XX

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Liz

Um trovão retumba nos céus, e um raio corta a janela do quarto iluminando nós dois.

Um arrepio corre minhas costas e acabo dando um pulo no sofá.

Alex abre um sorriso, mas se mantém impassível.

Faço um sinal para que ele se sente próximo a mim, e ele caminha lentamente até onde indiquei, mas acaba por se sentar mais longe do que eu queria, e o breve espaço entre nós, me deixa com uma sensação de vazio indescritível.

- Alex... – Começo a dizer, mas percebo que sua mandíbula fica mais evidente e sei que ele está forçando seus dentes em expectativa, parece apreensivo e esperando que eu fosse manda-lo embora a qualquer momento. Um misto de preparação para discussão e decepção molda sua postura, e presto atenção de verdade nele.

Agora no fim da luz do entardecer, com o barulho da chuva de fundo, e nós dois um olhando pro outro. Só. Nós. Dois.

Não precisava avaliar muito sobre sua aparência para saber que tudo o que Júlia tinha me contado era verdade, e o quanto eu havia testado esse rapaz. De repente aqueles olhos piscaram para mim, e vi que ele sinalizava para que eu continuasse a falar. Que Deus me ajude!

- Alex, eu amo você!

Outro trovão e mais um relâmpago. Dessa vez fiquei imóvel.

Observei sua expressão atenta mudar para confusão, um pouco de descrença e talvez esperança. Depois a compreensão...

Eu não estava vacilando... não estava mentindo.... não estava voltando atrás.

O que eu tinha dito era real.

Era a verdade que eu não queria encarar, e que de repente tinha se tornado grande demais para esconder.

Em um milésimo de segundo ele voa até mim, e me toma em seus braços e faz minha boca sua escrava, nossas respirações se tornando cada vez mais irregulares, e seu corpo, sua alma rugiam a pergunta de seu coração: É verdade? Posso acreditar em você?

Deixo que ele veja tudo de mim, e quando nos separamos, ele tem a certeza.

- Por que você demorou tanto? Tem ideia de quão torturante tem sido tudo isso? Achei que nunca ouviria essas palavras de você... – Ele me cobre de beijos e carinhos.

- Não consigo mais evitar, esconder ou mentir para mim mesma. Como uma amiga disse: Coragem.

- Que amiga é essa? Preciso comprar um presente pra ela....

- Você a conhece muito bem...

- Conheço?

- Sim... É a Júlia.

- A Júlia?!

Aceno a cabeça em concordância e começo a contar todas as nossas conversas, e como chegamos até ali. Alex está ao mesmo tempo agradecido e enfurecido com ela, e não espera muito mais de minhas explicações para ligar e ralhar com ela.

Enquanto isso, estou com fome, e opto por pedir uma massa para dois. Aproveito para ir tomar um banho, enquanto ainda o ouvia dizer que vai estender a visita por uns dias a mais. Começo a me perguntar como faríamos isso...

Namoraríamos a distância?

Como nos resolveríamos?

Eu ainda ficaria por aqui por pelo menos mais um ano, pelo menos era o que Nora queria, assim quando eu voltasse ao Brasil eu já teria experiência suficiente para assumir uma posição de maior destaque.

Não sei se eu aguentaria passar pela experiência de namorar a distância, ou se sequer estaria disposta a fazer isso. Era muita dor de cabeça, e a saudade era grande demais, sentia como se mal tivesse agarrado algo extremamente precioso, já tivesse que soltá-lo.

Ao perder-me nesses pensamentos obscuros não notei que Alex estava ali no banheiro, simplesmente encostado na pia observando meu banho.

- Posso me juntar a você? – sua voz é rouca e arrepia toda a minha pele, deixando meus seios entumecidos.

- Acho que não preciso de uma confirmação... – diz ele erguendo a sobrancelha.

Quando ele entra no chuveiro, a temperatura sobe mais do que o devido e sou obrigada a reduzir a temperatura da água, de repente o sabonete é substituído pela língua dele, e todas as minhas preocupações desaparecem no mar de sensações que invadem meu corpo.

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Alex acabou por ficar comigo por mais uns 15 dias, ele pediu um adiantamento de férias, o que foi maravilhoso, pudemos conversar sobre tudo, e eu me permiti ser o mais honesta que consegui. Falei sobre minhas inseguranças, sobre meus medos, meus sonhos, e ele sobre os dele.

Percebemos que ambos queriam a mesma coisa: queríamos que desse certo! Ainda que fosse a distância, ainda que tivéssemos que fazer alguns sacrifícios, e na teoria tudo parecia muito cor-de-rosa.

Alex tinha me contado que durante aqueles dias em que ele estava mal, tinham acontecido várias coisas na família dele, começando pela Vanessa que estava conhecendo um cara novo, e depois de alguns encontros ele tinha sido um babaca com ela, ao dizer que não se relacionava com "mães solteiras" porque ele achava que era muita "responsabilidade", e que elas estavam procurando um "pai" para assumir os filhos. Isso a deixara profundamente magoada, pois no caso dela ela tinha conseguido perder os dois, o noivo que amava e o filho que carregava.

Como ela era muito reservada, isso acabou servindo de gatilho e ela teve uma recaída, fechando o ateliê por umas duas semanas. Foi necessário um esforço de família para aos poucos conseguir tirar ela do lugar de dor em que esta acabou caindo novamente.

Ele tinha ficado tão puto com o cara, que acabou procurando o imbecil que estava com os amigos em um dos barzinhos da cidade, bebendo e postando stories como "macho-alfa" "heterotop" curtindo a night. Segundo Alex, ele acertou um soco no idiota, e só não continuou, porque os coleguinhas dele apartaram a briga.

Para ele ver sua irmã relembrar toda a perda e dor, era como se doesse nele mesmo, e ainda tinha o agravante de ter eu para complicar ainda mais as coisas. Ele detestava que as coisas estivessem fugindo do seu controle, e a impossibilidade de fazer qualquer coisa o deixava louco.

Contudo, pelo menos com a irmã ele tivera algum sucesso, e quando Júlia apareceu para conversarem ele sentiu que precisava também voltar a ser ele mesmo. Na minha cabeça eu agradeci a Júlia mais uma vez.

Poucos dias antes de finalizar as férias de Alex fizemos um call com a família, e fui "apresentada" como namorada oficialmente. Fiquei meio sem jeito de que esse primeiro contato acontecesse assim, a milhas de distância, mas ele me assegurou que isso era coisa da minha cabeça, e que quando estivesse no Brasil isso não importaria em nada.

A lua-de-mel chegou ao fim e Alex retornou ao Brasil.

A sensação de vazio e saudades me consumiram, e por muito pouco eu não larguei tudo e corri atrás dele.

.....

Mas...

Eu sabia, e ele também, que no fim do dia eu ainda escolheria continuar trabalhando, ainda escolheria minha carreira. Já disse Lady Gaga: "Se você está se perguntando em qual direção seguir, lembre-se que sua carreira jamais acordará de manhã e dirá que não te ama mais."

Além disso, combinamos de nos ver de novo em 6 meses.

Vai dar certo!

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Sabe de nada...Onde histórias criam vida. Descubra agora