Sabe de nada...

I

Fui eu quem o recrutei, e assim o fiz por que era um jovem direto, observador, detalhista e parecia ser dedicado. Estávamos em busca de um novo talento que, dando certo, me substituiria e permitiria que eu "seguisse o baile" na empresa.

Já fazia 3 anos desde a primeira vez que o vi, e sempre enxerguei ele como um novato, além disso ele é mais novo do que eu.
Por ser sua superior nunca pensei em nada, e estava namorando outra pessoa, que no fim se mostrou um canalha.

Namorei com Will por quase 2 anos, também o conheci na empresa, mas
trabalhávamos em áreas diferentes, eu na área de marketing e ele na área de pesquisa e desenvolvimento.

Pra mim estávamos vivendo um "conto de fadas" e estava me preparando pra lhe dar a chave do meu apê em um claro convite pra juntarmos as escovas de dentes no mesmo copo.

Quando fiz aquela faxina, dividi meu guarda roupa, comprei cômodas, jogo de cama novo e tals e já tinha até ligado o aromatizador de ambientes, resolvi sair pra comprar umas cervejas na adega do seu Severino, duas quadras pra baixo de casa.

Quando virei a esquina vi Will aplicando uma Mina como se fosse um reboco na parede de um beco escuro... Rolou chapisco, desempenadeira e os caramba, e língua que ia e língua que vinha, as blusas estavam levantadas, e os seios dela sob o sutiã de renda transparente roçava o peito moreno dele.

A ereção dele era evidente na calça jeans justinha.

Ela estava encaixada nele, como se estivessem dançando um arrocha, ela estava de mini saia e se esfregava na coxa dele.
Um carro passou iluminando a cena ainda mais, e percebi que quando ela recuou para a parede no movimento de ida havia uma
mancha na calça bem onde ela estava repetindo a esfregação.

Mas, o pior para mim foi perceber que na mão dela brilhava uma aliança na mão direita, que parecia um bambolê.

Olhei para a mão de Will, e ele também tinha uma, só que a dele estava na mão esquerda.

Demorei uns 5 minutos pra entender...

5 minutos de gemidos, da mancha aumentando, de língua que vai e volta...

Will era casado, namorava comigo e estava "comendo" uma mina que tinha um noivo em um beco, do lado do boteco mais perto da minha casa.

Era isso mesmo?!
NÃO era possível!

Fiquei sem reação.

Um turbilhão de coisas passava na minha cabeça, queria gritar, e fazer um escândalo, mas isso não mudaria os fatos:

1. Eu continuaria a corna da história.
2. Ele continuaria sendo o fodão.

Então quando percebi que os gemidos estavam virando gritos, dei meia volta e me arrastei pra casa.

O fim de semana passou em um borrão, literalmente, e não consegui ir trabalhar na segunda, tive uma crise de ansiedade pensando em encontrar o infeliz na empresa, e acabei trabalhando de casa mesmo, em meio a músicas de sofrencia, uma panela de brigadeiro, e no final do dia pedi um delivery de bebida, e bebi até cair.

Na terça não fui presencial de novo, sem chance com minha ressaca e dor de cabeça.
Só apareci na quarta na empresa.
E tal como o Coringa, vesti minha melhor
mascara...

Uma make pesada as 7 da manhã: 10kg de base e corretivo, delineado preto grosso, cílios e batom vermelho, um look preto com direito a saia de couro tipo secretaria (estilo Lucy Liu em As Panteras), blusa de gola alta preta e um scarpin vermelho.

Não abri um sorriso.

Cumprimentei as pessoas apenas com um aceno. Percebi que as pessoas cochichavam, comentando a roupa, os saltos, a maquiagem e meu humor. Mas, quando entrei no departamento e meus olhos se cruzaram com Alex, vi que ele tinha um lápis preso nos lábios perfeitamente desenhados - falei pra ele várias vezes ser modelo de
batom - e sua reação foi genuína: o lápis simplesmente caiu, seus olhos se arregalaram e ele parecia não acreditar no que via.

Nesse momento, e apenas para ele, em resposta a sua reação, eu sorri.

O efeito disso foi mais interessante ainda:
Alex engoliu em seco, e tocou o pescoço com suas mãos longas e pálidas.

Não sei por qual razão, mas sinto meu âmago gritar em êxtase, no meio desses 4 dias de muito choro e autodepreciação, alguém estava sendo afetado por mim.

Por mim!

Sem perceber me aproximo de Alex, e quando estou a uns bons 30 centímetros dele, percebo que ele prendeu a respiração e olha fixo pra mim.

- Bom dia, você está bem? - pergunto olhando fixo em seus olhos e tocando seu braço.

Sob a camisa azul clara sinto seus biceps enrijecerem. Ele engole em seco e acena afirmativamente.

Sorrio levemente e me dirijo a minha mesa exatamente oposta a sua, quando ligo o Pc percebo que ele continua a olhar o vazio que deixei.

O que será que está passando na cabeça dele hoje?