Capítulo 21

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Vance - Junho de 1977


Nicholas me acordou cedo para irmos buscar os Hidalgo, ele havia telefonado para a casa da tia deles, nem imagino como vai ficar a conta de telefone no final do mês, nosso pai não estava em casa, então meu irmão preparou um dos melhores cafés que eu já poderia ter comido na minha vida.

Tinha pão e algumas torradas com geleia, além de café, que ele gostava e achocolatado para mim, só que a quantidade de coisas chamou a minha atenção.

─Não gastou muito comprando?─ Pergunto o olhando, Nicholas sorriu um pouco e ergueu os ombros enquanto sentava ao meu lado e passava uma das geleias no pão.

─Só quero que você se sinta bem, a sua namorada está voltando...─

─Ela não é minha namorada─ Digo o olhando, meu anel começou a ficar um amarelo claro, enquanto o de Nicholas ficava um azul bem escuro, ele começou a rir e tomou um gole do café, revirei os olhos e terminei de comer.

─E eu sou uma fada... O que acha de antes de elas chegarem, nós arrumarmos essa casa?─ Ele pergunta passando a mão pelo meu cabelo e bagunçando, bato novamente na sua mão, mas olhando o estado da nossa sala e como provavelmente o quarto de nossos pais estavam, assenti. 

Nesse tempo que Carmilla e Lenore estavam fora, Nicholas passou bem mais tempo comigo, fomos ao Granbgo quando ele estava de folga ou tinha tempo, comprava fichas e algumas das histórias em quadrinho para mim, almoçamos em alguns restaurantes baratos, mas que eram gostosos, eu gostava daquele tipo de carinho que meu irmão tinha por mim.

Algumas vezes quando estávamos saindo eu via uma van preta passando, mas como muitas crianças faziam aniversário, não me importei muito.

Nicholas ligou a rádio no canal que tocava o tipo de música que gostamos, então começamos primeiro pela sala, peguei algumas das garrafas de cerveja que nossos pais deixavam espalhadas, meu irmão conta que nosso pai começou a beber antes mesmo de minha mãe ficar grávida de mim e que isso nunca tinha sido um problema para ela. Eu achei que eles tinham sido melhores na criação do meu irmão.

Mas estava errado.

Nicholas era mais velho que eu uns 6 anos, foi nesse período que os Hidalgo se mudaram para o lado da nossa casa, eu tinha apenas um ano então não lembrava de muita coisa, ele me contou que uma vez nosso pai bateu nele tão forte e ele chorava tão alto que o sr. Felipe ligou para a polícia.

Meu pai pegou bastante raiva dele, mas continuava batendo no Nicholas sempre que dava, quando eu tinha 5 anos e bati no menino que quebrou a boneca de Carmilla, nosso pai ficou irritado e me bateu, foi uma das primeiras vezes.

Se nascemos em um lar violento, nos tornamos assim, pelo menos foi o que eu entendia por mim ali, já Nicholas... Ele era diferente, sempre calmo, mesmo quando papai estava segurando o cinto e gritando nele com aquele bafo de cerveja, foi graças ao meu irmão mais velho que eu não tinha tantas cicatrizes, ou que eu pelo menos me sentia um pouco amado naquela casa e não fugi.

─O que foi pirralho?─ Nicholas pergunta me olhando, acho que eu parei de jogar as garrafas no lixo enquanto pensava nele, neguei um pouco com a cabeça e voltei a limpar.

Depois de limparmos a sala, fomos para os nossos quartos, tirei muitas das coisas que não gostava e coloquei a foto de Carmilla com sua família no porta retrato que eu tinha com Nicholas, era uma foto nossa quando estávamos em uma das apresentações do dia dos pais, ele havia ido me ver, meu irmão deveria ter uns 18 anos e eu tinha 12, estava emburrado porque não queria nem fudendo ficar perto dele.

Mas ele estava sorrindo, com a metade do cabelo pintada de preto, coisa que ele mantém até hoje, seus olhos verdes ainda estavam brilhantes, talvez ele tenha ficado chateado pela forma que eu agi com ele, mas mesmo assim ficou do meu lado e agradeceu a professora quando ganhou o presente que eu não quis entregar a ele.

Devo ter perguntado porque o papai não foi e ele disse que era pelo trabalho, mas depois de um tempo eu entendi, ele só não queria ir.

Também tinha outra, ele havia sido chamado para um barzinho com os amigos e ele não queria me deixar sozinho em casa e nem de noite jogando pinball, Nicholas tinha vergonha de pedir ajuda para os Hidalgo, então me levou junto, ele usava uma bandana vermelha e me fez tirar junto com ele a foto.

Acho que se eu amasse alguém com todas as minhas forças, seria o meu irmão, Carmilla viria como prioridade em segundo lugar, era errado pensar assim?


-X-


Carmilla veio correndo até mim, mesmo sem se importar com o aviso de Catrina para não correr, ela me abraçou e sorriu, Nicholas abriu os braços quando Lenore foi até ele, os dois deram um selinho e continuaram abraçados, fiquei um pouco relutante de abraçar Carmilla do mesmo jeito que os outros dois, mas passei meu braço em volta da cintura dela e olhei a mesma, que ficou com as bochechas vermelhas.

─O que vocês acham de ficar e jantar lá em casa?─ Felipe pergunta sorrindo para nós dois, olho Nicholas um pouco em dúvida.

─Se não for incomodar, o sr. Hidalgo─ Nicholas responde abrindo um sorriso, o mais velho de nós nega com a cabeça e sorri.

─Não vai, aproveitamos e conversamos sobre o que quer que esteja acontecendo aqui─

─Pai!─ Lenore e Carmilla dizem em unisom. 

Má reputação - Vance HopperOnde histórias criam vida. Descubra agora