³⁰; dançar na chuva

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Eu gostaria de encontrar uma maneira de fazer o tempo passar em câmera lenta, toda vez em que ela sorria para mim. O calor de nossas peles atravessando entre nossos dedos entrelaçados, diminuía o peso em meu coração.
No rádio, Ella Fitzgerald cantava It's A Lovely Day.
— Se continuar me olhando, vai bater em algum poste, Taehyung — ela diz com riso na voz. Só pensei em beijá-la.
Voltei total atenção para o trânsito, desconcertado. Eva ainda me fazia sentir um garoto tímido, às vezes.
— Desculpe. Você fica cada dia mais bonita, preciso te olhar.
Ela apertou meus dedos sob seu colo, rindo da minha cara de bobo.
— Anda bem mais doce, é por eu estar de partida? — sussurrou baixinho.
— Eu só não quero fazer bobagem.
— Você nunca faz, Tae. Pode relaxar, okay?
— Okay.
— E para onde estamos indo? Faz mais de quarenta minutos que estamos na estrada. O sol já se pôs. 
— Temos alguns lugares para aproveitar, anjo. Confie em mim como sempre faz.
— Jimin me fez fofoca, disse que você passou dias se organizando. Vou morrer de curiosidade!
Eu ri.
— Não vai, não. Estamos perto de chegar.
Eu dirigi o restante do tempo que faltava para chegarmos no limite da travessia para Nami Island.
— Oh, meu Deus! Um barco?
— Conhece essa região?
— Só pelos doramas. Nami Island, huh? Vamos atravessar de barco? — ele já desfivelava cinto enquanto falava animada.
— Vamos, anjo.
Após estacionar e pegar nossas mochilas no porta malas, seguimos em direção ao barco pequeno ancorado, de mãos dadas.
— É uma travessia particular — avisei quando os olhos curiosos começaram a observar ao redor e uma ruguinha uniu as sobrancelhas finas.
— Ah — sorriu — Por isso não tem ninguém.
— Olá — o senhor gentil com quem havia combinado a travessia saiu da cabine — Sejam bem-vindos.
Ele nos conduziu para dentro do barco, Eva e eu sentamos no banco de madeira fixo na lateral tendo total visão da água. A lua surgindo entre as nuvens, refletindo.
Em silêncio, contemplei o início da noite e as ondulações do mar. A travessia não durou muito, assim que atracamos, ajudei Eva a descer segurando sua mão.
— Tenham uma boa estadia — o barqueiro desejou.
— Obrigado — agradeci e Eva também com um sorriso doce.
— Existe uma hospedagem mais adiante, mas não podemos perder muito tempo. Se não vamos nos atrasar.
— Como conseguiu tudo isso? E para onde vamos? — ela perguntou enquanto nos afastamos da beira.
— É ótimo ter bons amigos — respondi puxando sua mão delicadamente.
Nami Island era um lugar aberto ao público durante o dia. Uma pequena Ilha há poucos quilômetros da cidade de fácil acesso e repleta de árvores altas que se enchiam de cor com as flores na primavera.
Olhei para o meu relógio e para o céu que já começa a agrupar nuvens cinzas.
— Não sabia que tinha como se hospedar por aqui.
— Com o contato certo é possível, anjo. Agora, não se preocupe com isso.
Seguindo uma estrada estreita entre árvores, chegamos a um prédio de dois andares com aspectos de uma cabana de madeira.
Eu sabia com quem falar e do lado de dentro uma jovem nos recepcionou indicando nosso espaço. Este que se localizava no segundo andar.
— É muito bonito — observou Eva.
— É simples.
Deixei as bolsas em cima da cama de chão improvisada. Eva ergueu uma sobrancelha olhando para o colchão alto com uma cesta grande em cima e para mim.
— Eu gostei muito — sorriu largo — Muito mesmo.
Ela olhava o jardim através da ampla janela. Aproximei-me abraçando o corpo, pressionando meus lábios na pele do ombro.
— Fico feliz.
Eva arrepiou-se com o segundo beijo, dessa vez na lateral do pescoço.
— Taehyung, você é um romântico incurável.
— Estamos começando, meu bem — sussurrei — Vamos.
Peguei a cesta e a chamei para fora com um aceno de cabeça.
— Não posso me arrumar antes?
— Acho que não é necessário, aliás você está sempre bonita.
— Tem certeza?
Encarei-a nos olhos.
— Eu pretendo te sujar, anjo — minha voz carregada foi o suficiente para que compreendesse.
Sem mais ela me seguiu.
O céu estava mais escuro, o vento um pouco mais frio, então passei um braço por sobre o ombro dela.
— Vamos caminhar mais um pouquinho, tudo bem?
— Tudo bem.
Os primeiros metros foram de silêncio de nossas partes, além disso, os grilos e cigarras produziam um som estridente no meio da vegetação.
— Consegue ver ali? — apontei o píer de madeira abaixo, na beira da água.
— Oh meu Deus! É lindo!
