então algo estralou em sua mente, como um interruptor ligando. Ele virou-se para Brenda, que apertava os olhos pelo sol. Suas longas pernas cruzadas, seu pote de Yorgut quase intocado. — Você sabia das coisas que Carver fazia com ela?

Brenda então ficou em silêncio, parecia que sua garganta tinha fechado e aquilo irritou Eddie.

— Sim — ela disse por fim, sua voz fraca. — Chrissy aparecia vez ou outra com machucados nos braços, pescoços e pernas. Mas toda vez em que era questionada sobre, dizia que Jason e ela tinham transado e que ele era mais bruto durante o sexo.

— BDSM, aposto... — Eddie murmurou. Brenda assentiu. Aquilo era ainda mais porco do que Eddie podia lidar. Principalmente, quando Chrissy havia sido clara certa vez sobre como Jason não achava aquilo adequado para ela. Hipócrita do caralho. — Ele bate nela, estupra ela e depois faz com que ela se sinta culpada por ter feito isso...

Brenda então parou.

— Estupra?

Eddie olhou para Brenda com cuidado. Existiam segredos entre elas, afinal. Mas ele não podia esconder de quem realmente poderia ajudar a garota.

— Chrissy me procurou há algumas semanas atrás de drogas. E então, ela quis analgésicos... Ela meio que viciou neles. Eu não sei em quanto tempo ela já vinha tomando analgésicos, mas ela se viciou. Ela mencionou algo para você?

— Não, — Brenda disse, cautelosa. — Ela só dizia que estava cansada e acabava bebendo em casa. Talvez ela estivesse tomando pílulas da mãe com vinho. Ela sempre vinha vomitando pelas manhãs, de ressaca. Mas nada que dissesse que foi algo realmente ruim... Ela podia só ter extrapolado na degustação de vinhos com o pai.

— Ou... — completou Eddie — Ela estava se drogando o máximo possível para esquecer das brigas com Jason. Das coisas que ele fez com ela. Mas a Ms. Kelley não ajudou como devia, ajudou?

— Como se a Orientação da escola realmente ajudasse alguém — Brenda bufou. E era verdade... Eddie se lembrava de quando ele começou a ser acusado de praticar cultos satanistas e Ms. Kelley exigiu que ele fizesse acompanhamento com ela.

— Eu me sinto preocupado. Eu passei a noite em claro pensando nisso tudo e ela simplesmente sumiu — ele admitiu, parecia que de repente os muros suspensos por Eddie Munson tinham ruído. Brenda o estudou por um instante. Ela entendia este sentimento. Ela entendia como era estar sempre preocupada com Chrissy...

— Eu sinto muito — ela disse, alcançando o ombro do rapaz e o apertando suavemente. — Chrissy é minha melhor amiga desde sempre e eu devia ter percebido que ela mentia sobre Jason... Eu devia ter feito algo sobre...

 — Devia... — Eddie então disse, de forma dura. — E vai. Mas antes, precisamos ver como ela está.

Brenda engoliu em seco, sabendo do que vinha depois. Suspirou.

— Se ela está com Jason, ela não vai aparecer tão cedo. Ela não está em casa. Ela está em algum muquifo com ele. Enquanto ele jura tudo o que há de lindo para ela e ela acredita que ele vá mudar, apenas para não ter o nome de vagabunda, como ele fez com várias outras garotas.

Eddie suspirou. De certa forma, eles não podiam fazer muita coisa. Apenas esperarem que Chrissy aparecesse. De preferência, antes de Jason surtar e matar ela.

No fim, sua dúvida era: até quando Chrissy Cunningham iria se manter desaparecida pelos caprichos do namorado?

Os Lábios de Vênus (Eddie & Chrissy)Onde histórias criam vida. Descubra agora