I am your family

0 0 0
                                    

[Narrando Alison]
O museu era muito bonito, e tinha quadros que até eu era capaz de dar um rim para tê-los. A minha mãe não parava de mandar mensagens a perguntar se eu e a Virgínia estávamos bem.
Eu limitava-me a dizer que eu estava.
Eu e o Mateo estávamos a percorrer os lindos corredores do Louvre, a ver o que o Kurt pretendia fazer ao David, ao gajo que eu por acaso andava a comer e ele SABIA!!!!!
Passado uns dois corredores, o Kurt e o David sentaram-se num banco, e eu e o Mateo fomos até eles:
- Viva!
- Olá Ali. - respondeu o David, rindo-se para mim.
- Kurt podemos falar? - perguntou o Mateo, com uma voz baixa, cautelosa e suave.
- Estou neste momento com o David.
- Podes ir, se quiseres. - afirmou o David olhando para ele.
- Prefiro ficar aqui contigo...
- Então, tudo bem!!!

O Kurt era muito teimoso, e também orgulhoso, e nunca queria dar o braço a torcer.
Eu entendo que ele se sinta triste com tudo, mas ele e o Mateo namoram à meses e ele podia ao menos ouvi-lo.
O que por agora estava difícil de acontecer, o que levou a que eu e o Mateo saíssemos da beira deles e irmos até junto da Sam:
- Olá. - disse-nos ela, o que fez o meu coração quase subir até à minha boca de emoção de ouvir-la.
- A tua namorada? -perguntei eu, referindo-me claramente à Melissa.
- Está na casa de banho.
A resposta dela foi a pior que ela podia ter tido, quando nós dizemos aquilo, esperemos sempre um "Qual namorada?" ou "Eu não namoro".
- Sam, tu e a Melissa namoram? - perguntou o Mateo, com um tom profundo e confuso.
- Oh não, mas se a Alison quer achar que sim, que ache.
- Pois...
- O Kurt? -perguntou a Sammy.
- Está com o David.
- Eles estão a comer-se?
- Não! Nem toda a gente come outra, quando está claramente apaixonada por outra. -digo eu, com um bocado de hipocrisia.
- Fala a rapariga que está a comer a Marvin à tempos. E gosta de outra...
- Eu não gosto de ninguém.
- Então já não gostas de mim? - perguntou a Sam.

Esta pergunta deixou-me hesitante em que resposta devia dar, porque era óbvio que gostava dela mas não queria mostrar a minha vulnerabilidade naquele momento.
- Não. Eu estou com a Marvin.
- És ridícula...
- Uma pessoa espera mas acaba por se cansar e esquecer.
- Alison, ok.
Depois disto, a Sam saiu de perto de mim e do Mateo:
- Alison, porque mentiste?
- Mateo... eu disse a verdade!
- Sim, e eu quero foder com o Scoot.
- Está bem, eu gosto dela mas vamos ser sinceros, se fosse para estar com ela, já estaria. Já passou tanto tempo e continuamos num vaivém que me deixa cansada.
- Já viste quantas coisas eu e o Kurt superamos este ano letivo? E nunca desistimos.
- Mateo, eu sei. Mas eu e a Sam não somos assim, talvez funcionamos mais como amigas, algo mais platónico.
- Eu nunca te disse isso, mas quando eu e tu namorávamos, eu sempre senti que tu procuravas em mim um príncipe encantado, alguém que seria bom para as pessoas te verem, e não alguém que gostasses mesmo. Tu sempre gostaste da Sam e tu sabes disso, e não achas que mereciam uma oportunidade para ver como resultavam juntas?
- Eu estou com a Marvin.
- Tretas... tu não gostas dela.
- Ela ajudou-me muito a ultrapassar a Sam, quando disse que nós nunca funcionaríamos.
- E ultrapassaste-a?
- Nem um segundo.
- O meu trabalho está feito...
- Que Mateo é este, que se preocupa com os sentimentos dos outros?
- Para o Kurt, esse Mateo não existe. Sou apenas um convencido que brinca com os sentimentos dele...
- Mas vou-te fazer uma pergunta.
- Diz, Ali.
- Porque essa aposta, foder com o Kurt?
- Ele era o único gay assumido da escola e eu era um imbecil, e enfim.
- Ele vai acabar por falar contigo.

