Fatal kiss

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15 de março de 2020
Não dormi a noite toda a pensar no que aquela mensagem significava.
Será que o Kurt traiu o Mateo?
Se assim o fez, acho muito fuleiro porque eu tive que engolir e aceitar a relação deles e agora passado uns 4 minutos já se aborreceu do Mateo...
Hoje a Sammy e a Brenda puseram uma foto no Twitter, a acordar juntas, e eu fiquei super ciumenta, outra coisa para me atormentar a cabeça.
Tinha medo de estar a sentir alguma coisa que não devia de estar a sentir pela Sam. Eu julgava-me hetero...
Vamos pensar noutra coisa, hoje a minha mãe fazia anos e estava muito contente por ela. Desci as escadas e decidi preparar o seu pequeno-almoço favorito: panquecas com frutos silvestres e um sumo natural de laranja.
Passado uns 10 minutos, ela desceu as escadas e disse:
- Alison, que cheiro bom, fizeste as minhas panquecas?
- Parabéns mãe, gosto muito de ti, e sim fiz-las mas anda comer antes que arrefeçam...
- Filha, sabes o Jude?
- Sim, o canalizador de ontem?
- Sim, esse mesmo. Eu estou a experimentar sair com ele, para ver como as coisas correm. Espero que estejas bem com isso.
- Sim, mãe. Se ele te fizer feliz, está tudo ok para mim, acho eu.
- Bom.

Na verdade, não  estava nada bem com isso. O Jude sempre foi aquele tipo de homem bem tradicional que eu não curto muito. Adora ver jogos de futebol e é louco por andebol, e não preciso disto na minha vida. E a sua filha é a Virginia, andou comigo até ao 8 ano, agora mudou-se para outra escola.
Eu e ela tínhamos uma relação no mínimo cordial, nós não gostávamos muito uma da outra, digamos assim.
O motivo: ela tentou interferir na minha amizade com a Sam diversas vezes, e eu não gostava disso. A Sam até se dava bem com ela, apesar de para mim a Virgínia não passar de uma cabra destruidora de amizades!

Depois de tomar o pequeno-almoço, a minha mãe levou-me à escola, e eu fui logo ter com o Kurt que por surpresa estava com o Mateo:
- Bom dia, Kurt podemos ter uma conversa? A sós?
- Olá Ali, também estou aqui. - disse o Mateo, meio que indignado.
- Olá Mateo, Kurt então?
- Vamos, Mateo já volto.
Ele deu um beijo no Mateo, e o Mateo deu-lhe uma palmada no "cu" bem devagar enquanto ele saía do colo dele.
- Alison, o que tens de tão urgente para me dizer?
- Sabes o mensageiro anónimo, ele tem-me mandado mensagens privadas.
- E só dizes isso agora? Pensava que as mensagens que ele mandava era para todos, mas parece que não.
- O mais interessante é que ele ontem me contou que tu andas enrolado com outra pessoa, por isso ou contas tu ou conto eu ao Mateo?
- Alison, abranda. Isso é impossível, eu não estou a trair o Mateo, eu amo o Mateo. Por quem me julgas? Por uma vadia que quer tudo e todos?
- Kurt, porquê que o M.A me havia de mentir?!
- Alison, isso não é problema meu. Se estás a desconfiar de mim, quer dizer que não me conheces assim tão bem, e mais uma coisa isto não é da tua conta.
- Calma...
- Calma? Tu fizeste uma pergunta e eu disse-te a verdade mas quando continuas a desconfiar a coisa começa a ficar chata! E não é por quando tu namoravas o Mateo estares morta de ciúmes pela Sam e pela Brenda, que eu vou sentir o mesmo.
- Desculpa pela minha falta de confiança.
- Pedir desculpa é fácil, difícil é pensar antes de magoar as pessoas...
- Sabes que o Mateo é muito importante para mim, e não quero vê-lo a ser magoado!
- Não vás por esse caminho, eu sou o teu melhor amigo desde criança, mas parece que consideras o Mateo mais importante...
- Mentira.
- Alison, tem um bom dia.

O Kurt após dizer isto, saiu de perto de mim num tom de zangado e de arrogância. Eu meio que o compreendia, acho que passei dos limites. Mas eu quero mesmo que a relação dele com o Mateo resulte e não foi por mal....
Mas o que ele disse sobre a Sam suscitou-me interesse, afinal ele já tinha reparado nos meus ciúmes? Como assim?
No intervalo do segundo tempo, fui ter com a Sam:
- Estás a ouvir o quê?
- Girl In Red.
- Ah já devia de ter presumido isso...
A Sam riu-se:
- Podia estar também a ouvir arctic monkeys ou até The neighbourhood. Por isso perdoo-te.
- Boa. Ainda bem. Vi a tua foto com a Brenda hoje de manhã.
- Estava engraçada.
- Se tu o dizes...

