Capítulo 23

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Vance - Outubro de 1977


A primeira discussão é sempre bem estranha, normalmente as pessoas dizem que elas foram por qualquer coisa, toalha na cama, não respondeu a sua ligação, fez merda, saiu sem falar nada, mas acho que nenhuma pessoa vai pensar em discutir por causa da fantasia do halloween.

Carmilla queria ir de anjo.

Eu queria cumprir o apelido dela e ir de vampiro.

Quando mais novo achava que pedir doce era uma coisa inútil, mas não pude resistir a cara de Carmilla quando ela me disse que estava ansiosa para sair comigo e pedir os doces, seu aniversário foi no dia 21 de Setembro e ela ganhou de sua tia do Equador um conjunto de asas e até mesmo a aréola, Carmilla ficou tão animada que pediu um vestido branco a Lenore, que o fez no maior grado.

─Mas eu não quero ir de vampira, eu já disse, temos o tempo todo do mundo para usar essa fantasia... Acha que eu não sei que quer brincar comigo?─ Ela pergunta balançando a dentadura de vampiro na sua mão, Lenore comprimi os lábios segurando a risada, sua mãe estava enchendo algumas das tigelas com os doces que queria entregar e não estava prestando atenção na discussão.

─Meu amor─ Seu pai interviu abaixando o jornal, que ao invés de estampar a foto de Griffin, estampava a foto de uma menina que foi morta por um assassino, aparentemente ele fazia diversos ataques e suas vítimas tinham um padrão. ─Por que você não vai de anjo e ele vai de vampiro? No baile da escola vocês combinam de ir combinando─

Carmilla olhou o pai e depois me encarou, eu acabei não aguentando e cai na risada, depois de um tempo ela abre um sorriso e assente.

─Então você vai na sua casa e eu me arrumo aqui, aí nos encontramos aqui─ Ela diz sentando ao meu lado.

─Só tomem cuidado, eu sei que esse assassino e esse sequestrador estão "longe", mas mesmo assim mantenham cuidado─ Catrina fala voltando até onde estávamos e beija o topo da cabeça da filha, Nicholas havia falado alguma coisa semelhante para mim todas às vezes que eu saia sozinho, mas não me preocupava muito, afinal podia bater nele e me defender.


-X-


Carmilla estava linda de anjo, tudo parecia combinar, talvez porque ela realmente parecesse um, inclinei a cabeça para o lado sorrindo um pouco, conviver com a mesma durante todos esses anos me deixava cada dia mais parecido, porém agora que tínhamos alguma coisa palpável, eu estava dramático como ela.

A morena sorriu a mulher que acabou pedindo os doces e desceu as escadas vindo na minha direção, coloquei a mão em sua cintura e começamos a andar para a próxima, Nicholas que ajudou na minha maquiagem, então provavelmente não estava nenhum pouco bom. Só que eu não me importava com isso, o bom era ver a felicidade dela, pedimos mais doces e fomos até a praça que estava iluminada e com diversas barracas de halloween.

Era como se fosse um evento, todos saíam fantasiados, pediam doces ou travessuras, poderiam se encontrar na praça e trocar o que conseguiram, ou ir em uma das barracas e brincar, o prefeito sabia bem o que estava fazendo sempre que fazia isso, Carmilla abriu um dos tabletes de chocolate e comeu, assentindo com ênfase.

─Nem deve ser tão bom assim─ Falo chamando a atenção dela, que desvia os olhos da barraca e corta um pedaço, me entregando.

─Chocolate é bom, sabia que era plantado aqui na América latina e aí podia ser usado como moeda de troca? Acho que foram os Astecas, então os europeus chegaram e resolveram levar para a Europa, colocaram açúcar e chegou no chocolate que é usado hoje─ Carmilla conta me olhando, assinto um pouco e coço a ponta do meu nariz a analisando.

─Você tem muitas curiosidades históricas vampirinha─

─Meus pais tem um livro que fala sobre essas coisas, eu gosto de ficar vendo, alguns se divertem assistindo filmes de terror, outros lento curiosidades e assistindo filmes ruins─ Ela diz sorrindo um pouco enquanto comia outro pedaço, balanço de leve a cabeça dela. ─Ai─

─Temos que assistir O homem de palha, podemos ver hoje, é halloween, acho que vai combinar com a data─

─Pode ser─

Em uma das barracas começou a tocar uma das músicas de Embalos do sábado a noite, ela se chamava "If I can't have you" e acho que tocou em uma das cinco que tivemos o nosso primeiro beijo, desviei os olhos da barraca e observei Carmilla, que começou a ficar avermelhada pela vergonha.

─Carmilla─ Eu a chamo, passando a mão pelo seu cabelo e deixando uma das mechas para trás, ela me observou atentamente.

Eu já disse o quanto amava os olhos dela? Ou como quando ela ficava nervosa piscava demais e parecia estar transmitindo uma mensagem que ninguém fazia noção?

Eu gostava muito.

Eu gostava muito dela.

─Eu gosto de você... Quer namorar comigo?─ Pergunto, Carmilla piscou bem mais vezes e engoliu seco, olhando ao redor um pouco envergonhada, então se aproximou mais de mim e colocou uma das mãos perto da minha orelha, como que para impedir que outras pessoas escutassem.

─Também gosto de você, Vance, desde muito tempo.... Aceito sim─ Ela diz se afastando e sorrindo.

Eu guardaria a imagem dela assim para sempre, mesmo que fosse velho iria ter ela na minha mente.

Continuamos conversando, consideramos o anel do humor o nosso de compromisso, estava feliz, entrelacei a minha mão com a dela.

Má reputação - Vance HopperOnde histórias criam vida. Descubra agora