005. O Guia dos Mochileiros das Galáxias

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Quando mais tarde, Eddie Munson a convenceu de que dormir a faria bem. Inventaria uma mentira para os pais, diria que dormiria na casa de Brenda. Pronto para ligar para ela e pedir para que a encobrisse. Mas Chrissy não queria envolve-la.  Não quando Brenda também odiava Jason com todo o coração.

Eddie se levantou no meio da noite, ele havia observado Chrissy Cunningham dormir como um filhote assustado, abraçada ao corpo de Eddie, como quem se protege com um cobertor. E ele se perguntou, em algum momento, se encontraria algum manual de como lidar com aquilo, como em O Guia do Mochileiro das Galáxias. Mas ele sabia que não.

Suspirando, ele se levantou após cobri-la mais um pouco com seu edredom. A luz fraca do abajur iluminando o quarto, o suficiente para que não ficasse escuro.

Wayne estava sentado do lado de fora do trailer, fumando um cigarro e bebendo de sua cerveja. Ele já estava próximo a ficar bêbado, percebeu Eddie. Mas ele não culpava o velho tio. Morria de medo de em um momento acabar como ele.

Ele se sentou junto ao velho, pegando uma cerveja do cooler no chão e a destampando com um dos anéis, acendendo um cigarro em seguida. Wayne apenas o observou pelos cantos dos olhos, curioso e irritado por ver o sobrinho se desgrenhar desse jeito. Mas dadas as circunstâncias, ele também não podia julgar o sobrinho.

— Que noite de cão — este foi Wayne, dando uma boa tragada em seu cigarro. Eddie não olhou para ele, passava das três da manhã. Ele apenas suspirou, dando uma tragada forte em seu cigarro também. — Pretende me contar o que aconteceu com a garota chorando no meio da sala? O que você fez?

Eddie suspirou. Lá estavam as acusações...

— Nada, Wayne — disse, de forma dura. Sua expressão tão dura quanto. — Chrissy está passando por um momento difícil. Ela...

— Você não engravidou ela, né? — Wayne completou, bebericando sua cerveja.

— Eu nunca toquei nela — disse Eddie, sua voz amarga. Wayne olhou para ele, sentindo a forma como as palavras saíram. Ele sabia que era problema vindo. Algo grande ali.

— O que aconteceu, Eddie? — ele perguntou e, de repente, não havia uma expressão dura ou debochada como costumavam usar um com outro. Não havia sarcasmo, ameaças ou acusações. Havia uma preocupação com o sobrinho, o mesmo sobrinho que chegou em sua casa pequeno, que raspou a cabeça e se escondia dos garotos da escola. O mesmo garoto que chorava todas as noites, nos primeiros dois anos, pedindo para que a mãe aparecesse e o levasse para casa. Eddie Munson era como se fosse filho de Wayne. Não era só seu sobrinho... Ele era seu filho. E pais devem apoiar. Eles só tinham um ao outro... Eles precisavam se apoiar. E aquele parecia o momento.

— O namorado dela bateu nela — Eddie disse, de forma sufocada, voltando a beber sua cerveja, para fazer engolir a raiva que lhe subiu.

— E onde estão os pais dela? — indagou Wayne, chateado.

— Eles provavelmente nem sabem e devem amar o bastardo... Ela... — ele suspirou, frustrado. Seu braço se apoiou no cotovelo, apoiando a cabeça contra a mão, para que olhasse para Wayne. E seu tio parecia estar horrorizado com aquilo. — Ela me procurou por ajuda, porque não sabia o que fazer, Wayne... E eu não sei o que fazer... Eu quero abrir a cabeça do filho da puta com uma chave de rodas. Enterrar o corpo dele em uma vala qualquer e escrever "abusador" na testa dele. Mas... Ela está tão desesperada. Ela tem tanto medo dele... Que eu não duvido que eles fiquem bem nos próximos dias.

Wayne escutou, chateado. Ele conhecia o histórico, a mãe de Eddie havia sido vítima de abusos do seu irmão, antes de desaparecer pelo mundo, largando o garoto com ele pouco antes do seu irmão ir preso. Ele se lembrava das vezes em que ela aparecia na sua porta, com um olho roxo, os cabelos castanhos e cheios tentando encobrir cicatrizes na testa, com uma franja. Parecia com a que o garoto usava agora.

Os Lábios de Vênus (Eddie & Chrissy)Onde histórias criam vida. Descubra agora