[Narrando Sam]
A conversa que tinha tido com a Alison tinha sido estranha, além de o meu gosto musical ser assunto de conversa o que eu adoro, quando ela tocou no assunto da fotografia com a Bree e mostrou indiferença, ela pus-me a pensar no que se estaria a se passar.
A Brenda deve ser a melhor rapariga que eu alguma vez namorarei, mas infelizmente acho que não sinto por ela o mesmo que ela sente por mim. Não conseguia tirar não sei porque razão, a Alison da cabeça. Mas acho que todos nós da comunidade LGBT já tivemos interesse por um amigo ou amiga hetero, e é o que me está a acontecer.
Hoje finalmente tinha ganhado coragem de enfrentar a minha mãe, aquela que me expulsou de casa por ter interesse em pessoas do sexo feminino.
Após as aulas, fui até à minha antiga casa e toquei à campainha:
- Sou eu, a Sam.
- Sam, o que estás a fazer aqui? Pensei que tinha sido bem clara que não te queria ver mais...
- Acho que percebi isso quando me expulsaste de casa, mas eu não quero ter para sempre este peso na consciência dentro de mim, tinha que te enfrentar e dizer o que sinto em relação a ti.
- Sam, tu és uma aberração da natureza, vais contra todos os princípios que eu acredito, a igreja católica tem vergonha de mim por ter uma filha tão pecadora como tu.
- Cala a boca, e deixa-me falar, mãe. Para ti o que faz diferença se eu em vez de um homem querer uma mulher? Isso é um crime, porquê? A minha felicidade não é importante para ti? Amor é amor, de qualquer das formas. Porque eu vou-me obrigar a sentir atração por uma coisa que não sinto? Por uma senhora como você? Que não aceita a sua própria filha como ela é? A vergonha aqui não sou eu, mas sim tu. Se achas que por eu namorar com uma rapariga, mereço ser castigada pelo teu Deus, é porque não nascente para ser mãe. Porque as mães são compreensivas e gostam dos filhos de qualquer uma das maneiras.
- Eu não sou tua mãe, tu para mim não existes. Nem mereces viver neste mundo...
Quando ela me disse isto, o meu coração caiu, não consegui conter as lágrimas e só pensava em morrer.
- Para de dizer isso, sabes que mais, eu não preciso disto.

[Narrando Kurt]

Hoje tinha outro "encontro" marcado com o Tristan, estava ansioso para ajudá-lo a lidar com a sua sexualidade. O Mateo hoje também me convidou para ir a uma feira de jogos, por isso tinha que me despachar para ir ter com o Tristan.
A discussão com a Alison da manhã foi intensa, eu gosto muito dela mas acho que ela não foi muito justa comigo e nem me deixou explicar. Depois da aula, então fui ter com o Mateo para irmos à feira:
- Kurt, pronto para andar na montanha russa?
- Eu tenho vertigens...
- Eu posso salvar-te.
- Com esse corpo em forma? E com esses braços grandes?
- Óbvio.
- Alinho.
Entramos na montanha russa, e eu estava aterrorizado, cheio de medo.
- Mateo, tenho medo.
- Eu estou aqui. Encosta a tua cabeça no meu ombro.
- Amo-te.
- Também te amo, Kurt.

A viagem pela montanha russa tinha sido no mínimo assustadora. Depois disto, fomos comer um algodão doce:
- Adoro algodões doce. - disse eu.
- Gosto mais de ti.
- Fofinho.
- Beija-me.
O Mateo pegou me ao colo e comecei a beija-lo.
- Kurt, a minha casa está livre? Podemos ir para lá, continuar isto?
Neste momento, olhei as horas e estava atrasado pra me encontrar com o Tristan.
- Mateo, desculpa preciso de ir embora.
- Porquê?
- Põe-me no chão.
Sai do colo dele, dei-lhe um beijo e saí dali a correr, quando cheguei à Starbucks reparei que o Tristan já ia sair, mas consegui apanha-lo a tempo:
- Desculpa pelo atraso.
- Não faz mal, aconteceu alguma coisa?
- Não, vamos.

[Narrando Sam]
Fui embora a correr a chorar, e fui ter à casa da Alison:
- Sam, o que aconteceu? Estou a ficar preocupada.
- Fui enfrentar a minha mãe, e ela disse-me um monte de merdas, sobre mim que eu era uma aberração e que não mereço viver.
- Sam, não te quero ver assim a chorar. Por favor, olha para mim.
Tirei lhe as mãos da cara e pus-lhe em frente a mim:
- Tu és perfeita como és, Sam. E ser LGBT não é nenhuma vergonha, é completamente normal. És linda e mereces o mundo, e não deixes ninguém dizer o contrário.
- Achas mesmo isso?
- Sim, Sammy.

Neste momento, eu apercebi-me que gostava mesmo da Alison, aproximei-me dela e comecei a beija-la.

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