[Narrando Kurt]
Sentia-me só. Sentia que não era suficiente. Sentia que eu era outra vez o Kurt do 9 ano que se assumiu gay e toda a gente o levava como uma anedota. Sentia que o Mateo nunca gostou de mim.
Estava com o David, a andar pelos corredores do Lovre sozinhos, e começou a vir-me lágrimas aos olhos:
- Estás bem? - perguntou o David, abaixando-se para estar no plano dos meus olhos.
- Estou. Apenas o Mateo que é um imbecil.
- Eu conheço o Mateo desde os 4 anos, e sei que ele é um desafio no mínimo, mas é incrível.
É a pessoa que eu mais confio. E ele gosta de ti...
- E porque fez aquela aposta de merda?
- Porque é o Mateo, e é um imbecil de merda.
- Mas isso não justifica, ele ter-me usado.
- Meu, ele não está contigo pela aposta, e eu sei disso. Ele deixou-me isso claro bastantes vezes.
- Mas desde que estávamos juntos, parece que não temos um segundo de paz, e aparece sempre uma coisa.
- Tu estás a namorar com o Mateo, que apesar de ser meu amigo, quase irmão, sempre foi um gajo problemático que tem muitas dificuldades em se abrir com os outros. Tu foste quem lhe deixou mais à vontade com isso. E isso acredita em mim, é um grande poder!
- Às vezes sinto que ele esconde coisas de mim, por exemplo o pai dele, é tipo um tópico bastante sensível que ele não me diz nada.
- Deixa que ele se sinta pronto.
- Ou o facto de ele começar a beber descontroladamente, só porque sim...
- Eu conheço melhor o Mateo do que ninguém, e acho que essas coisas fazem parte de uma espécie de sistema de proteção dele.
- As mães dele são ótimas, e acho que nem ele se abre com elas.
- O Mateo é mesmo assim. Um livro fechado que se abre apenas para 2 ou 3 pessoas.
- Mas quem são essas pessoas? Eu não faço parte delas.
- Tu sabes que fazes. Dá-lhe tempo.
- Mas eu não quero mais estar com ele...
- Então deixa-o seguir em frente, porque ele está tão apaixonado por ti que é capaz de passar anos só a tentar mostrar-te que não te quer magoar.
- Isso não é problema meu.
- Mais ou menos que é, porque se não gostas dele ou estás magoado a ponto de nunca mais o quereres ver, faz isso, eu entendo e dou-te razão, mas deixa-o seguir em frente e não lhe dês falsas aberturas para um "se".
- Pelos teus discursos, parece que eu é que estou a ser uma pessoa horrível que não quer ouvir ninguém sem ser ele mesmo.
- Não te acho horrível mas a segunda parte está meio que certa. Preferes acreditar no Scoot que eu conheço bastante bem, que fez parte da minha infância e da do Mateo, e digo-te ele não vale tanto assim a pena do que no teu namorado.
- O meu pai deixou-me a mim e à minha mãe, quando eu era bem novo, e eu sinto que não posso confiar em nenhum homem o suficiente. Sinto sempre que eles vão acabar por me abandonar ou magoar.
- Meu, isso é lixado.
- Pois é!

O David aproximou-se de mim e deu-me um abraço, e depois disso sorriu para mim.
Ele era uma pessoa incrível.
- Já não consigo mais andar, David.
- Eu levo-te ao colo se falares com o Mateo, pelo menos por um minuto.
- Não sei se os teus braços valem tanta humilhação.
- Acredita, eles são fortes.
- Ok, ganhaste. Dou-lhe um minuto, em troca de me levares até ao átrio, onde já devem estar à nossa espera.
- Combinado.