— O que acha de um piquenique?
— Você não existe, Taehyung. Essa era sua ideia o tempo todo?
Acenei com a cabeça.
— Eu não consegui ser tão criativo quanto gostaria, mas sabia que poderíamos ir tão longe. Isso me pareceu mais… certo? Algo assim. Agora, vou precisar da sua ajuda. Pedi para que colocassem algumas coisas gostosas nesta cesta.
— Claro, eu ajudo.
Eva ajudou-me a esticar a toalha vermelha xadrez por cima da madeira do píer, colocando as frutas, o vinho, queijo e pães em cada pequeno recipiente vindo no fundo da cesta.
Me sentei primeiro, de frente para a água e chamei-a para sentar entre minhas pernas. Arrancamos os sapatos e Eva encostou o corpo contra o meu peito. Seu calor atravessou minha camisa, espalhando-se por meu peito.
— É tão relaxante escutar o mar — sussurrei próximo ao rosto alheio. Ela me encarou concordando.
Eva pegou minha mão colocando sobre seu peito.
— Sente como está calmo? Acontece muito quando estamos juntos. Fico menos ansiosa, diferente do começo.
Suspirei fundo, acompanhando as batidas do coração dela.
— Vou admitir que gosto quando ele bate descompassado.
Ela sorriu.
— É todo seu — soprou — Como já disse uma vez.
— Vire-se aqui — pedi. A mulher mudou de posição, encaixando as pernas por cima das minhas. Peguei sua mão assim como fez comigo, pressionando no meu coração — Não consigo disfarçar, você pode me matar com todo esse amor aqui.
— Não fala isso!
— Aigoo! É no sentido figurado, Vê! Sente como fica agitado mesmo neste momento, nesse lugar tão tranquilo?
— Sinto.
— Mas não tem dor como imaginei. Na verdade, não estou triste por ter que te ver ir. Sinto-me feliz pois viverá seus sonhos — meus olhos arderam — Este momento é perfeito por este motivo.
— Entendo o que é isso. Também não tenho tristeza.
Um som estrondoso de trovão rugiu no céu, seguindo de um clarão do relâmpago. Eva sobressaltou-se.
— Está tudo bem.
— Vai chover.
— Vai sim, mas não agora. Não se preocupe — retirei sua mão do meu peito beijando-a — Aceita um pouco de vinho?
— Aceito.
Eu servi vinho rosé para nós dois. Eva apanhou um cacho de uvas para me servir na boca. Retribuí a gentileza com a fruta e um beijo caloroso. Sorvi e suguei os lábios dela aproveitando-me do doce gosto de uva e vinho. Ficava ainda melhor na ponta da língua quente esfregando na minha.
Afastei-me contendo a vontade de tê-la montada em meu quadril. Respirei fundo, mantendo a calma.
A primeira gota da chuva caiu na ponta do meu nariz, o que me fez sorrir contente. Afaguei o rosto de Eva absorvendo o calor na ponta dos meus dedos.
— Escolha uma música — sussurrei.
A vi unir as sobrancelhas, confusa.
— Por que?
Rolei os olhos, brincalhão.
— Por favor, uma música que gostaria de dançar.
— Ah. Er… deixe-me pensar.
— Okay.
Aguardei ansioso, no tempo em que ela parecia se esforçar para escolher, mas logo a resposta veio.
— Home, Michael Bublé.
Outro trovão no céu ecoou entre as árvores da pequena Ilha. As gotas podiam ser ouvidas espatifando no chão e na água.
— Ótima escolha.
— A gente tem que ir. Vamos tomar toda essa chuva, Tae!
— Pois é.
Levantei-me lhe estendendo a mão.
— Dançar na chuva. Eu te disse, anjo.
Eva arregalou os olhos.
— Tá falando sério?
A chuva aumentando.
— É o nosso momento — meu cabelo e roupa começam a ficar ensopados.
Ela segura minha palma com firmeza. A vejo soltar os cachos que amolecem com o contato da água caindo do céu. Seu vestido amarelo colado e enrugado no corpo.
Com alguns passos nos afastamos da toalha do chão. Gentilmente a tomei em meus braços.
— Você disse que choveria. Não estou acreditando.
— Tudo por você, meu amor.
Encostei a testa na dela e cantarolei da melhor forma que pude, a canção escolhida. Ela moveu-se primeiro: um balançar calmo no ritmo exato.
Assisti as gotas escorrendo pela face, por suas pequenas estrelas, atravessando os lábios levemente corados, descendo para a ponta do queixo.
Havia fogo em seu olhar. Ela me segurava tão perto, os dedos presos no tecido molhado da minha roupa.
— É como estar em casa. Bem aqui, nos seus braços — sussurrou para mim.
— E você volta para mim.
Nossos momentos juntos, por mais longas que fossem as horas, nunca seriam o suficiente.












O Vê Em Vênus | kim taehyungOnde histórias criam vida. Descubra agora