[Narrando Mateo]
Todos nós já estávamos no átrio do museu para irmos embora, faltando apenas o Kurt e o David.
Eu tinha a certeza que nada aconteceria entre eles porque o David é das pessoas que eu mais confio, e sei que ele nunca faria nada com o Kurt, para além disso acho que é hetero.
Também acho que o Kurt, apesar de estar muito magoado não era capaz de se envolver com outro gajo.
Passado 15 minutos à espera deles, eles apareceram e o Kurt está sentado ao colo do David e estavam a correr. Quando vi aquilo senti-me um bocado confuso, porque duvidava que o David comesse o Kurt mas era um pouco estranho porque eles mal se conheciam.
O Scoot, quando eles chegaram, disse:
- Kurt, então já esqueceste o Mateo? Foi rápido... mas entendo o David é giro.
- Meu, não venhas meter veneno para o nosso lado, sei que tens uma história triste e tudo, mas não é por isso que vou deixar-te de dizer que és um merdas. - respondeu o David, levantando o tom.

As palavras do Scoot não me deixaram nada inseguro, eu precisava de saber o contexto.
A professora passou-se com o David, mas quando chegamos ao hotel, os ânimos acalmaram da parte dela. O David veio ter comigo:
- Mateo, olá, podemos falar?
- Sim. Em primeiro lugar, posso te fazer uma pergunta?
- Posso ir dormir no teu quarto? O Kurt não quer estar comigo e eu quero dar-lhe espaço.
- Podes dormir comigo, na minha cama mas tenho o Tommy comigo no quarto.
- O gay Tommy que queria comer o Kurt à uns messs atrás?
- Esse mesmo.
- Vocês...?
- Não, mas ele bateu-me uma mas só isso.
- Gostas de gajos, agora?
- Não paro para pensar nessas merdas, mas estava com tesão e ele fez o serviço, simples assim.
- Está bem.
- Meu, aquilo do Kurt foi porque ele não conseguia andar mais e eu ofereci-me para o levar ao colo. Foi só isso.
- Também não pensei que farias algo com ele, mas achas que ele nunca mais me vai ouvir?
- Acho que vai, tens que falar com ele.
- Vou tentar. Obrigado, David.
- De nada. Tu sabes que eu adoro-te como um irmão.
- Eu também!

O Kurt jantou com a Brenda, o que me deixou bastante satisfeito porque ele parecia feliz. Talvez o David tenha conversado com ele. Foi até lá fora antes de me ir deitar para fumar um cigarro, e estava lá a Sam a fazer a mesma coisa:
- Mateo, tu fumas desde quando?
- Podia-te fazer a mesma pergunta.
- Quando estou nervosa fumo.
- Eu também. E estás assim por causa da Alison?
- Também, mas não é só isso, mas fala-me de ti.
- Vou deixar as coisas esfriarem e amanhã vou falar com o Kurt.
- Fazes bem.
- E tu, o que se passou?
- Sabes a minha mãe?
- A homofóbica que te expulsou de casa?
- Essa mesmo.
- Sim, sei.
- Eu ainda sigo-a no Facebook.
- Tu usas Facebook?
- Tem páginas que eu gosto de ir lá.
- Estranho mas ok...
- Ela colocou uma foto e uma mulher que é da igreja dela, perguntou nos comentários como está a filha, ou seja eu.
- Sim, e?
- Ela disse que a filha dela estava morta.

Ao ouvir aquilo, senti duas coisas: ódio por existirem pais assim mas também uma dor pela Sam e por ela não merecer nada daquilo.
Fui até ela e abracei-a com força, até ela começar a chorar.
- Vou estar aqui sempre para ti. - disse eu.
- Quase sinto que não tenho ninguém...
- Eu sou a tua família e tu és a minha.

Depois de a acalmar, fui para o quarto do Tommy e do David, deitei-me e esperava pelo dia de amanhã.

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Aug 25, 2023 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

Entre nósOnde histórias criam vida. Descubra agora